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Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil
Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A DIALÉTICA E O MANIQUEÍSMO

A vida faz parte do cotidiano de cada um.

A cada novo dia que desperto ou não durmo, mais me convenço de que a maior fatia do bolo da minha vida, ou seja, a maior parte de tudo que acontece comigo moment by moment tem pouca ou ligação alguma com a tão na moda “Lei da Atração”.

O código gravado no chip do meu DNA não se submete as minhas opiniões pessoais nem se curva aos meus desejos mais óbvios, porque está inexoravelmente conectado ao acaso, um código randômico, cujo controle é exercido pela força do Caos.

Sem anjos e sem demônios na controladoria do processo, portanto, longe da comparação maniqueísta da Idade Média, não me refiro ao Caos como sinônimo do Diabo. Mas como uma agradável metáfora de Deus.

O Caos é a força e, ao mesmo tempo, o gerente do inconsciente coletivo.

Quando acordo - eu e meu livre arbítrio -, bato o ponto nesta enorme repartição pública, faço meus planos insólitos, escovo meus dentes flácidos, me banho num ritual de purificação e saio em busca do desconhecido. Não é muito viável acordar e dizer: hoje vou viver assim e assado. A realidade tem muitas realidades assíncronas, que interagem com zilhões de seres de vivos, humanos e não humanos; animados e inanimados.

Meus passos urbanos exterminam milhares de colônias de minúsculos insetos; me relaciono com estranhos que não têm o menor interesse no que sou, no que penso, no que faço. A maioria das pessoas com quem falo todos os dias não me conhece e jamais vai me conhecer, a não ser que o “acaso” aconteça, porque este é o sistema perfeito, não-caos, que usa consumidores e prestadores de serviços, doentes e médicos, alunos e professores, chefes e empregados para fazer sentido e fechar seus micro ciclos de 24 horas.

Você mapeia o seu DNA, mas não mapeia o seu próximo momento na vida. Tentar decifrar o código genético deste “Eu Real Caótico” é o mesmo que acreditar ser possível premeditar o que vai acontecer ao dobrar a esquina. Além do mais, o acaso não impede o desejo nem a vontade nem a concentração nem a disciplina nem as leis da física, que explicam um sem número de acontecimentos que já ocorriam naturalmente antes de Newton ou de Einstein.

Nada a ver com a famosa teoria do caos nem com as previsões astrológicas do meu amigo Bola. Eu me refiro ao fato de eu me sentir mergulhado num caos maravilhosamente imprevisível e livre da força do destino. Uma coisa é o destino, outra coisa é o livre arbítrio, outra coisa sou eu, outra coisa é você e tudo isso junto é o Caos, origem e fim do universo.

Li a Bíblia, nos últimos três anos, de forma até exaustiva e me confesso maravilhado com o conteúdo de um livro chamado “O Eclesiastes”. Aliás, foi assim que começou um dos acasos da minha vida, que mudaram o rumo da minha história.

E digo mudaram, porque eu cria existencialmente na minha capacidade de dar um rumo a ela. Lá está escrito: “Nada. Tudo névoa de nada”. A tradução do hebraico aponta o autor, como “Aquele que sabe”.

E eu não sabia que aquele que sabia, sabia que é tudo névoa de nada.

É assim mesmo. O sol nasce e o sol se põe. O resto acontece independente do que eu quero e do que penso que quero. O que quero está emaranhado no Todo e o Todo é o equlíbrio insensato.

Não pode haver sensatez no equilíbrio, porque as forças são desiguais. O equilíbrio gera a inércia e a inércia não atende aos requisitos do tempo racional. Logo, temos que escolher entre a noção do tempo e a noção do equilíbrio.

Sigo minha caminhada e entro numa padaria próxima. Peço um pão francês, recheado com fatias de queijo prato e mortadela. Abro uma lata de Coca Zero. Observo o sonhos fresquinhos e ainda quentes transbordando cremes por todas as bordas. O mundo é um sonho. Sim, um sonho de padaria e Deus é um grande padeiro.

Pela manhã o sonho espalha um aroma de desejo por toda a padaria e eu cedo à tentação, como melhor forma de vencê-la. Deixo o pão esperando no pratinho de sobremesa e me atraco com a doce delícia de sonhar. Estou sem carro. Meu carro está quebrado, há uns três anos, na garagem do apartamento da Barra e não o consertei até hoje, porque isto não foi uma de minhas prioridades. Na verdade, deixou de ser uma prioridade, acho, desde o dia em que li, num E-mail, um texto de um ex-estagiário meu, Rinaldo Gondin, redator excelente, mas numa carreira pouco caótica para a dimensão da sua criatividade.

Rinaldo é publicitário e não o vejo há algum tempo. Ele teima em voar e já tem dois aviões desses disfarçados de ultra-leves. Escreveu que estagiário deveria ser obrigado a andar de ônibus.

