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Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil
Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A CRISE DO FORMATO

Não foi ontem nem no ano passado. Faz um bom tempo - uns nove ou dez anos, talvez - eu e o meu compadre, parceiro e amigo Carlos Beni já conversávamos exaustivamente sobre o futuro do fonograma.

Hoje, confesso, acho estranho, curioso e intrigante escrever a palavra fonograma, principalmente depois da revolução digital. Mas o fato é que, com licença da má palavra, etmologicamente, o vocábulo fonograma não tem


qualquer compromisso com a indústria fonográfica.

Fonograma é, antes de qualquer outra coisa, a forma de comunicação que usa o som como veículo, em vez da escrita, da mímica ou de qualquer outra forma conhecida.

Sabe-se lá porque, a indústria fonográfica apoderou-se da palavra - quem sabe, por ser facilmente associada a fonógrafo? - e a lingüística (ou teriam sido as figuras de linguagem?) fez o resto, decompondo-a em fono (som) + grama (sinal gráfico).

Metonimicamente, embora não seja, fonograma tornou-se o mais popular significado para música mecanicamente gravada. E, mesmo que não seja mais um processo tão mecânico assim, o fato, lastimável, por sinal, é que a indústria não esquece a sinédoque.

A esta altura do campeonato, o caro internauta deve estar se perguntando - e me perguntando -, se é que ainda está lendo, o que é metonímia, sinédoque e coisa e tal?

A resposta está no Google para quem se interessar possa. Mas, como sou bonzinho, vou grifar a diferença mais básica, para situar melhor o texto.

Na metonímia diz-se, de maneira objetiva, direta e absoluta, o que se quer dizer sem usar a parte.

Vale o todo, mas o significado eliminado, ou seja, a parte, não sai prejudicado. Complicado? Nem tanto. Vou usar um exemplo bem simples: "o jato cruzou os céus". Na verdade não foi o jato quem cruzou os céus e sim o avião, mas como o avião é movido à base de turbinas a jato, não há necessidade de se dizer que o avião com turbinas cruzou os céus. Corriqueiro, não? A gente poderia lembrar também do "Vapor" do São Francisco e lidar logo com duas metonímias, porque nem o vapor é um vapor e sim uma barca; nem São Francisco é São Francisco e sim um rio.

Mas há um pequeno detalhe que pode, e que, porque pode, sempre causa confusão. O nome deste detalhe é sinédoque, que parece prestar o mesmo serviço à comunicação, mas não presta, porque ao usá-la, o fazemos para subjetivar o todo, omitindo a parte. Em outras palavras, não podemos afirmar que numa sinédoque o que está sendo dito, corresponde à realidade.

Ok, ok, vamos lá: posso dizer por aí, aos quatro cantos, que minha mãe era uma santa. Claro que posso e não tenho dúvidas de que o meu ouvinte/leitor entenderá exatamente o que estou a lhe dizer. Afinal de contas, está subjetivamente claro que digo-lhe, através de uma sinédoque, que minha mãe era uma pessoa boníssima, correta, amável, generosa... mas santa, santa, santa mesmo... não.

Xiii, começo a achar que estou piorando cada vez mais a minha situação neste texto.

Por que Beni, fonogramas e sinédoques?

Porque este é o assunto.

Entendidas as figurinhas de linguagem, tomemos de volta o fonograma, agora já entendido como representação metonímica do som (música) gravado em disco. Ok?

Ao longo destes dez anos, claro, nossos papos evoluíram, fatos aconteceram, as nossas previsões se materializaram e a tal da indústria fonográfica quebrou.

Quebrou, é? Como assim? Não se gravam mais sons musicais? A música morreu como morreu o latim? E o que faremos então com toda a cultura advinda da música? Como se sairão as trilhas sonoras sem os temas incidentais, as ambientações, as canções-tema, os efeitos sonoros musicais?

É simples: a indústria que quebrou não foi a fonográfica. E a maior prova disso é que, hoje, todo mundo grava seu CD, cria seus próprios fonogramas, sem a interferência direta da indústria fonográfica e os disponibiliza, vende, dá, faz o que quiser na Rede, na rua, na chuva, na fazenda ou até numa casinha de sapê.

