Não? Se não é, pelo menos a mim me parece.
E se me parece, conforme parecia ao dramaturgo siciliano Luigi Pirandello, é.
Mas não é.
Voltar é mais fácil do que ir. Ir, demanda ação, ímpeto, vontade. Para ir-se a qualquer lugar é preciso força. Ir dá preguiça.
Voltar dá alívio.
Há controvérsias. Sempre há controvérsias. E exceções.
Ir ao supermercado é bem mais agradável do que voltar. É que a gente vai leve. E volta pesado. Não é o caminho que faz a diferença, mas o peso do tempo.
Enquanto estamos lá, vamos enchendo nossos carrinhos e esvaziando os bolsos.
Enquanto os carrinhos cheios pesarem mais do que o dinheiro no bolso, vamos ter essa sensação.
É isso. São as sensações que nos fazem imaginar que o caminho de volta é mais curto. E não o percurso.
A sensação é parceira do cérebro. A imaginação é parceira do espírito. E ambas nos induzem ao erro.
Ao contrário do que eu imagine ou sinta, do que você ou qualquer pessoa imagine ou sinta, o caminho da vida não tem volta.
Ao nascer recebemos o nosso carrinho, damos as primeiras voltas pelos corredores do supermercado do tempo, com uma diferença: não vamos chegar ao caixa.
Essa conta não fecha. E não foi feita mesmo pra fechar.
Ao longo da vida vamos acumulando tudo. De sentimentos a pensamentos; ações continuadas e descontinuadas, bens - e males - móveis e imóveis, amizades eternas e descartáveis, relacionamentos, idiossincrasias, fobias e experiências.
Viver é experimentar tudo. Quanto mais se experimenta, mais se vive. Repetir experiências, a mim me soa como pegar o próximo retorno para tentar ver o que não viu, pegar o que esqueceu.
Isso é inútil.
A mente não processa quase nada em relação ao que acontece. É, por isso, inútil voltar e tentar resgatar o que ficou pra trás.
Quando a gente volta é porque a vontade de viver é menor que a de lembrar.
Você não vai voltar no tempo. Não dá. Não vai linkar um sentimento vivido com a expectativa de vivê-lo novamente. É provável que aconteça uma aventura com os mesmos personagens.
Mas com um roteiro completamente diferente.
Outro dia eu pensei na possibilidade de a vida ter volta.
Acho que foi ao ler um texto atribuído ao cineasta Woody Allen, onde ele, com seu humor sarcástico, mas já cansado e previsível, diz que deveríamos nascer ao morrer e viver a vida toda ao contrário. Mais ou menos isso. O texto é bem melhor do que ele, o que me impede de creditar-lhe a autoria.
Puro desacato.
Deus não nos concederia o privilégio de saber de onde viemos quando morremos.
Carole Laure - canadense, linda, expressiva, sensual, talentosa, genial, precisa e preciosa.
Hoje uma senhora de sessenta e dois anos.
"Save the Last Dance For Me"
Hoje uma senhora de sessenta e dois anos.
"Save the Last Dance For Me"
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