Brilhante! Dá seus motivos. Quando dirigimos nossos próprios automóveis, nos sentimos no volante do planeta. Temos o livre arbítrio e escolhemos a tal da linha reta – que agora foi trocada pela linha curva – porque temos que chegar o mais rápido possível.

Quando dirigimos, ultrapassamos pela esquerda, às vezes, pela direita, mandamos os outros passarem por cima, procuramos atalhos, túneis, viadutos, tudo em nome da pressa. Visamos ao destino, à chegada e perdemos o melhor: a viagem.

No ônibus somos meros passageiros. Acatamos o trajeto, o humor do trânsito e, de novo, estamos nas mãos de alguém que não nos conhece, não sabe dos nossos compromissos e nem quer saber.

Ele está lotado de problemas, de soluções, de vontades e desejos. Não tem tempo pra perder comigo.

Enquanto isso, danço conforme a música. Se consigo um lugar à janela, vou observando a arquitetura da cidade, reparando nas árvores, no semblante das pessoas e sempre me perco em devaneio. Saio dali e vou até onde não sei quem sou, conectando-me ao inconsciente coletivo. Lá, posso fazer planos à vontade, dimensionar projetos, fazer e refazer contas, a tempo de voltar e saltar no ponto certo.

O Rinaldo mudou uma parte da minha vida sem estar convivendo comigo. Eu mudei a dele, um dia, que chegou à Mental Mark pensando em ser Diretor de Arte.

Deixando a janela do coletivo de lado e abrindo o foco lateral, me pego refletindo sobre os programas religiosos que me servem de trilha sonora enquanto varo a madrugada, em busca de um novo roteiro recheado de idéias geniais. Pelo menos é isso que o meu patrão deseja para o próximo show.

Presto atenção no que os oradores afirmam sobre os atos do Mestre, penso no caráter de Jesus e se o que ouço faz algum sentido. Na noite passada, por exemplo, uma senhora, ao telefone, chorando, perguntou ao animador do programa de auditório, se o fato de estar desempregada e de, por isso, não estar podendo depositar os dízimos, teria relação com as fortes dores que vem sentindo no fígado?

Claro que não, bradei eu, embora, confesse que estava mergulhado num absoluto caos sonoro, com um rádio ligado na CBN, um CD do Lou Reed tocando no player, a TV ligada e escrevendo palavras aparentemente sem sentido, tudo ao mesmo tempo. A geladeira quebrou, mas aqui em Petrópolis toda madrugada é fria e por isso amo esta cidade provinciana, ainda com o ego traído pelo Imperador.

Chove. Tenho uma garrafa de Coca-Cola Zero quente, no chão, ao meu lado. Bebo um gole farto, deixo o gás se expandir dentro da boca e antes de engolir, cuspo tudo num susto que molhou até o monitor. O teclado? Bem, este é outro. Aprendi, desde pequeno a ter sempre em casa pelo menos dois ou três mouses e um teclado a mais. Me viro bem com os atalhos das teclas, sem o mouse, mas, pra que complicar? O nosso querido PASTOR R.R. Soares, com seu sotaque de mineiro solidário no câncer, ao responder à senhora do telefone, prvocou a explosão da minha bomba atômica: “Pode ser, minha senhora, pode ser. Leia, na Bíblia, no Salmo tal assim assim, que o Senhor manda que...”, enfim, sei lá qual foi o Salmo, mas sei o que ele disse e ele disse: o fato de a senhora não estar mantendo o seu patrocínio, pode sim estar acarretando num castigo de Deus.

Caraça! Pra quem acredita no Diabo, ele estava ali, na voz daquele infeliz, que se intitula um agente da palavra de Deus. Ora, Deus não pode ser nada disso. E também não pode assistir passivamente ao estupro de mulheres e de crianças; nem à corrupção endêmica e avassaladora que desmata, desmonta, explode, implode, julga e condena, Mas, se entendermos que Deus nada tem a ver com essa coisa toda, porque essa coisa toda faz parte do plano do homem e não do Seu plano, aí sim, quem sabe, vamos entender o verdadeiro sentido do Caos, que dá a cada um o livre arbítrio para escolher o que fará com a sua própria vida, em relação ao Todo.

O universo, conectado e orgânico, pulsante e sonoramente uníssono, está grávido de todos os pensamentos humanos e não humanos.

A energia gerada pela fusão de todos os cérebros é apenas energia, sem direção e sem produção artística. E não é complicado entender como a coisa funciona. Basta juntar as energias do Pastor Soares, do Pedro Bial, do Fausto Silva, do Bush, do Gugu Liberato, do Osama Bin Laden e do Cid Moreira.

Para equilibrar, adicione as energias da Madre Teresa de Calcutá, de qualquer criança recém-nascida, de Jesus Cristo e a sua... coloque tudo na coqueteleira e sacuda no ritmo frenético de um jive dos anos 70.

Tire a tampa, coloque no copo, beba e seja bem-vindo.