E o melhor, sem patrão, sem agente, sem empresário, sem jabá.

Se a gente se dispuser a olhar o quadro com um mínimo de boa vontade, vai enxergar facilmente a verdadeira revolução que está acontecendo por trás de todas as revoluções: a da abolição do formato.

O formato, entenda-se Cassette, Open Reel, DAT, MD, LP, CD, DVD, seja lá qual for, uma vez estandartizado, se torna veículo, ou seja, pega o meio (música), injeta no canal (o próprio formato) e veicula o fonograma. Por enquanto, pelo menos, até que se chegue a um novo formato, não existe outra saída comercialmente viável. O que está acontecendo é que o Play Station, o telefone celular, a Internet, o iPod, tudo toca tudo sem que haja um formato definido. Pra resumir e ficar apenas no campo da compactação da música, existem hoje dezenas de formatos para arquivos sonoros, mas não há uma compreensão correspondente por parte do usuário e assim, o MP3 vira herói, enquanto o WAV ou o AIFF, que são formatos que reproduzem o som com fidelidade viraram os vilões dos HDs e das memórias Flash. Há uma subversão de valores incrível, a ponto de um "tocador" ser melhor do que o outro porque é pior, mas "toca" tudo. Não sei o que vai ser. Nem se vai ser. Mas sei que sem formato, nada fica industrialmente viável para a indústria do disco.

Não descobri a pólvora nem sou o autor desta profecia.

O Beni já diz isso há anos, desde quando eu ainda migrava, de tempos em tempos, de formato em formato, até chegar ao formato nenhum.

O som do cassette sempre foi uma porcaria. Os audiófilos de classe alta, mas sem um ouvido confiável, cultuavam os Nakamishi, os Teac, os Akai, mas falando sério, nada daquilo prestava. Você colocava a fita cassette pra rodar, ela ia rodando e deformando o som. A cada vez que passava pelo sistema de transporte mais aumentavam-se os ruídos de wow-and-flutter. Isso era inevitável, assim como era inevitável, num belo dia, a fita se enroscar por dentro do mecanismo.

Mas era um formato. E fez sucesso durante décadas em todo o mundo.

O rolo era um formato melhor e de qualidade incomparável, mas, além de caro era antiprático, frágil demais e exigia condições especiais para alocação e manuseio. Há, inclusive, uma história fantástica sobre a fita de rolo. Conta-se - e realmente quem tiver o disco vai poder comprovar a moral desta história -, que quando a EMI mandou a fita para que se lançasse no Brasil, o single "Penny Lane", o operador responsável pela matriz, no estúdio, ao parar bruscamente o transporte da fita esgarçou um pedaço do tape. Com medo de perder o emprego, o cara simplesmente não falou com ninguém, apelou para a gilette e "editou" o solo de trumpete de Penny Lane, que quase sumiu, na versão brasileira.

Quem tiver o LP Beatles For Ever (original da época - foto), lançado pela EMI, pode ouvir esta versão "exclusiva".

Algum tempo depois, não me lembro se foi o Lula Tiribás ou algum outro fã dos Beatles que freqüentava as feiras anuais, em Liverpool, quem me disse que este disco valia uma grana preta por lá, nas feiras de raridades.

O fato é que a fita de rolo dava uma encrenca danada, além de juntar ao produto final, o tradicional chiado do atrito do tape na cabeça de reprodução da máquina.

Depois do rolo e do cassette, surgiram os já digitais CD, LD, DAT, MD, ADAT, DVD, até chegarmos finalmente à explosão de vendas e utilização massiva da mídia virgem digital, no formato Compact Disc e, logo depois, DVD.

Lembro de quando vi os primeiros CDs. Eram lindíssimos, brilhavam, tinham, embutido neles, a "magia do raio laser". Raio que o parta!

O jabá, institucionalizado, já não era mais a ferramenta adequada para uso na prática da "empurroterapia", ou seja: "só recebe o Roberto Carlos e o Michael Jackson, se comprar o fulano, o beltrano e o cicrano". A corrupção escapuliu das mãos do divulgador e passou a ser objeto de interesse (e de desejo) do presidente da gravadora, do 'núcleo' de jabá nas redes de rádio, televisão etc.

