Bem, depois de um longo período de afastamento, estou de volta a este blog, onde coloco pra fora os sapos que engulo ou que sou obrigado, por circunstâncias escrotas, a engolir . Ironcamente. É aqui que, espantosamente, recebo comentários comprometedores, de ex-mulheres e de ex-amantes, que se expõem, por livre e espontânea vontade. Não rola e nuca rolou assédio. Respeito o ser humano, por mais bárbaro que seja e é. Não tenho nada com isso. Aliás, hoje, não tenho nada a ver com com ninguém. com quem tinha, deixei pra trás, por leviandade, falta de sensibilidade e putaria mesmo.
Sou do mundo. Permito-me ser do mundo, principalmente depois de acreditar que o ser humano (mulheres, é claro, porque homens, jamais) valia a pena, mas não vale mais.
Infelizmente, hoje, por mera retrospectiva histórica, vejo que não vale mesmo.
Posso afirmar uma coisa. Este blog volta com uma uma gana, com uma raça, com um 'gutz' (quem sabe o que significa, que procure), absolutamente inéditos.
Aqui, a partir de agora, estou disposto a revelar meus segredos de alcova, sem medo de processos.
Meus segredos mais confidenciais, feitos por mulheres desesperadas, em momento de rara lucidez. Sim, é verdade, a maioria das mulheres - não todas - só vivem momentos de lucidez, quando estão desesperadas e famintas de ódio e vingança. vide os casos de política. Eu disse política e não polícia. Ok?
Não, por favor, não pre-julguem,minhas queridas, não se trata de um blog machista.
Poucas pessoas nesse planeta de merda são tão feministas quanto eu. E daí. o planeta de merda. Mas, é verdade. A vida, ao longo desses 60 anos vem me mostrando quanto dos nossos problemas mais significantes são gerados pelo convívio com mulheres fúteis banais, mas muito gostosda na cama.
Nesse ponto os homossexuais (viados, para os mais claros) levam uma vantagem enorme.
Mas, enfim, cá estou eu, misturando Black Label com Rivotril, para dar, novamente, os primeiros passos a este ferro de Blog Blog, que só não enferrujou com o tempo, porque eu sou foda mesmo. Pra caralho. e tive companhias, protagonistas como a Virgínia, as duas Marcias, a rosana, a Léa e mais uma meia dúzia que dormiram aqui. Aqui e lá, no ASCB.
Mas, não estou aqui para falar de Marcias, de Leas, de Rosanas, de Karols. Estou aqui para falar, neste primeiro post de reentrance, sobre a Rádio Dial360.
Quem quiser me dar o prazer de ouvir uma rádio totalmente fora da moda e de qualquer parâmetro ditado pelo mainstream, a oportunidade é essa.
Na www.dial360.com.br você vai ouvir de tudo, desde que tenha cultura de verdade. Por trás de cada de canção, além do óbvio, habita a genialidade. A grade, que estreia oficialmente, em 10 de julho, contará com programas que trafegam nos trilhos mais variados, da Ópera ao pop, passando pelo Reggae, pelo Rock Hard-Core, pela música étnica e claro, pelo SDeus bob Dylan, Afinal de contas, nada sem Dylan tem efeito imediato nas mentes humanas. vamos trabalhar, também com o alternativo, mas com o alternativo, de verdade.
E aí, fala Rosaninha: "Quem é de verdade, sabe quem é de mentira, não é mesmo, querida? Pois é. Pois tudo na Dial360 é de verdade. Nada é fake ou jogado pra galera. Não douramos pílulas, até porque, a maioria delas, hoje, já vem com o prazo vencido,
Não sou um junk falando de rock ou de música clássica. Sou um cara sério, pai de um filho maravilhoso, de 22 anos, que vem a ser, para inveja de muitos e muitas, o meu melhor amigo e confidente.
Quando tomei uma banda, bem dada do grande amor da minha vida ou, se for mais adequado, da grande paixão da minha vida, a inesquecível e insubstituível Kathia - e ela sabe quem é - foi o meu filho o meu único confidente. Foi com ele que chorei, que queria morrer, que fui ao fundo do poço.
De lá pra cá, são todas passatempos e cafés pequenos, diante do que vivi com a Kathia. Mas, enfim, o fato é que aq rádio Dial360 vem para revolucionar o dial na web. Vem para mostrar que a cultura que o PT derreteu, pode e deve ser resgatada, Com tesão, com muita vontade de produzir e fazer bonito.
Quando criei o "Radionor Tum Tum Tum", programa de nome esquisito e improvável, ganhei o prêmio de melhor programa na Web, em 2012, conferido pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), onde, aliás, não conhecia ninguém. E só por isso, a premiação, pra mim, tem valor inestimável.
Agora chegou a vez da 360. Vou botar pra foder, porque sei botar pra foder. Sei fazer rádio. Não sei fazer uma porrada de coisas, dentre elas, como operar um simples apêndice ou construir uma parede ou um muro reto. Isso, já, o João sabe. Mas eu não sei.
E para, fazer rádio, pensar rádio e ter ideias para uma rádio - mais uma aliás -, revolucionária, como foi a Maldita, isso tenho de sobra.
E não serão as mulheres com quem transei, beijei a boca ou amei que vão me impedir, seja por canalhice ou por prazer.
Tive grandes amigas que foram minhas partners, como a Marcia. Mas isso é coisa do passado. No momento estou sozinho. Mas tenho alguém em vista, que se rolar, fará um programa sobre o Mengão. Se não rolar, não rolou. Não importa.
O que importa é a volta deste Ferro de Blog Blog, capenga, abandonado, mas sempre revisitado. Se você o conhece há muito ou pouco tempo, não importa: seja bem-vindo,do mesmo jeito.
Tem Coca-Zero no freezer e biscoitinhos no armário., Entre e fique à vontade
Seja bem-vinda. Ahhhhh, sim, homens não são bem-vindos. Sorry;
Ferro de Blog Blog
Seja bem-vindo ao meu canto. Se gostar, deixe o seu comentário.