A responsabilidade de Pensar é uma coisa complicada. Imagine, por exemplo, um jogador de futebol com a bola nos pés, na linha de fundo, tendo a sua frente, metade dos jogadores querendo tirar-lhe a bola e a outra metade esperando que ele acerte o cruzamento com perfeição. Pense nos cálculos que ele teria que fazer em uma fração de segundo, antes de decidir. Comece pela visualização do ângulo perfeito, pense no efeito e na força necessários para que o tempo de chegada do atacante ao ponto futuro se harmonize perfeitamente com a potência do chute. E não esqueça de enviar todas as ordens, corretamente, aos músculos que vão participar da jogada.

Agora multiplique esta operação por 90 minutos, com e sem a bola e, depois, por todos os jogos e depois por dez ou mais temporadas. Nenhum ser humano é capaz de pensar nisso tudo, sem que o adversário saia com a bola nos pés.

Esqueça, você não faz a menor idéia do que está acontecendo. E se me disser o contrário, direi, como Pirandello, que “assim é, se lhe parece”.

Viver faz parte do cotidiano, mesmo quando as partes não conseguem chegar a um acordo que beneficie a vida e não a morte. É mais ou menos assim, ou melhor, acho que é assim porque não me parece existir lógica que explique a vida. Nem razão que nos faça aceitar a morte.

Este pequeno detalhe é que me leva a perceber a vida como a mais genial manifestação artística do universo e não como um artefato matemático que se possa expelir como uma equação cartesiana.

Estamos por aqui, defendendo nossos interesses durante este breve lapso de tempo, esperando o momento certo para decidirmos se vamos nos sentar na platéia e aplaudir ou se vamos subir ao palco e ser aplaudidos.

Na minha maneira de ver, o livre arbítrio opera aí. E já é muito mportante o seu papel.

Você, o que acha?

Se vai ser ator, será o ator principal ou um mero coadjuvante?

E quem vai escrever a sua fala?

Viver é mesmo uma arte. E como toda arte, traz na essência o caráter representativo de cada artista. Nós e nossas personalidades únicas e controversas. Nós, os nossos próprios personagens, de dentro de nossas máscaras, tentamos de todo modo nos eternizar vivos, para que sejamos esquecidos com um certo carisma depois de mortos.

Sagaz como a vida e mordaz como a morte, Lord Henry, personagem autobiográfico de Oscar Wilde, em O Retrato de Dorian Gray, não vacila quando afirma que a beleza é a única forma estética realmente importante. E, que se nos preocupamos em nos aculturar, razão outra não há, senão a da certeza de sua efemeridade.

A cultura, pois, parafraseando Wilde, é a tentativa de nos mantermos interessantes, mesmo quando envelhecemos.

Mas, como tudo isso funciona no mais caótico subterrâneo da nossa consciência?

Deixando-se de lado, por um momento, crenças e dogmas?

Sem eles, será que existem expectativas concretas para o nosso futuro, além da própria morte?

A natureza, perfeita e inquestionavelmente astuta, nos deu o dom de recriar a vida. Como Miquelangelo ou DaVince, esculpimos com sêmen e óvulo nossas obras de arte vivas, mas com diferenças fundamentais: as esculturas são imortais e seus criadores não têm ligações consangüíneas com elas.

Ao contrário, ao gerarmos vidas, nos responsabilizamos genética e sentimentalmente por elas. Isso também acontece com nossos antecedentes e assim nos constituímos em células sociais que demandam mais do que responsabilidade e parceria, transformando de maneira consubstancial a razão de viver e de progredir, enfrentando todo tipo de acaso.

As raízes que criamos nos oprimem e influenciam diretamente o nosso comportamento cotidiano.

Inevitavelmente estamos pressionados o tempo todo por vetores misteriosos que nos reprimem e nos comprimem até que nos deformemos e assumamos uma nova personagem. É aí que trocamos de cenário e começamos um novo ato. Se é que existe um fator inteligentemente decisivo em nossa ânsia de sobrevivência, ele está explicitamente implícito na realidade da morte.

Dêem-nos a eternidade e lhes daremos o inevitável ócio.

Dêem-nos a segurança e devolveremos esta doação com preguiça e imobilidade.

O que nos impele a viver e a progredir, sem dúvida, são os aspectos éticos e morais do vínculo familiar, da responsabilidade herdada e transmitida, em oposição à certeza da morte. O resto é conseqüência. Nos estruturamos e nos desestruturamos todos os dias muito mais em função da ansiedade do que do conhecimento. É estúpido dizer que quanto mais ignorantes, somos mais felizes, quando estamos diante de um mundo totalmente iconográfico.

Saber ou não saber, ser ignorante ou não, não nos leva aos lugares que vamos nem ao encontro das pessoas com as quais criamos laços afetivos. Há, por trás desta brincadeira, uma necessidade imperiosa que nos faz encontrá-los, de maneira intencional ou não.

E a isso, entendo como Caos.

A diferença, portanto, não me parece estar na inteligência nem na distância entre nós e nossos cenários e sim entre nós e a nossa própria inexistência.

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