
Capotagens estragam mais os carros do que as pessoas. É raro alguém sair muito ferido ou morer numa capotagem. Mas pode acontecer. Claro.
Hoje foi meu dia de capotar. Eu vinha a uns 300km por hora, olhei a marca dos 200 metros, mas confesso que não quis frear. Há momentos numa corrida em que o piloto precisa desafiar a força centrífuga, mesmo que a gravidade tenha conseqüências mortais.
Fiz a tomada, dei um leve toquinho no freio, no punta-taco joguei o volante e entrei, ou melhor: não entrei. O carro saiu rodando, rodando, rodando, passou a área de escape, bateu no guar-rail e... capotou.
Por alguns segundos experimentei um monte de coisas: da tal gravidade zero ao filme da minha vida. Mas não tinha mesmo volta.
Ou eu fazia o traçado como todo mundo faz ou arriscava passar dos limites e bater. Passei. Acho, no fundo, que foi quase um suicídio. Eu queria mesmo experimentar o desconhecido.
Morri.
Escrevo este texto morto. Onde me encontro agora, há lugares iguaizinhos aos que vi aí na Tera. Vejo as pessoas como as via antes. Nada me parece diferente e mesmo toda aquela história de luz forte, temperatura amena, anjos e vozes, pelo menos aqui não rola.
Sei que morri, porque acabou.
Terminou-se o tempo da competição, das corridas desenfreadas atrás do impegável, do impossível.
Sei que somos imortais e, apesar de Deus não ter vindo me dar boas-vindas, vou ver se me encontro com Ele mais tarde. Passei na recepção, marquei uma audiência e aguardo o chamado com a senha na mão.
E agora? Agora, meu irmão... é reconstruir o caro, lavar o macacão e partir para a segunda bateria.
Que venham os novos adversários.
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