Este perfil vale para o Ferro De Bog Blog e para O Caramelo Azul
- Sergio Vasconcellos
- Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil
- Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.
sexta-feira, 3 de julho de 2015
quinta-feira, 12 de junho de 2014
BOM DIA
Dormia bem. Como um príncipe. Não fazia ideia de há quanto tempo. Reinstalara meu Laser-Disc velho de guerra, que, pasmem, ainda funciona lépido e fagueiro.
Desfaleci 'ouvendo' Songs For Drella, de John Cale e Lou Reed (segue link abaixo) e acordei tremendo de frio, batendo queixo e pino. Queria ser alcoólatra e encher a lata com vodka de quinta.
Rearrumei os 4 cobertores, virei pro lado e tentei redormir. Mas em vão. Peguei um par de luvas de lã, calcei-as. E nada. O sono do príncipe se foi. Fui ao Clima Tempo pra ver o que estava acontecendo com a meteorologia aqui na serra: mínima de 12º. Pensei. Não estou acordado. Estou sonhando. Não está tão frio. Têm feito 6, 7º e tenho dormido bem. Mas, nada. Estava - como estou - acordado mesmo.
O sonho acabou. Pelo menos o meu.
Lembro, em fragmentos, que sonhara, em alguns momentos, com você. Quem é você? Sinceramente, não lembro. Me esforço, mas não consigo lembrar.
Tenho um cachecol herdado do meu velho e saudoso pai. Enrolei-o no pescoço, empilhei e espalhei um monte de travesseiros não, necessariamente meus, e tentei de novo. Nada. Nada, de novo. Nada.
Despertei como um soldado ao toque de alvorada e aqui estou. Antes de desabafar meu frio e meu despertar, no entanto, já respondi a alguns comentários, já joguei "Perguntados", fiz um sanduíche de pão francês com queijo de minas, bebi múltiplos goles de Coca Zero pelo gargalo, liguei o rádio na CBN e retomei a leitura de "Davi e Golias", a mais recente manifestação de genialidade do meu autor contemporâneo preferido:Malcolm Gladwell. E o frio? Continua implacável.
Aliás, as manhãs têm, sobre mim, o poder do frio implacável. Aqui em Petrópolis, é claro. Aí, no Rio, seja verão (agora) ou inferno (a partir de dezembro), não.
Caramba! Será que morri como morreram o José Wilker e o Jair Rodrigues? Dormindo? Será que estou no meio do meu caminho, para o inferno e estou fazendo escala no purgatório? Será que o purgatório é frio dese jeito?
E me perguntarão os chatos e os patrulheiros de plantão: "Ué, você não vive dizendo que odeia o calor, que adora o frio? Tá reclamando de que?
Não estou reclamando não. Muitos pelos, ao contrário. Estou celebrando a minha romântica e hipotética morte, à moda do frio, desejando um bom dia a todos, com este textículo vagabundo, mas repleto de bom-humor.
Nota do redator: não esperem isso de mim, no verão...
Desfaleci 'ouvendo' Songs For Drella, de John Cale e Lou Reed (segue link abaixo) e acordei tremendo de frio, batendo queixo e pino. Queria ser alcoólatra e encher a lata com vodka de quinta.
Rearrumei os 4 cobertores, virei pro lado e tentei redormir. Mas em vão. Peguei um par de luvas de lã, calcei-as. E nada. O sono do príncipe se foi. Fui ao Clima Tempo pra ver o que estava acontecendo com a meteorologia aqui na serra: mínima de 12º. Pensei. Não estou acordado. Estou sonhando. Não está tão frio. Têm feito 6, 7º e tenho dormido bem. Mas, nada. Estava - como estou - acordado mesmo.
O sonho acabou. Pelo menos o meu.
Lembro, em fragmentos, que sonhara, em alguns momentos, com você. Quem é você? Sinceramente, não lembro. Me esforço, mas não consigo lembrar.
Tenho um cachecol herdado do meu velho e saudoso pai. Enrolei-o no pescoço, empilhei e espalhei um monte de travesseiros não, necessariamente meus, e tentei de novo. Nada. Nada, de novo. Nada.
Despertei como um soldado ao toque de alvorada e aqui estou. Antes de desabafar meu frio e meu despertar, no entanto, já respondi a alguns comentários, já joguei "Perguntados", fiz um sanduíche de pão francês com queijo de minas, bebi múltiplos goles de Coca Zero pelo gargalo, liguei o rádio na CBN e retomei a leitura de "Davi e Golias", a mais recente manifestação de genialidade do meu autor contemporâneo preferido:Malcolm Gladwell. E o frio? Continua implacável.
Aliás, as manhãs têm, sobre mim, o poder do frio implacável. Aqui em Petrópolis, é claro. Aí, no Rio, seja verão (agora) ou inferno (a partir de dezembro), não.
Caramba! Será que morri como morreram o José Wilker e o Jair Rodrigues? Dormindo? Será que estou no meio do meu caminho, para o inferno e estou fazendo escala no purgatório? Será que o purgatório é frio dese jeito?
E me perguntarão os chatos e os patrulheiros de plantão: "Ué, você não vive dizendo que odeia o calor, que adora o frio? Tá reclamando de que?
Não estou reclamando não. Muitos pelos, ao contrário. Estou celebrando a minha romântica e hipotética morte, à moda do frio, desejando um bom dia a todos, com este textículo vagabundo, mas repleto de bom-humor.
Nota do redator: não esperem isso de mim, no verão...
DESPEDIDA (Fired)
Talvez, se o tempo disser, quando disser,
Talvez, seja tarde demais.
Talvez, seja tarde demais.
Eu não sei.
Eu não sei mesmo.
Porque as perguntas
São sempre as mesmas,
Mas as respostas, não.
Elas sempre mudam de lugar.
