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Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil
Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

ATRASADO, MAS AQUI.


São as tais promessas de fim de ano. Aquelas que a gente faz quando dá três pulinhos, vira de costas, salta sete ondas no mar, faz saudação a Iemanjá, reza um Padre Nosso, por via das dúvidas consulta o Preto Velho, faz uma fezinha na numerologia e joga pra trás sei lá quantos caroços de romã.


Por alguns instantes, talvez pelo brocado jurídico "actio libera in causa", a gente finge ter uma fé inenarrável. Em tudo. É como se, a partir daquele instante, nada mais será como antes e o mundo abrirá suas portas para todos os nossos desejos, por mais estúpidos e implausíveis que sejam.


Aí, vem o dia seguinte. E, com ele, o mistério da transmutação - ritual dos sacerdotes egípicios, mestres da alquimia e amigos íntimos de Eliphas Levi, que colocavam os pobres discípulos a mexer, sem parar, o chumbo derretido nos caldeirões, até que o goleiro do time de botão virasse ouro - vai pro vaso sanitário, junto com restos imorais de pernil, coágulos de champagne, caroços de romã e uma bruta dor de cabeça.


Afinal de contas, como transmutar champagne francês em Engov; e cafezinho em Plazil é um dos mistérios ainda  não decifrados.


Eu, à parte de tudo isso, não bebo nada. Tive fé, ao longo da vida, mas a perdi em algum lugar no trajeto entre o cemitério e a garagem do efício, na Rua Andrade Neves, depois de enterrar a minha mãe.


É estranho sentir na carne a experiência vivida por Krishnamurti, mas é ao mesmo tempo muito bacana. Krisshnamurti não escrevia livros. Fazia palestras, apenas e, quando muito, permitia que se as gravassem e as trascrevessem. Uma destas transcrições veio parar nas minhas mãos, encaminhada por um grande amigo e, então, mentor espiritual. O Falcon.


O nome do livro de palestra era "Transformação Fundamental" e baseava-se, integralmente, no momento em que se atinge o vazio completo: a 'grande nostalgia'. Krishnamurti, um indiano órfão, ainda criança, fora levado para Londres e lá iniciado pela portentosa escritora, filósofa e teólogola Helena Blavatsky, conhecida como Madame Blavatsky.


Sobre a 'grande nostalgia', eu precisaria encher um volumoso livro inteiramente com páginas em branco, pois vivê-la é, essencialmente, despojar-se de todo e qualquer sentimento, de toda e qualquer crença, seja lá no que for. Porque, segundo a tutora de Krishnamurti, só descrendo de tudo, por completo, se pode crer verdadeiramente em Deus.


Pode parecer-se um pouco com o Paradoxo de Hawking, mas o princípio tem um meio interessante e um fim, infelizmente, um tanto intangível. De qualquer maneira, o Falcon, de certa forma e por um certo tempo, foi a minha Blavatsky. Não posso negar isso.


Valter Vicente Lopes Pereira Gonçalves, seu nome verdadeiro, era mesmo um super-herói, pousando às vezes de Bom-Bril, outras vezes de anjo da guarda. Além das suas mil e uma utilidades, como homem de propaganda e profissional de criação, foi um grande amigo. Um cara incrível, que aparecia, inexplicavelmente, sempre, nos momentos realmente difíceis, nos lugares mais estranhos e improváveis. Se você não tivesse outra saída, ele aparecia do nada.


Em julho ou agosto de 1984, eu namorava uma moça, cuja irmã, namorava o irmão dele. Não nos conhecíamos, mas ela sempre me dizia que eu tinha que conhecê-lo. Assim, numa noite qualquer de 84, lá fomos nós à casa dele, em Jacarepaguá, onde, finalmente, fomos apresentados e nos tornamos amigos inseparáveis.


Libriano como eu, nascido no dia cinco de outubro e eu no dia doze, não foi difícil encontrarmos afinidades. Música, esportes, cultura em geral e, finalmente, propaganda. Foi ele, quem olhou pra mim e disse que eu deveria largar o que estava fazendo e me tornar publicitário.


Foi ele, quem me levou para a Artplan, quem me apresentou diretamente ao Roberto, ao Nizan, ao Abréa e a toda a galera da criação.


Eu fui pra lá para prestar uma consultoria sobre os festivais de rock. Eu não fazia a menor idéia de que me tornaria, em pouco tempo, membro da equipe de produção do Rock In Rio e, posteriormente, redator publicitário. Mas isso é outra história.