Na contra-mão do "paga que eu toco", gente que não precisava pagar para ser tocado passou a precisar, porque o dial tornou-se um balcão de negócios e aí, meu querido: não paga, não toca. Não foi por acaso que os programas que tocavam exclusivamente Roberto Carlos desaparecem do rádio sem deixar vestígios.

As vendas começaram a despencar. Isso tudo ainda antes do P2P, da banda larga, da massificação dos softwares de copiagem. Estamos falando da indústria fonográfica e isso, paradoxalmente, inclui a exclusão dos principais artistas brasileiros, dos castings das gravadoras e o surgimento de "foguetes", artistas fabricados, lançados com fortes campanhas publicitárias e jabazísticas, para acontecer por 15 minutos. Depois disso, desapareciam, sem criar um catálogo, sem ter uma história pra contar.

Parece que os gênios que pilotavam a indústria não sabiam que sempre há de haver alguém interessado no primeiro disco do Pink Floyd, do Bob Dylan, do Chico ou do Caetano. Nem, que dificilmente alguém vai entrar numa loja pra comprar o primeiro disco da Xuxa ou da Banda Eva. Sem expansão de catálogo, a tendência das gravadoras não poderia ser outra, senão a de ir mesmo para o vinagre.

Mas, como se diz por aí, se alguma coisa ruim ainda pode ficar pior, fica.

O chamado "formador de opinião" - caras cultos musicalmente, como Big Boy, Nelson Motta, Maurício Valladares, Luiz Antonio Mello e Amaury Santos - deu lugar ao pagador de jabá. E ao recebedor, é claro.

Estes caras passaram a mandar e a desmandar no mercado do disco de tal maneira arbitrária e inconseqüente que a saída para resolver o enorme acúmulo de prejuizos com lançamentos bizarros foi a banalização das obras dos grandes artistas em coletâneas pífias, sem nenhuma preocupação com o conjunto da obra. Não sei se ainda é assim, mas a esperta Marisa Monte, até onde sei, jamais permitiu, em contrato, que se lhe montassem coletâneas. Quem quiser tê-la em disco, que compre a sua obra. E está absolutamente certa.

Com o passar do tempo, e cada vez mais, as coletâneas baratas foram dividindo o espaço com lançamentos estúpidos, sendo que os piores faziam ainda mais sucesso e com o sucesso saiam das lojas e iam para os camelôs. Resultado: cada vez mais e mais as lojas de discos foram acumulando encalhes e mais encalhes.

Mas no Faustão, tudo continuava sendo flores. "Disco de Platina, 3 milhões de cópias vendidas...".

Mentira.

As gravadoras vendiam para as lojas, mas as lojas não conseguiam mais vender para o consumidor e devolviam o prejuizo pra receber o crédito do ICMS. A brincadeira durou pouco e foram desaparecendo as grandes cadeias como Gabriela Discos, Moto-Discos, Adriela, Pro-Disc, para falar só do Rio de Janeiro.

A saída, desta vez, foi migrar para lojas de departamento e supermercados, como já se fazia lá fora. De novo, estoques e encalhes, promoções inacreditáveis, chamarizes para vendas de outros produtos e babau. O CD ou seja lá o que fosse, perdera o seu valor percebido e nem como presente servia mais.

Hoje, você entra num shopping e não encontra uma única loja de discos. O que se encontra está nas livrarias. O CD, como veículo cultural, praticamente acabou. E o DVD, tido como salvação da lavoura contra a pirataria é ainda mais fácil de se copiar. E mais brega.

Na contra-mão, de novo, desta história, é cada vez mais raro se encontrar um par de ouvidos sem um par de fones. A concorrência dos fones com os brincos está cada vez mais acirrada e a tendência é que fones virem brincos ou que brincos virem fones. É uma questão de tempo. Alguém vai viabilizar isso. Os iPods, verdadeiros ou genéricos invadiram o mundo e neles, o que se ouve? Fonograma, é claro.