Não há como parar o tempo
E fazê-lo contar os segredos escondidos
No fundo do mar de cada um.
Nas dores de cada um.
Talvez, você tenha razão.
Mas, talvez, não.
A fé não passa de um pedaço da paciência,
Que nos falta, para que aprendamos a esperar.
Viver não consiste em aprender...
Viver consiste em não desesperar.
O meu Deus anda muito ocupado.
Pediu desculpas, mas disse que não vai dar.
Não vai poder me atender.
Com certeza, Ele pensa que eu quero pedir.
Mas eu não quero pedir.
Eu só queria perguntar.
E quando admito a hipótese de...
Talvez, você ter razão,
Não questiono a razão que há de ter, se tiver,
Porque simplesmente, você a terá.
E daí?
Isso não vai responder às minhas perguntas.
Só Deus sabe.
E só Deus, se tivesse tempo, poderia me dizer.
Mas Ele anda muito (pré)ocupado.
Provavelmente, com você.
Eu confesso:
Não tenho mais tempo.
Não tenho mais fôlego.
Já me falta ar.
Talvez, você tenha razão,
Mas, por caridade, me faça um favor.
Por mim, pergunte, apenas
Por que?
Porque, quando o tempo das respostas chegar.
Eu não estarei mais aqui.
Estarei só, em algum outro plano
Tentando entender o que é entre nós.
ENTRE UM CAPÍTULO E OUTRO DE "DAVI E GOLIAS" (Malcolm Gladwell)
Sabem vocês? Eu sei lá.
To com uma fome danada.
To meio confuso,
Mas no fundo no fundo, confesso: não sou.
To com uma fome danada.
To meio confuso,
Mas no fundo no fundo, confesso: não sou.
É que, de pau pra toda obra,
De outra hora pra uma,
To meio irritado,
Me sentindo um trator.
De outra hora pra uma,
To meio irritado,
Me sentindo um trator.
O microondas queimou
A TV, do Max, morreu.
O 'TIVO', do nada, travou.
E eu? Sei lá eu quando vou.
A TV, do Max, morreu.
O 'TIVO', do nada, travou.
E eu? Sei lá eu quando vou.
Não sei se caso ou não caso.
Não sei se saio ou se fico.
Já pensou, se eu saio
E, apressado, alguém chegou?
Não sei se saio ou se fico.
Já pensou, se eu saio
E, apressado, alguém chegou?
Que mico!
Mas, pensando bem,
A moça nem era bonita.
Era muito linda. E só.
A moça nem era bonita.
Era muito linda. E só.
Simpática, polida e gostosa.
To pensando aqui...
Não sei.
Por incrível que apareça,
Não sei mesmo pra que lado ir.
Não sei mesmo pra que lado ir.
Aliás, quem serei logo ali, logo mais?
Isso, sim, me assusta um bocado.
Um bocado, não,
Um bocado, não,
Me assusta demais.
Lá fora tá meio sol, meio nublado,
Tá frio, aqui dentro de mim.
Tá frio, aqui dentro de mim.
To pensando em ir e não ir.
Nem ficar nem sair.
Nem ficar nem sair.
Acordar ou desacordar?
Afinal, tanto faz.
Afinal, tanto faz.
Que fome estúpida!
É, eu vou. Vou rapidinho.
É, eu vou. Vou rapidinho.
Passo no banco,
Tiro dinheiro,
Aqui não tem tiro
Aqui não tem tiro
Nem tiroteio.
Ou, vou ali no posto e saco.
Depois, se ainda estiver assim,
Meio barro meio tijolo,
Como um bolo e voo.
Depois, se ainda estiver assim,
Meio barro meio tijolo,
Como um bolo e voo.
Ainda não sei, mas, se eu for,
O que vocês acham?
Vou aqui por dentro, lá por fora
Ou pelo centro?
O que vocês acham?
Vou aqui por dentro, lá por fora
Ou pelo centro?
É, Madame, a vida não vende abrigo.
A gente tem mais é que procurar.
E, se por um lado eu não ligo
Pelo outro, só vendo, pra alugar.
A gente tem mais é que procurar.
E, se por um lado eu não ligo
Pelo outro, só vendo, pra alugar.
Almoço ou como um salgado?
Um doce húngaro? Um vatapá?
Um risoto disso ou daquilo?
É... a preguiça é um fardo.
Um doce húngaro? Um vatapá?
Um risoto disso ou daquilo?
É... a preguiça é um fardo.
domingo, 16 de junho de 2013
DESCADÁVERES
De vez em quando lembro do Raul. Agora, por exemplo.
De suas atitudes, mais do que de suas canções; das suas
ironias, bem mais do que de suas poesias. Aliás, não são tantas as letras só
dele. Mas isso não vem ao caso.
Eu ando repensando.
Tudo?
Não sei. Acho que não. Mas repensando a minha vida. Lembro
que, aos 58 anos, meu pai, apesar de intempestivo e inquieto, era um
"senhor de idade" (ihhh, esse já foi um nick meu, bastante polêmico e
rentável, por sinal) e não um herdeiro de Keith Richards ou do Mick Jagger.
Sinceramente, eu não me sinto nem um pouco, um nem outro.
Sinto-me, sim, em cheque. Posto à prova, diante e sobre tudo que ainda quero e
não quero mais. Diante do que realizei e, por outro lado, da dúvida sobre se,
realmente, ainda existe algo realmente relevante a realizar.
E lá vêm os seres graves e os agudos a me diagnosticar como
"deprimido". Não, não estou deprimido. Estou apenas pensando e
refletindo sobre a ironia e o sarcasmo do Raul. Mas é claro que poderia ser
sobre a ironia e o sarcasmo do meu compadre Paulinho, cujo sobrenome não vou
revelar por tratar-se de pessoa pública e relevante à sociedade. Ou, sobre a
minha própria ironia e sobre o meu próprio sarcasmo. Acho que posso fazer isso,
sem problema. Certo?