Falcon não está mais aqui. Mas eu estou. Para agradecer pela amizade, pela brothagem, pelo carinho. Para elogiá-lo e para criticá-lo também, embora não vá fazê-lo.


Juntos, iniciamos um círculo de magia branca e logo o grupo foi crescendo, crescendo, até tornar-se um clube de gente muito boa, que conviveu e experimentou coisas inexplicáveis, como situações de saída do próprio corpo, em viagens astrais. Mas passou.


Um dia, novo ainda, ele morreu, a vida seguiu e cada um de nós trilhou o seu caminho. O meu, sempre divertido e improvisado, voltou-se para a propaganda, para o rádio e para a produção músical. Outros tornaram-se empresários, alguns não tiveram sorte, outros muita. 
Mas o resultado é um só. Tudo não passa de uma grande ilusão. O ego é um ledo engano. Nada muda, no espaço, no cosmo, no céu ou na terra, se não você não mudar. E mudar-se a si próprio é complicado, porque não significa sair de uma posição e ir para outra. Mas sair e ponto.


Por isso, para mim, pelo menos, fica muito claro que nada muda no mudar do ano, nem depois que se morre ou que se sobrevive a uma situação de morte.


A vida é apenas uma fria manifestação natural, impessoal e linear. Não há espaço para sentimento algum, quando se atinge o estado da 'grande nostalgia'. Nada de pena, saudade, justiça, injustiça, ódio. Não existe alegria nem tristeza.


Na verdade, se bem que a verdade também não existe, a gente não vive. A gente só faz parte da natureza. Nada aquém, nada além. Nada acima ou abaixo.


Observe a sua volta e veja se a natureza se importa com os mortos e com desabrigados pelas enchentes. Não há atitude solidária da natureza, nos terremotos nem nos furacões. 
Nada.


A natureza é natural, sem overdubs e sem efeitos especiais. O resto todo é a gente que inventa. E inventa, na tentativa de amenizar a própria impotência diante da finitude.
Harrison escreveu que "todas as coisas têm que passar". Não têm: passam.


Não há como segurar a água do rio, não há como calar ou sufocar a voz da nossa consciência. Intimamente, somos ar, água, fogo e terra.


O consciente é um penetra nessa festa bizarra; um clandestino no navio do destino; um agente terrorista infiltrado no avião.


Não. Não importa o que você prometa à meia-noite do dia trinta e um. Não importa nem que você cumpra as promessas que faz. Tanto faz. Nada vai mudar o curso natural da vida. 


Os dias continuarão, chuvosos ou ensolarados, a apresentar o mesmo repertório de sempre, com suas guerras e seus de avanços científicos; nos seduzindo com sensações de alegria e nos desestimulando com aborrecimentos. Surpresas e desilusões; desejos e frustrações; vontades e esquecimentos são coisas nossas. E só nossas. Cabe a nós cuidar deles, para que não se tornem nossos mitos, ou pior, nossos padres, bispos, guias e gurus.


Não há nenhum Deus Pai para administrar o seu condomínio interior. Ele não liga a mínima para o que está acontecendo com você, simplesmente porque Ele lhe deu um cérebro, um corpo e você caiu na cilada.


Ao ter sido dotado de um lobo frontal e equipado com o polegar opositor, passam a ser suas as escolhas e igualmente suas as responsabilidades.


O livre arbítrio, embora a mim me pareça outra grande bobagem criada pelo homem, nos dá a falsa e esquisofrênica sensação de poder, nos tornando, por vezes, egocêntricos, egoístas ou pior, ególatras.


No final da brincadeira, somos vítimas dos nossos próprios pseudos poderes. E perdemos a noção do nada que nos cerca. 


Eu, por mim e por tudo isso, com todo o respeito que me merecem, o meu querido filho e os meus queridos amigos Christina, Cássia, Beni, PV, Cesar, Amaury e tantos outros, na boa, preferia ter passado o Natal e o Reveillon na minha casa, no alto da serra de Petrópolis, debaixo daquela chuva toda, ora recebendo uma visita mais íntima ora me despedindo dela para retomar o sossego que lutei tanto para conseguir.


