
Nada que preste, que faça o dólar subir ou descer. Uso este espaço para me distrair e nada mais do que isso.
Aqui sou tantos, diferentes, controversos, agudos, graves, reticentes, que nem eu mesmo me reconheceria se juntasse tudo num volume só. E é exatamente por isso que gosto deste pequeno espaço. Pelas possibilidades.
Aboli o perfil inteiro, porque não tenho nada a dizer sobre o que como, quem como, como como, cozinha, cigarro, bebida. Isso tudo é problema meu. E só meu... custei a perceber isso, mas felizmente percebi.
Além disso, preenchê-lo é tão ou mais chato que comprar a prazo, com a diferença de não ter que aguardar a aprovação do meu crédito.
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Mudando de Guimarães para rosas...
Falam muito em democracia. Eu não falo muito em democracia. Eu sempre a exerci aqui, sob ótica da minha própria liberdade. Mesmo assim, só naquilo que me interessa.
Não me importo com essa noção de Estado que rola por aí. Quando estudava, aprendi que "Estado é a nação politicamente organizada". Se é isso mesmo, acho que o Estado brasileiro simplesmente inexiste e nem sei se isso é uma pena.
Celso Viáfora, compositor tão inteligente quanto desconhecido do grande público, certa vez escreveu uma canção chamada "A Cara do Brasil", que retrata isso com o detalhamento cirúrgico de um Romario. O chato do Ney Matogrosso fez a gentileza de gravá-la e, se não a tornou popular, pelo menos fê-la chegar a uma boa parte do público consumidor de farofa.
Quanto ao Celso, eis algumas linhas que estão no website dele.
"Celso Viáfora é capítulo do livro “Tem Mais Samba” do escritor e jornalista carioca Tárik de Souza.
Celso Viáfora foi mote de crônica do também carioca Aldir Blanc e capítulo do livro “HERANÇAS DO SAMBA” que o poeta e letrista escreveu junto com Hugo Sukman e Luiz Fernando Vianna (Casa da Palavra – 2004).
Celso Viáfora teve a sua letra, para melodia de Vicente Barreto, intitulada “A Cara do Brasil”, utilizada como referência no capítulo final do livro “BR 500”, do historiador Chico Alencar.
Celso Viáfora tem seu texto citado em livros de crônica, sociologia, literatura escolar, cai em exame vestibular...
Celso Viáfora foi capa do caderno de cultura dos principais jornais do país.
Celso Viáfora é verbete nos dicionários de Música Popular Brasileira."
E por aí vai.
Eu estava esparramado na rede
Jeca urbanóide de papo pro ar
Me bateu a pergunta, meio à esmo:
Na verdade, o Brasil o que será?
O Brasil é o homem que tem sede
Ou quem vive da seca do sertão?
Ou será que o Brasil dos dois é o mesmo
O que vai é o que vem na contra-mão?
O Brasil é um caboclo sem dinheiro
Procurando o doutor nalgum lugar
Ou será o professor Darcy Ribeiro
Que fugiu do hospital pra se tratar
O Brasil é o que tem talher de prata
Ou aquele que só come com a mão?
Ou será que o Brasil é o que não come
O Brasil gordo na contradição?
O Brasil que bate tambor de lata
Ou que bate carteira na estação?
O Brasil é o lixo que consome
Ou tem nele o maná da criação?
A gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho
Ninguém precisa consertar
Se não der certo a gente se virar sozinho
Decerto então nunca vai dar
Brasil Mauro Silva, Dunga e Zinho
Que é o Brasil zero a zero e campeão
Ou o Brasil que parou pelo caminho:
Zico, Sócrates, Júnior e Falcão
O Brasil é uma foto do Betinho
Ou um vídeo da Favela Naval?
São os Trens da Alegria de Brasília
Ou os trens de subúrbio da Central?
Brasil-Globo de Roberto Marinho?
Brasil-bairro: Carlinhos-Candeal?
Quem vê, do Vidigal, o mar e as ilhas
Ou quem das ilhas vê o Vidigal?
O Brasil encharcado, palafita?
Seco açude sangrado, chapadão?
Ou será que é uma Avenida Paulista?
Qual a cara da cara da nação?
A Cara do Brasil
de Celso Viáfora
de Celso Viáfora
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