Bulshit! O que importa é que ando me repensando. E isso é
tudo.
A lógica cartesiana nunca me serviu e, definitivamente,
tenho certeza, não me serve mesmo. Ao contrário, só me embaça. E o pensamento
filosófico, por sua vez, já não me diz quase nada. Sócrates morreu de cirrose e
nada mudou.
É aí que me vem o que me resta: lembrar do Raul e
reverenciar o seu "tanto faz" emblemático e preciso. Raul tinha um
paladar amargamente doce. Insincero, sempre, mas de uma eficácia cirúrgica e de
uma eloquência dramaticamente canastrona indubitavelmente adoráveis.
Raul foi simplesmente o máximo no nicho dele. Talvez Wilde,
mas acho que nem ele.
Tenho repensado, principalmente, o que está em standby na
minha vida, hoje.
A obra dos Eltonjohns, ainda persistentemente inédita; o, de
fato e de direito, lindíssimo e elogiadíssimo musical "Na Lapa, De
Paletó", escrito com Amaury Santos;
o programa que faço há quase 3 anos, premiado (por ser ruim?), pela
APCA, como o melhor programa de rádio na Internet, em 2012; o livro "As
Luvas do Imperador", que comecei a escrever há uns 5 anos e larguei de
lado; este Blog, abandonado ao relento... Tantas coisas. E todas relevantes,
irrelevantes ou não.
Claro que todos são projetos vivos e claro que vou levá-los
adiante. Quando? Não sei. É exatamente este o motivo do repensamento... rsss.
Acredito que vai ser agora, até porque, se não for, não vou
hesitar em mandar tudo pro saco. Estou pensando em subir a serra, na
segunda-feira e desencaixotar cada um desses descadáveres, sacodir-lhes a
poeira, passar-lhes um paninho e... Apostar no escuro? Claro que não.
Cada um deles terá que me provar que ainda merece mais do
que 2 minutos da minha atenção. E pela última vez, porque os prazos de validade
estão no limite.
Afinal de contas, como diz o saudoso, velho, bom e insubstituível
Raul: "Quando o cachorro não aguenta mais as pulgas, se livra delas num
sacolejo".
E não é?
Pra fechar a tampa, porque o defunto vai mesmo descer, aqui
vai uma outra letra do Raul. Uma letra que sempre me disse muito e continua me
dizendo muito. Que me perdoe um ou mais eventuais parceiros, por ventura – ou
desventura - aqui suprimido. É que o carisma do cara é, ainda, tão grande que me
faz esquecer de um monte de coisas.
Meu Amigo Pedro
Raul Seixas
Raul Seixas
Muitas vezes, Pedro, você fala
Sempre a se queixar da solidão
Quem te fez com ferro, fez com fogo, Pedro
É pena que você não sabe não
Vai pro seu trabalho todo dia
Sem saber se é bom ou se é ruim
Quando quer chorar vai ao banheiro
Pedro as coisas não são bem assim
Toda vez que eu sinto o paraíso
Ou me queimo torto no inferno
Eu penso em você meu pobre amigo
Que só usa sempre o mesmo terno
Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou
Tente me ensinar das tuas coisas
Que a vida é séria, e a guerra é dura
Mas se não puder, cale essa boca, Pedro
E deixa eu viver minha loucura
Lembro, Pedro, aqueles velhos dias
Quando os dois pensavam sobre o mundo
Hoje eu te chamo de careta, Pedro
E você me chama vagabundo
Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou
Todos os caminhos são iguais
O que leva à glória ou à perdição
Há tantos caminhos tantas portas
Mas somente um tem coração
E eu não tenho nada a te dizer
Mas não me critique como eu sou
Cada um de nós é um universo, Pedro
Onde você vai eu também vou
Pedro, onde você vai eu também vou
Mas tudo acaba onde começou
quarta-feira, 16 de maio de 2012
MANTENHA DISTÂNCIA
Não há como negar o fato de que toda aproximação tende ao paradoxo e à decepção. Ou será que há? Na melhor das hipóteses, eu diria que, se não é assim, parece muito ser.
A distância, quando a admiração esbarra no desconhecido, exerce fascínio único. Não sei se só em mim - este texto é feito de dúvidas -, mas em mim, com certeza. A proximidade gera conhecimento e a intimidade quebra o encanto. Sem encanto não há fascínio.
Lembro, na minha adolescência, de uma 'deusa' que me tirava do caminho - um pouco mais velha do que eu - e que, quando passava por mim, parava o ar. Eu ficava bobo, sem voz e sem ação, simplesmente fascinado pela minha musa, há milhas de distância, apesar de próxima.
Loura nórdica, nariz afilado, olhos cor de água de piscina olímpica, sempre fixos no podium e nada de olhar para os lados. Nos cruzávamos diariamente, mas... Nenhum sorriso, nenhum mole: nada. Nem um lacônico 'oi'.
Um dia antes, toda de preto, era uma Lotus. Mas, hoje, sem dúvida, eu estava prestes a bater de frente com uma Ferrari: vestido vermelho, de malha, justo, curto, a mostrar a exuberância daqueles quase oitenta centímetros de pernas. Uma aparição hiperrealista de estátua pin-up. Uma deusa sueca, do alto de seus negros saltos de quinze centímetros, somados aos seus naturais cento e setenta... e seis.
É impressionante. À distância, as imagens são, paradoxalmente, mais nítidas, quando o objeto na mira é uma mulher, ou ser sobreumano. As imperfeições se escondem ou se disfarçam e o todo hiperdimensiona a verdadeira forma do conteúdo.
Neste dia, tomei coragem, me aproximei e parei diante dela. Disse 'oi', ela respondeu secamente: 'oi'. E começamos a conversar. Pra que? Três meses depois estávamos "apaixonados".
E nunca mais, juntos, fomos felizes.