Sei lá. Dizem que o diabo não é o diabo porque é mal e sim porque é velho. E eu, sinceramente, acho que a gente não faz cinquenta e sete anos à toa. É muita bagagem, digo, bobagem, que, se jogada, entala e não desce pela lixeira do prédio. São muitos sacos e sacos contendo lembranças vagas de memórias apagadas, que não se biodegradam nos esgotos do inconsciente coletivo. E esse é o maior problema. O que já não nos presta mais, acaba antenando alguém que ainda não viveu aquilo e aí, babou: nada melhora, porque é a própria alegoria do cachorro correndo atrás do rabo.


Eu, deprimido?


Nada. Eu tô ótimo. Se melhorar estraga.


Não nego que ainda meio em choque por causa de um erro de português que cometi no trabalho, na última semana do ano e que, graças ao Google, eu mesmo consegui reverter. Mas tô muito bem sim, embora consciente de que não tenho corpo nem saúde pra viver tanto quanto um Roberto Marinho ou um Niemeyer e de que o futuro já é bem menor, em fração, do que o passado.


Mas isso, cá pra nós, tirando o que vou perder de tecnologia na web, não é tão ruim assim.


Andei remexendo caixas e armários em Petrópolis. Encontrei relíquias imprestáveis e fui jogando tudo fora. Com elas, com certeza, parte do meu passado emocional - ou terá sido o sentimental? - foi-se.


Pilhas de folhas papel rabiscadas com trechos de poesias medíocres inacabadas, escritas para mulheres, provavelmente, burras; bilhetinhos graciosos, que acompanharam cestas eróticas de cafés da manhã; cartões sedutores dos dias dos namorados, de namoradas já defuntas; algumas calcinhas (in)decentes esquecidas propositalmente no fundo do armário; uns belos baby-dolls rendados e outras coisas do gênero.


Mas, confesso que nem tudo foi pro lixo. Guardei uma outra parte de tudo isso. Não na memória, mas em outras caixinhas e personalizadas. É legal, por exemplo, rever o DVD, Up, do Peter Gabriel e saber quem me deu. Ou, deixar rolar com outra pessoa um par de dados eróticos, sem o menor peso na consciência ou, ainda, rever algumas fotos, por questões estéticas e de gratidão.


Não posso me queixar. E olha que passei o pão que o diabo amassou, ao longo destes dez últimos anos. Mas, na boa, minha vida, até aqui, foi vivida, eu diria, no meio de um caos delicioso de sexo, sem drogas, com muito rock'n'roll. Chega a ser engraçado olhar para a adega improvisada no velho carrinho de chá, herdado do meu pai, e ver que permanecem lá, intactas, dezenas de garrafas de vinhos importados, caros, de safras especiais, quando eu simplesmente não bebo, a não ser Coca Zero.


Quanta bobagem. O que o macho não faz para seduzir a fêmea, não é mesmo?
Outro dia desses, encontrei um lindíssimo par de scarpins grená, de saltos altíssimos e bicos finos, dentro de um saquinho de pano, griffado, daqueles típicos para se guardarem pares de scarpins grenás, de saltos altíssimos e finos. Número trinta e sete. Mas eu não jogo nem no bicho.


Solidão nada. Não estou sozinho. Jamais estou estou sozinho. Estou sempre comigo. 
Acabaram-se, sim, as permanências, as hospedagens, por mais de dois dias e duas noites. O espaço, que antes era ocupado por mesinhas, estantes, porta-retratos e objetos de decoração, agora pertence ao estúdio. Uma bateria completa, montada, que está sempre pronta e ávida por um groove bacana. Em frente a ela, um teclado e, em cima dele, na parede, um violão. Na mesa, o PC, as torres com os milhares de CDs, LPs, Dats, fitas de rolo, VHSs, uma geladeira, o colchão de casal, uma geladeira novinha, internet, telefone... quero mais o que?


Aliás, o velho violão é o mesmo que me ajudou a compor tantas canções de amor, alegria e sofrimento pelas mulheres fatais que passaram pela minha vida e pisaram no meu chão. No chão do meu coração.


Não fiz uma lista formal de todas as namoradas que tive. Não usei Word nem uma folha de papel. Mas, foi legal ir voltando no tempo, relembrando uma a uma, tentando lembrar do que ficou e o que restou, depois do fim de cada mundo. Sim, porque, pra mim, cada relação que termina é um calendário maia que se encerra. Pra você, não?


