Conversávamos, eu e alguém, sobre assunto que não vem ao caso, quando algo estranho aconteceu. Não sei precisar o quê nem o motivo que gerou a celeuma, mas o certo é que não havia motivo. E daí por diante mais nada aconteceu. Burburinho leve e distante, inaudível e impenetrável. Dizem-me que fora um hiato ou que pudera ter sido um lapso, uma concausa qualquer, sem importância detetável, a gerar-nos ruído e desconforto, transmutando o certo em torto, o claro em obscuro e deixando-me o paladar azedo.
Restou-me dúvida cruel, seguida de palpite imaginário.
Teria sido fragmento encapsulado em algum ponto distante, que desprendeu-se e causou efeito?
Ou teria sido um ponto distante que se aproximou como cápsula e explodiu-me no céu da boca?
Conversamos, eu e você, sobre assunto que não vem ao caso, quando mais nada de estranho pode acontecer. E posso precisar daqui, que seja lá o que tenha acontecido, não serve como explicação, pelo menos para o que eu não quis dizer.
Uma idéia celular, uma convergência de diferenças, uma tese sobre a inutilidade dos sentimentos voláteis?
Não sei.
A fome inadministrável, o talento desperdiçado, o groove de Jimmy Smith, as notícias novas e logo velhas da CBN, o ouvido que insiste em não parar de doer? Sei lá. Só sei o que Erwin Rudolf Josef Alexander Schrödinger sabe. E isso pode não ser o bastante para explicar o que aconteceu: nem quando conversávamos, eu e alguém, sobre assunto que não vem ao caso, nem agora, sem ninguém por perto, além de mim.
E de ti.

Nenhum comentário:
Postar um comentário