A distância, quando a admiração esbarra no desconhecido, exerce fascínio único. Não sei se só em mim - este texto é feito de dúvidas -, mas em mim, com certeza. A proximidade gera conhecimento e a intimidade quebra o encanto. Sem encanto não há fascínio.
Lembro, na minha adolescência, de uma 'deusa' que me tirava do caminho - um pouco mais velha do que eu - e que, quando passava por mim, parava o ar. Eu ficava bobo, sem voz e sem ação, simplesmente fascinado pela minha musa, há milhas de distância, apesar de próxima.
Loura nórdica, nariz afilado, olhos cor de água de piscina olímpica, sempre fixos no podium e nada de olhar para os lados. Nos cruzávamos diariamente, mas... Nenhum sorriso, nenhum mole: nada. Nem um lacônico 'oi'.
Um dia antes, toda de preto, era uma Lotus. Mas, hoje, sem dúvida, eu estava prestes a bater de frente com uma Ferrari: vestido vermelho, de malha, justo, curto, a mostrar a exuberância daqueles quase oitenta centímetros de pernas. Uma aparição hiperrealista de estátua pin-up. Uma deusa sueca, do alto de seus negros saltos de quinze centímetros, somados aos seus naturais cento e setenta... e seis.
É impressionante. À distância, as imagens são, paradoxalmente, mais nítidas, quando o objeto na mira é uma mulher, ou ser sobreumano. As imperfeições se escondem ou se disfarçam e o todo hiperdimensiona a verdadeira forma do conteúdo.
Neste dia, tomei coragem, me aproximei e parei diante dela. Disse 'oi', ela respondeu secamente: 'oi'. E começamos a conversar. Pra que? Três meses depois estávamos "apaixonados".
E nunca mais, juntos, fomos felizes.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
ATRASADO, MAS AQUI.
São as tais promessas de fim de ano. Aquelas que a gente faz quando dá três pulinhos, vira de costas, salta sete ondas no mar, faz saudação a Iemanjá, reza um Padre Nosso, por via das dúvidas consulta o Preto Velho, faz uma fezinha na numerologia e joga pra trás sei lá quantos caroços de romã.
Por alguns instantes, talvez pelo brocado jurídico "actio libera in causa", a gente finge ter uma fé inenarrável. Em tudo. É como se, a partir daquele instante, nada mais será como antes e o mundo abrirá suas portas para todos os nossos desejos, por mais estúpidos e implausíveis que sejam.
Aí, vem o dia seguinte. E, com ele, o mistério da transmutação - ritual dos sacerdotes egípicios, mestres da alquimia e amigos íntimos de Eliphas Levi, que colocavam os pobres discípulos a mexer, sem parar, o chumbo derretido nos caldeirões, até que o goleiro do time de botão virasse ouro - vai pro vaso sanitário, junto com restos imorais de pernil, coágulos de champagne, caroços de romã e uma bruta dor de cabeça.
Afinal de contas, como transmutar champagne francês em Engov; e cafezinho em Plazil é um dos mistérios ainda não decifrados.
Eu, à parte de tudo isso, não bebo nada. Tive fé, ao longo da vida, mas a perdi em algum lugar no trajeto entre o cemitério e a garagem do efício, na Rua Andrade Neves, depois de enterrar a minha mãe.
É estranho sentir na carne a experiência vivida por Krishnamurti, mas é ao mesmo tempo muito bacana. Krisshnamurti não escrevia livros. Fazia palestras, apenas e, quando muito, permitia que se as gravassem e as trascrevessem. Uma destas transcrições veio parar nas minhas mãos, encaminhada por um grande amigo e, então, mentor espiritual. O Falcon.
O nome do livro de palestra era "Transformação Fundamental" e baseava-se, integralmente, no momento em que se atinge o vazio completo: a 'grande nostalgia'. Krishnamurti, um indiano órfão, ainda criança, fora levado para Londres e lá iniciado pela portentosa escritora, filósofa e teólogola Helena Blavatsky, conhecida como Madame Blavatsky.
Sobre a 'grande nostalgia', eu precisaria encher um volumoso livro inteiramente com páginas em branco, pois vivê-la é, essencialmente, despojar-se de todo e qualquer sentimento, de toda e qualquer crença, seja lá no que for. Porque, segundo a tutora de Krishnamurti, só descrendo de tudo, por completo, se pode crer verdadeiramente em Deus.
Pode parecer-se um pouco com o Paradoxo de Hawking, mas o princípio tem um meio interessante e um fim, infelizmente, um tanto intangível. De qualquer maneira, o Falcon, de certa forma e por um certo tempo, foi a minha Blavatsky. Não posso negar isso.
Valter Vicente Lopes Pereira Gonçalves, seu nome verdadeiro, era mesmo um super-herói, pousando às vezes de Bom-Bril, outras vezes de anjo da guarda. Além das suas mil e uma utilidades, como homem de propaganda e profissional de criação, foi um grande amigo. Um cara incrível, que aparecia, inexplicavelmente, sempre, nos momentos realmente difíceis, nos lugares mais estranhos e improváveis. Se você não tivesse outra saída, ele aparecia do nada.
Em julho ou agosto de 1984, eu namorava uma moça, cuja irmã, namorava o irmão dele. Não nos conhecíamos, mas ela sempre me dizia que eu tinha que conhecê-lo. Assim, numa noite qualquer de 84, lá fomos nós à casa dele, em Jacarepaguá, onde, finalmente, fomos apresentados e nos tornamos amigos inseparáveis.
Libriano como eu, nascido no dia cinco de outubro e eu no dia doze, não foi difícil encontrarmos afinidades. Música, esportes, cultura em geral e, finalmente, propaganda. Foi ele, quem olhou pra mim e disse que eu deveria largar o que estava fazendo e me tornar publicitário.
Foi ele, quem me levou para a Artplan, quem me apresentou diretamente ao Roberto, ao Nizan, ao Abréa e a toda a galera da criação.