Ou seja, o som gravado continua vivo e sendo gravado, em forma de música. O meu iPod, já pequeno, com seus 120 gigas abriga quase 20 mil canções, quase 500 gols do Flamengo, shows inteiros do Leonard Cohen e do NIN, clips que considero imortais como o "Like A Rolling Stone" lissérgico, dos Stones e por aí vai. Quem me trouxe este iPod, no natal passado foi um grande amigo que mora nos EUA, o Cesar. Agora, há poucos dias, de volta ao Brasil, a passeio, ele veio me fazer uma visita. Começamos a conversar, entramos no assunto música, esbarramos no computador, acessamos o You tube, de lá fomos para a loja da Virgin e o papo foi em frente. Paramos para jantar, voltamos ao "assunto", viramos a noite, azeitados por litros de Coca-Zero, o dia amanheceu, veio o almoço e ele saiu daqui por volta de cinco da tarde.

Para nós, amigos há mais de 40 anos, nenhuma novidade.

Minha cultura teve como base exatamente este tipo de hábito: o de ouvir música.

A diferença, no entanto, como estou no Rio, mas moro em Petrópolis, ficou no tipo e na qualidade do equipamento. O que uso habitualmente para ouvir música é fantástico. O que usamos para ouvir aqui, uma boa porcaria.

Em Petrópolis, tenho um Yamaha DSPA, digital, com saída para até 9 prés e 9 caixas. São dois sub-woofers, um para cada canal principal, a caixa central, as duas frontais (principais), as duas de efeito, anteriores, e as duas de efeito, posteriores. Eu, apesar de só gostar de dois tipos de música: rock e roll, defendo a ambiência e a qualidade do som como argumento para manter a minha dinossáurica parafernália (que já perdeu espaço e respeito para essas caixinhas de péssima qualidade, que ladeiam monitores). Não há nada que se compare a boas caixas parrudas e equipamentos dedicados.

Lembramos de quantas e quantas horas de nossas vidas passamos sentados, com o PV, o Carlinhos Roxo, Renato Leal, PC, Marcio e outros grandes amigos, com pilhas de discos ao redor, selecionando a faixa 2 do lado 1, a 3 do lado 2, para ouvir, debater, reouvir, descobrir detalhes, arranjos, timbres e "sacadas geniais".

Eu continuo o mesmo. Ávido por ouvir música em um lugar razoavelmente adequado, mas específico, com qualidade e atenção. Não misturo música com conversa. Se quero conversar, converso. Ouvir música exige concentração, espaço, tempo e equipamento. Isso tudo gera uma química única, que não abrange somente os ouvidos. Nada substitui a capa do LP. Faz parte do arranjo do disco.

Se o caro leitor se dignar a prestar atenção na porcaria que é o som de qualquer MP3, seja qual for a taxa de compressão, nunca mais voltará a ouvir estas drogas. Se eu ouço? Mas, é claro que eu ouço. Ouço, porque não tenho mais as companhias que tinha, não tenho mais o tempo que tinha nem os LPs pra tirar o lacre, nem os CDs importados diretamente do leste europeu. Os que ainda cintilam nas Modern Sounds da vida custam os olhos da cara.

Lembro que comprava vinte, trinta LPs de uma só vez. E não era só eu. E eu não era rico. Uma vez, encontrei na TRAX, ali na praça do Jockey, o Maurício Valladares. E só nos reconhecemos por causa das pilhas de discos. Estávamos distantes um do outro e a loja estava lotada de gente. Depois de rir, comentei com ele sobre o quanto de dinheiro a gente gastava em disco e ele falou: "Tem um lado positivo. Se fosse cocaína, a gente já tava morto". E é verdade.

My Space pra lá, Revebnation pra cá, You Tube, E-Mule, nada disso vai resolver o problema da indústria fonográfica, se não for encontrado um novo formato para expor, embalar, vender e divulgar o conteúdo artístico.

Volto a dizer que o autor da tese não sou eu e sim o Beni, mas como, nesse ponto, nunca discordei dela enem dele, lanço mão do mote pra postar no blog. E reafirmo: sem formato, nada feito. Vamos continuar compondo, fazendo uploads, downloads, vendedno ringtones pros otários, mas nada vai mudar.

Os caras confundiram sinédoque com metonímia e acabaram "bebendo a própria morte".

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