
Eu namorava a Christina (Maria Christina, não a Carvalho nem a Cunha, que vieram em seqüência) e a gente varria o Rio todo em busca de fitas que ninguém tinha, ninguém sabia nem do que se tratava. Assim, até que o Fernando Mariano o visse, ficasse louco e partisse para a importação direta, fundando a Embravídeo, o jeito era me contentar com a fita de 30 minutos que vinha com o paparelho.
A primeira imagem gravada foi a do grupo americano "Rare Earth", tocando "Get Ready", ao vivo, com mais de 8 minutos de performance e direito a solo de bateria com as mãos. Mas era um vídeo muito longo para o tamanho da minha ansiedade e assim, logo depois de vê-lo e revê-lo umas duzentas vezes, eu o substituí por trechos do programa "Rock Concert", produzido pelo Nelson Motta.
E foi neste programa que assisti maravilhado a um vídeo-clip fantástico, do Grateful Dead. O clip começava com o som bastante velado, sem qualquer definição e logo achei que "a cabeça de áudio" devia estar suja. Ignorância natural e aceitável, mas, logo em seguida, quando, em desenho animado, a Estátua da Liberdade invadiu uma cadeia, soltando o presidiário, tudo mudou. Inclusive eu, que jamais seria a mesma pessoa.
O Dead era tudo que eu queria de uma banda de Rock. Claro que já os conhecia. Eu os tinha visto, em 73, no Autódromo de Watkins Glen e, em 76, no Madison Square Garden, mas aquilo ali era diferente, era fantástico, pelo tudo "de novo" que compunha o clip: de cara, U.S. Blues é uma canção definitiva, um clássico; o GD sempre foi o 'high-end' da tecnologia de palco, da desarrumação bacana, lissérgica, sim, mas sem qualquer excesso, sem muito peso e sem muito barulho; os Dead-Heads, platéia que os acompanhou ao longo de toda(s) a(s) carreira(s) é incomparável e a interatividade com o palco é total.
Ao ver aquele video, gravado ao vivo, saí de casa e parti pra Modern Sound, onde encontrei o LP duplo, capa branca, com a caveira de sempre e o raio circundando-lhe o crânio, em azul, vermelho e branco.
Até hoje tenho guardada a minha fita, de marca JVC e 30 minutes long, com este clip do GD. Pensei que fosse uma relíquia a cruzar o tempo e a me encher de orgulho, porque quando trabalhei no Rock in Rio I, perguntei ao próprio Nelson Motta se aquele vídeo ainda era "vivo" e ele me garantiu que nada daquilo sobrevivera às novas tecnologias de broadcasting. "Tudo bem, eu tenho", disse eu... "se você quiser uma cópia".
Jamais fiz o modelito Mauvall que tem as coisas, mas não divide, não grava, não empresta. Fui um dos maiores colecionadores de piratas dos Beatles, na época da Maldita e organizava os ouvintes, lá mesmo na rádio, para que levassem suas fitas e gravassem o que quisessem. E muito do sucesso da rádio veio desta brodagem.
Estava no Youtube e me lembrei do vídeo. Digitei "U.S. Blues" e vieram outras performances. Insisti, mudei a chave da busca e aqui está ele. Se quiserem viajar no tempo, cerca de 35 anos, 'take a trip'.
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