Eu fui pra lá para prestar uma consultoria sobre os festivais de rock. Eu não fazia a menor idéia de que me tornaria, em pouco tempo, membro da equipe de produção do Rock In Rio e, posteriormente, redator publicitário. Mas isso é outra história.
O Falcon não está mais aqui. Mas eu estou. Para agradecer pela amizade, pela brothagem, pelo carinho. Para elogiá-lo e para criticá-lo também, embora não vá fazê-lo.
Juntos, iniciamos um círculo de magia branca e logo o grupo foi crescendo, crescendo, até tornar-se um clube de gente muito boa, que conviveu e experimentou coisas inexplicáveis, como situações de saída do próprio corpo, em viagens astrais. Mas passou.
Um dia, novo ainda, ele morreu, a vida seguiu e cada um de nós trilhou o seu caminho. O meu, sempre divertido e improvisado, voltou-se para a propaganda, para o rádio e para a produção músical. Outros tornaram-se empresários, alguns não tiveram sorte, outros muita.
Mas o resultado é um só. Tudo não passa de uma grande ilusão. O ego é um ledo engano. Nada muda, no espaço, no cosmo, no céu ou na terra, se não você não mudar. E mudar-se a si próprio é complicado, porque não significa sair de uma posição e ir para outra. Mas sair e ponto.
Por isso, para mim, pelo menos, fica muito claro que nada muda no mudar do ano, nem depois que se morre ou que se sobrevive a uma situação de morte.
A vida é apenas uma fria manifestação natural, impessoal e linear. Não há espaço para sentimento algum, quando se atinge o estado da 'grande nostalgia'. Nada de pena, saudade, justiça, injustiça, ódio. Não existe alegria nem tristeza.
Na verdade, se bem que a verdade também não existe, a gente não vive. A gente só faz parte da natureza. Nada aquém, nada além. Nada acima ou abaixo.
Observe a sua volta e veja se a natureza se importa com os mortos e com desabrigados pelas enchentes. Não há atitude solidária da natureza, nos terremotos nem nos furacões.
Nada.
A natureza é natural, sem overdubs e sem efeitos especiais. O resto todo é a gente que inventa. E inventa, na tentativa de amenizar a própria impotência diante da finitude.
Harrison escreveu que "todas as coisas têm que passar". Não têm: passam.
Não há como segurar a água do rio, não há como calar ou sufocar a voz da nossa consciência. Intimamente, somos ar, água, fogo e terra.
O consciente é um penetra nessa festa bizarra; um clandestino no navio do destino; um agente terrorista infiltrado no avião.
Não. Não importa o que você prometa à meia-noite do dia trinta e um. Não importa nem que você cumpra as promessas que faz. Tanto faz. Nada vai mudar o curso natural da vida.
Os dias continuarão, chuvosos ou ensolarados, a apresentar o mesmo repertório de sempre, com suas guerras e seus de avanços científicos; nos seduzindo com sensações de alegria e nos desestimulando com aborrecimentos. Surpresas e desilusões; desejos e frustrações; vontades e esquecimentos são coisas nossas. E só nossas. Cabe a nós cuidar deles, para que não se tornem nossos mitos, ou pior, nossos padres, bispos, guias e gurus.
Não há nenhum Deus Pai para administrar o seu condomínio interior. Ele não liga a mínima para o que está acontecendo com você, simplesmente porque Ele lhe deu um cérebro, um corpo e você caiu na cilada.
Ao ter sido dotado de um lobo frontal e equipado com o polegar opositor, passam a ser suas as escolhas e igualmente suas as responsabilidades.
O livre arbítrio, embora a mim me pareça outra grande bobagem criada pelo homem, nos dá a falsa e esquisofrênica sensação de poder, nos tornando, por vezes, egocêntricos, egoístas ou pior, ególatras.
No final da brincadeira, somos vítimas dos nossos próprios pseudos poderes. E perdemos a noção do nada que nos cerca.
Eu, por mim e por tudo isso, com todo o respeito que me merecem, o meu querido filho e os meus queridos amigos Christina, Cássia, Beni, PV, Cesar, Amaury e tantos outros, na boa, preferia ter passado o Natal e o Reveillon na minha casa, no alto da serra de Petrópolis, debaixo daquela chuva toda, ora recebendo uma visita mais íntima ora me despedindo dela para retomar o sossego que lutei tanto para conseguir.
Sei lá. Dizem que o diabo não é o diabo porque é mal e sim porque é velho. E eu, sinceramente, acho que a gente não faz cinquenta e sete anos à toa. É muita bagagem, digo, bobagem, que, se jogada, entala e não desce pela lixeira do prédio. São muitos sacos e sacos contendo lembranças vagas de memórias apagadas, que não se biodegradam nos esgotos do inconsciente coletivo. E esse é o maior problema. O que já não nos presta mais, acaba antenando alguém que ainda não viveu aquilo e aí, babou: nada melhora, porque é a própria alegoria do cachorro correndo atrás do rabo.
Eu, deprimido?
Nada. Eu tô ótimo. Se melhorar estraga.
Não nego que ainda meio em choque por causa de um erro de português que cometi no trabalho, na última semana do ano e que, graças ao Google, eu mesmo consegui reverter. Mas tô muito bem sim, embora consciente de que não tenho corpo nem saúde pra viver tanto quanto um Roberto Marinho ou um Niemeyer e de que o futuro já é bem menor, em fração, do que o passado.
Mas isso, cá pra nós, tirando o que vou perder de tecnologia na web, não é tão ruim assim.
Andei remexendo caixas e armários em Petrópolis. Encontrei relíquias imprestáveis e fui jogando tudo fora. Com elas, com certeza, parte do meu passado emocional - ou terá sido o sentimental? - foi-se.