Amizade, não vale. Sou craque em manter amizades com as minhas ex. Isso é normal e só não acontece com as que me decepcionaram pelo caráter. Desamar, descurtir, tudo bem. Mas falha de caráter, não rola. 


Paradoxalmente, digo aliviado, que, apesar de tantas, sobrou nada.


Como dizem que sou radical, vá lá, uns três ou quatro por cento de tudo que se investiu, se a gente considerar que são mais ou menos quarenta anos de amor e sexo, discutindo as relações, é nada mesmo.


E, por falar em nada, que fique bem claro. Nada contra as moças, a maioria, hoje, já senhorinhas ou senhoronas. Muito pelo contrário. Foram todas, sem exceção, cada uma, a sua maneira, uma pessoa extraordinária. Umas, extraordinárias para o bem. Outras, para o mal. Mas tudo bem.


E, se há uma coisa da qual tenho a obrigação de me orgulhar é de jamais ter tido um relacionamento com uma mulher mais ou menos.


Isso é muito legal.


Hoje, quando ligo o Yamaha, suas oito caixas de som e começo a ouvir as canções e as poesias de Dylan, ao tocar a batera, com a Coca-Zera, aberta no chão, abro o enorme sorriso da liberdade e sei que não estou sozinho. O velho Dylan está na estrada, com a "Never Ending Tour". Estamos juntos. Long Life rock'n'Roll!


Claro que a vida não acabou. Claro que posso, amanhã ou depois, abrir portas e janelas para o amor, acreditando que será, mais uma vez, para sempre. Não estou abandonando a idéia. Pelo contrário, agora mesmo, não faltam telefonemas e posts para um fim de semana na serra, regado a um bom vinho, degustando um delicioso fondue.
É só virar a ficha em cima da mesa, do lado vermelho, onde se lê "Não, obrigado" para o lado verde: "Sim, por favor".


Escrevo, não releio, não reviso, mas rio muito. Com certeza, muitas das minhas leitoras devem estar odiando este texto, me chamando de velho decrepto, recalcado, machista, arrogante e pretencioso. Para provar que não é bem por aí, embora seja uma gimmick fantástico para gerar novo fluxo de tráfego no blog, hoje, com toda sinceridade, eu adoria se uma moça, em especial, estivesse disponível e me ligasse dizendo: "tô subindo", como fez tantas vezes.


Ia ser divertido, agradável. Haveria paz, harmonia, essas coisas legais que todo mundo gosta e todo casal quer. Mas, felizmente, pra ela, está ocupada, namorando, feliz com seu amor e eu lhe desejo, do fundo do meu coração, toda a felicidade do mundo.


Não se trata-se de uma mulher bacana, especial, como todas com as que eu tive o prazer de estar e conviver. Trata-se de uma mulher ímpar, espetacular, de caráter incomparável, de uma generosidade absurda e de uma lealdade, acima de qualquer parâmetro. Não vou citar-lhe o nome, em respeito ao companheiro dela. Mas, caso por aqui venha, ela saberá que é dela que estou falando.


Seria desrespeitoso, sem ser, ao menos, uma cantada.


Retomando o fio da meada e encerrando este post, o resumo da ópera é que não pude passar minhas festas só, no meu estúdio cafôfico, rodeado de música e tecnologia por todos os lados, como eu tanto queria.


Acabei descendo, aos quarenta e cinco do segundo tempo, do dia vinte e quatro. Vim, passei o Natal com o meu filho queridaço, com a mãe dele, minha ex-mulher, com meus ex-sogros e depois vim pra casa da Chris, que estava na casa dos pais dela.


O Reveillon foi na casa do Marcio, um velho amigo de muitos e muitos anos, na cara do Ocenano Atlântico, bem de frente pra África do Sul, ao lado de outros queridos e, de novo, com o Victor, com a mãe dele e com litros de coca-Zero.


Foi divertido. O convívio social é sempre interessante, quando o conteúdo a ser compartilhado é bom.


Agora, falando sério: não aguento mais essa imunda e encardida cidade maravilhosa. Vir aqui é como ir à Bahia. E olha, que eu nunca fui à Bahia.


Isso me lembra uma passagem que parece até praga. Quando mais novo, eu costumava dizer que ia me casar, assim que voltasse do México. E sempre me perguntavam, quando eu iria ao México. Eu sorria e dizia: jamais.


Acabei indo, por circunstância, meio contra a vontade, mas fui. E não é que acabei casando?

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