Pilhas de folhas papel rabiscadas com trechos de poesias medíocres inacabadas, escritas para mulheres, provavelmente, burras; bilhetinhos graciosos, que acompanharam cestas eróticas de cafés da manhã; cartões sedutores dos dias dos namorados, de namoradas já defuntas; algumas calcinhas (in)decentes esquecidas propositalmente no fundo do armário; uns belos baby-dolls rendados e outras coisas do gênero.
Mas, confesso que nem tudo foi pro lixo. Guardei uma outra parte de tudo isso. Não na memória, mas em outras caixinhas e personalizadas. É legal, por exemplo, rever o DVD, Up, do Peter Gabriel e saber quem me deu. Ou, deixar rolar com outra pessoa um par de dados eróticos, sem o menor peso na consciência ou, ainda, rever algumas fotos, por questões estéticas e de gratidão.
Não posso me queixar. E olha que passei o pão que o diabo amassou, ao longo destes dez últimos anos. Mas, na boa, minha vida, até aqui, foi vivida, eu diria, no meio de um caos delicioso de sexo, sem drogas, com muito rock'n'roll. Chega a ser engraçado olhar para a adega improvisada no velho carrinho de chá, herdado do meu pai, e ver que permanecem lá, intactas, dezenas de garrafas de vinhos importados, caros, de safras especiais, quando eu simplesmente não bebo, a não ser Coca Zero.
Quanta bobagem. O que o macho não faz para seduzir a fêmea, não é mesmo?
Outro dia desses, encontrei um lindíssimo par de scarpins grená, de saltos altíssimos e bicos finos, dentro de um saquinho de pano, griffado, daqueles típicos para se guardarem pares de scarpins grenás, de saltos altíssimos e finos. Número trinta e sete. Mas eu não jogo nem no bicho.
Solidão nada. Não estou sozinho. Jamais estou estou sozinho. Estou sempre comigo.
Acabaram-se, sim, as permanências, as hospedagens, por mais de dois dias e duas noites. O espaço, que antes era ocupado por mesinhas, estantes, porta-retratos e objetos de decoração, agora pertence ao estúdio. Uma bateria completa, montada, que está sempre pronta e ávida por um groove bacana. Em frente a ela, um teclado e, em cima dele, na parede, um violão. Na mesa, o PC, as torres com os milhares de CDs, LPs, Dats, fitas de rolo, VHSs, uma geladeira, o colchão de casal, uma geladeira novinha, internet, telefone... quero mais o que?
Aliás, o velho violão é o mesmo que me ajudou a compor tantas canções de amor, alegria e sofrimento pelas mulheres fatais que passaram pela minha vida e pisaram no meu chão. No chão do meu coração.
Não fiz uma lista formal de todas as namoradas que tive. Não usei Word nem uma folha de papel. Mas, foi legal ir voltando no tempo, relembrando uma a uma, tentando lembrar do que ficou e o que restou, depois do fim de cada mundo. Sim, porque, pra mim, cada relação que termina é um calendário maia que se encerra. Pra você, não?
Amizade, não vale. Sou craque em manter amizades com as minhas ex. Isso é normal e só não acontece com as que me decepcionaram pelo caráter. Desamar, descurtir, tudo bem. Mas falha de caráter, não rola.
Paradoxalmente, digo aliviado, que, apesar de tantas, sobrou nada.
Como dizem que sou radical, vá lá, uns três ou quatro por cento de tudo que se investiu, se a gente considerar que são mais ou menos quarenta anos de amor e sexo, discutindo as relações, é nada mesmo.
E, por falar em nada, que fique bem claro. Nada contra as moças, a maioria, hoje, já senhorinhas ou senhoronas. Muito pelo contrário. Foram todas, sem exceção, cada uma, a sua maneira, uma pessoa extraordinária. Umas, extraordinárias para o bem. Outras, para o mal. Mas tudo bem.
E, se há uma coisa da qual tenho a obrigação de me orgulhar é de jamais ter tido um relacionamento com uma mulher mais ou menos.
Isso é muito legal.
Hoje, quando ligo o Yamaha, suas oito caixas de som e começo a ouvir as canções e as poesias de Dylan, ao tocar a batera, com a Coca-Zera, aberta no chão, abro o enorme sorriso da liberdade e sei que não estou sozinho. O velho Dylan está na estrada, com a "Never Ending Tour". Estamos juntos. Long Life rock'n'Roll!
Claro que a vida não acabou. Claro que posso, amanhã ou depois, abrir portas e janelas para o amor, acreditando que será, mais uma vez, para sempre. Não estou abandonando a idéia. Pelo contrário, agora mesmo, não faltam telefonemas e posts para um fim de semana na serra, regado a um bom vinho, degustando um delicioso fondue.
É só virar a ficha em cima da mesa, do lado vermelho, onde se lê "Não, obrigado" para o lado verde: "Sim, por favor".
Escrevo, não releio, não reviso, mas rio muito. Com certeza, muitas das minhas leitoras devem estar odiando este texto, me chamando de velho decrepto, recalcado, machista, arrogante e pretencioso. Para provar que não é bem por aí, embora seja uma gimmick fantástico para gerar novo fluxo de tráfego no blog, hoje, com toda sinceridade, eu adoria se uma moça, em especial, estivesse disponível e me ligasse dizendo: "tô subindo", como fez tantas vezes.
Ia ser divertido, agradável. Haveria paz, harmonia, essas coisas legais que todo mundo gosta e todo casal quer. Mas, felizmente, pra ela, está ocupada, namorando, feliz com seu amor e eu lhe desejo, do fundo do meu coração, toda a felicidade do mundo.
Não se trata-se de uma mulher bacana, especial, como todas com as que eu tive o prazer de estar e conviver. Trata-se de uma mulher ímpar, espetacular, de caráter incomparável, de uma generosidade absurda e de uma lealdade, acima de qualquer parâmetro. Não vou citar-lhe o nome, em respeito ao companheiro dela. Mas, caso por aqui venha, ela saberá que é dela que estou falando.
Seria desrespeitoso, sem ser, ao menos, uma cantada.
Retomando o fio da meada e encerrando este post, o resumo da ópera é que não pude passar minhas festas só, no meu estúdio cafôfico, rodeado de música e tecnologia por todos os lados, como eu tanto queria.
Acabei descendo, aos quarenta e cinco do segundo tempo, do dia vinte e quatro. Vim, passei o Natal com o meu filho queridaço, com a mãe dele, minha ex-mulher, com meus ex-sogros e depois vim pra casa da Chris, que estava na casa dos pais dela.
O Reveillon foi na casa do Marcio, um velho amigo de muitos e muitos anos, na cara do Ocenano Atlântico, bem de frente pra África do Sul, ao lado de outros queridos e, de novo, com o Victor, com a mãe dele e com litros de coca-Zero.
Foi divertido. O convívio social é sempre interessante, quando o conteúdo a ser compartilhado é bom.
Agora, falando sério: não aguento mais essa imunda e encardida cidade maravilhosa. Vir aqui é como ir à Bahia. E olha, que eu nunca fui à Bahia.
Isso me lembra uma passagem que parece até praga. Quando mais novo, eu costumava dizer que ia me casar, assim que voltasse do México. E sempre me perguntavam, quando eu iria ao México. Eu sorria e dizia: jamais.
Acabei indo, por circunstância, meio contra a vontade, mas fui. E não é que acabei casando?
sábado, 31 de dezembro de 2011
NÃO SEI PORQUE E NÃO ME INTERESSA.
De repente, me lembrei deste blog. Abandonado, desatualizado, meio encardido até. Olhei pra ele, me bateu um sentimento diferente. Nada de culpa, pena, solidariedade. Não. Longe disso. Talvez eu tenha me visto um pouco nele. Não sei.
O tempo passa e mais um ano se encaminha pro brejo. A vaca já foi. Eu tô aqui, de longe, só olhando, talvez meio sem graça, pelo que deixei que acontecesse com ele, que, por tantas e tantas vezes, foi meu confidente público número um; meu conselheiro genérico número dois; meu alter ego coletivo, sem número.
Está resolvido então. Em 2012 repego o blog. Já dei uma reformada, tirei a poeira e quem sabe, nos próximos dias já recomeço a postar novos textos? Vai ser legal ver o que mudou em mim, o quanto mudei eu e o que mudaram, em mim, as pessoas que comigo viveram, o mundo no qual viv, as coisas que me cercaram e me desconcertaram.
Dando um flash no back, 2011 foi um ano legal. Ano de trabalho, de canseira, ralação, mas foi um ano de resultados práticos bastante efetivos. Ganhei e perdi, como sempre. Sobre as perdas, aliás, sobre uma, em especial, não quis escrever. E não vou escrever.
Foi uma atitude deliberada. Achei que poderia soar de um jeito meio panfletário e não era o meu objetivo. Além do mais, nada que eu escrevesse iria expressar minimamente a dor que senti.
No entanto, como dizem os versos que escrevi e que ele musicou tão bem: "O luto em movimento, o vento, a chuva, a vidraça, lágrima, dor, sofrimento, com o tempo, tudo passa".
Bola pra frente.
Sinceramente, não sei se alguém ainda vem aqui. A Marcia me disse que vinha, mas agora, como está namorando firme e feliz da vida, muito provavelmente, não mais.
Ainda assim, a ela, que tanto curtiu, leu, releu, inspirou e incentivou este Ferro de Blog Blog, em boa parte, vou dedicar minha volta. Mais do que a ela, talvez, à sua felicidade.
Se há alguém que merece o meu apreço, o meu carinho, o meu respeito e a minha solidariedade, em qualquer hora e em todo lugar, esta pessoa se chama Marcia Gonçalves.
Assim, disposto a tocar o bonde, desejo a todos que me lerem, um Feliz 2012!
Vamos juntos?
segunda-feira, 7 de março de 2011
OLHA A MANGUEIRA AÍ, GENTE!
Desfilar pela Mangueira é algo muito maior do que o carnaval; do que o carnaval multiplexado pela HBO; ou do que qualquer teoria quântica, que beire, além do inusitado, o sobrenatural.
Desfilar pela Mangueira envolve vidas passadas, outras vidas, vidas presentes no presente, e quiçá - não confundir com cuíca - vidas ausentes no futuro.
Desfilar pela Mangueira é como jogar pelo Flamengo e ter o privilégio de - mesmo sendo o cara mais honesto, ético e escrupuloso do mundo - fazer um gol, com a mão, aos 56' do segundo tempo e vencer um hexacampeonato nacional, em cima da Seleção Brasileira ou da Seleção do Arco-Iris.
Desfilar pela Mangueira é comprovar o que todo mundo já sabe, mas reluta em acreditar: que o melhor sempre vence, mesmo que não vença.
Enfim, eu não desfilei pela Mangueira nesse ano, nem no ano passado, nem em 2009, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1... mas sou Flamengo, Mangueira e São Jorge,
E.... "Olha a Mangueira aí, gente!"
Por falar em "Olha a Mangueira aí, gente!", esse grito de paz e amor - que também atende pelo nome de Grito de Guerra - lembra-me muito a história do bêbado, que estava, abrigado da chuva fina, embaixo de uma marquize, quietinho, encostado na pilastra que segurava o sobrado de 3 andares, na mais esburacada e velha rua de uma daquelas 369 cidades históricas das Minas Gerais, vendo a procissão de Nossa Senhora De Um Lugar Desses, da Europa, provavelmente em Portugal, passar, com suas alas de fiéis.
Do nada, em meio a cantoria, o bêbado largou o grito: "Olha a Mangueira aí, gente!".
Os olhares, com o ódio apostólico da Inquisição, se voltaram contra ele, enquanto a imagem da santa se espatifava no chão, depois de chocar-se violentamente contra a galhada de uma frondosa mangueira.
Eu avisei...
Assinar:
Postagens (Atom)