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Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

QUANTO MAIS MORRE O MICHAEL JACKSON, MAIS SOU FÃ DO PELÉ.





Confesso que meu humor "Michael Jackson", tipo dominó (negro, com pinta de branco) quase me fez começar esta crônica com um trocadilho meio sem graça (e sem sentido). É que eu fui escrever celebridade, mas, não sei porque, me veio "ser/lebridade".
Pois então que meu humor vença.

Ser/lebridade não deve mesmo ser fácil. Se fosse, o Elvis não tinha acabado como acabou: dando tiro em tela de TV. E eu fico me perguntando, além da tal agenda mirabolante de shows, o que mais o Michael Jackson ia fazer pra tentar (re)aparecer. E bastou ele morrer, pra vir a Jacksonmania de volta, trazendo até o tal do Uri Geler, na bagagem.

Sei lá. Deve ser uma vida esquisita. Claro que, quase sempre, só os potencialmente loucos piram, vide Paul McCartney, que continua são, Mick Jagger, Peter Gabriel, a própria Madonna, enfim, esses e mais outros que se locupletam do glamour sem viajar na mariola. Mas não deve ser fácil.

Eu, pessoalmente, até posso me dar ao luxo de dizer que só funciono bem sob pressão. Mas, certamente, digo isso, porque não sou celebridade nenhuma, principalmente uma daquelas que vivem em Los Angeles.

Quem leu o livro do Bob Dylan pode compreender exatamente o que é isso e o que estou tentando dizer.
Rico e famoso, aos vinte e poucos anos, Dylan viu, diuturnamente, sua casa, em Woodstock, cercada por fãs, por loucos, por mães que queriam que ele abençoasse seus filhos, por sindicalistas que exigiam mais engajamento no próximo disco. E ele não queria saber de nada disso. O negócio dele era fazer música, apenas folk-music e nada mais, cuidar da família, brincar com os filhos e "trabalhar" em paz.

O inferno chegou a tal ponto que, depois de se mudar inúmeras vezes, tornando-se, na prática, um "sem teto", teve uma grande sacada: fazer tudo ao contrário.
Assim, não só manteve a sanidade, como atingiu o objetivo de decepcionar a todos, inclusive críticos de música, fãs, imprensa em geral, reconquistando a sua liberdade.

Trocou o violão pela guitarra, deixou de ser um artista solo e passou a ter uma banda (quase) de rock (The Band e depois tom Petty e os Heartbreakers) a acompanhá-lo, deixou de lado às letras ao mais puro estilo Chico Buarque - político - de lado e começou a escrever letras amenas, que falavam de amor e sobre temas abstratos. Mas isso foi só um pedaço, uma pequena parte dos novos e novos Dylans que passaram a nascer e morrer rapidamente, tornando-se parte do novo repertório do "show da vida" dele.

Judeu, virou cristão: gravou três discos "gospel" em seqüência, refez arranjos dos próprios sucessos e passou a cantá-los como se fossem canções estranhas, de alguém de quem quase não ouvira falar. Dylan precisou reinventar-se para poder continuar com os mesmos princípios, nos mesmos 'meios', objetivando os mesmos fins.

Mas esta é a história do Dylan e para vivê-la e sobreviver a ela a tempo de escrevê-la é preciso ser mais do que um artista que dá gritinhos, rebola e se faz passar por lebre, mesmo que não chegue a ser raposa. É preciso ser "homem" e ter convicção do que está fazendo com a própria vida, dentro e fora do palco.
Dylan é muito claro, quando diz que, mesmo que sua música questionasse o stabilishment com críticas contundentes, o homem não tinha nada a ver com movimentos ou lideranças sindicais; com líderes de qualquer espécie, gurus, seguidores, coisa alguma.
Michael, ao contrário, com seus pitis, bichices e estrelismos, queria ser parecido com Diana Ross.
Uma 'personalidade mundial' sem um pingo de personalidade individual. Pensar como homem, parece nunca ter sido o ponto mais alto e mais forte de Michael Jackson.
Especulam sobre sua morte. Andam dizendo - não é fofoca, está na internet e em todos os jornais - que quem o acompanhava de perto, sabia que isso poderia acontecer a qualquer momento, tal a quantidade de analgésicos que ele ingeria diariamente.

Nesse aspecto, o testemunho do Elton John, que quase foi, também é comovente. E eu me pergunto, o que faz um artista, um esportista, um ator, um músico, seja lá o que for a chegar ao ponto em que chegou Michael Jackson?
Por que a maioria dos tenistas profissionais, também celebridades mundiais, dos pilotos de competição, como 'o alemão', conseguem reunir a imprensa e dizer "paro por aqui" e outros não conseguem, deixando que o futuro se torne um poço sem fundo?
Ah, aí entra, no caso do Michael Jackson, a velha história do pai. História, entretanto, que parecia não incomodá-lo tanto quando estava no topo do mundo. Pera lá. Michael Jackson tornou-se um doente mental, um zumbi obsecado por sangue azul e oxigênio, acumulando tiros n'água atrás de tiros n'água, por mais de duas décadas, sem conseguir reverter a situação.
No lugar dos discos de ouro e platina, vieram os processos por pedofilia. Imagens bizarras de sua auto-mutilação, através de cirurgias que produziram conseqüências mostruosas, doenças, manias, falência.
O episódio dos direitos sobre a obra dos Beatles - não à compra, posto que fora à leilão público, mas o fato de impedir que qualquer um dos Beatles, inclusive o seu eventual parceiro de composição Paul McCartney, pudesse regravá-la - é patético, ridículo.

Que Michael Jackson não tinha condições físicas para fazer 50 shows, era mais ou menos esperado. Mas que ele não tinha condições mentais para continuar vivendo era certo.

Lamento pela precocidade de sua morte. E só. A mim não me fará a menor falta. Sempre achei - e já escrevi - que se o Quincy Jones tivesse encostado um dedo na Elza Soares, ela seria, hoje, considerada a maior cantora do planeta. "Off the wall" é um ótimo disco, mas atrapalhado pelos gritinhos irritantes do que partiu. Como eu disse, lamento pelos que lamentam, mas eu não lamento nada. Que ele descanse em paz.

E aí, me vem a imagem do Rei Pelé.
"Deus do futebol e de todos os estádios". Celebridade universal, mesmo tanto tempo depois de encerrar a carreira. Ídolo em todos os continentes, mito de todas as torcidas, um homem capaz de interromper uma guerra com a sua presença. Lembro do Pelé, usando a mídia e o momento do milésimo gol para alertar sobre as crianças do Brasil, sobre o futuro da nação brasileira. Lembro das críticas que advieram e de todas as outras que advém quando faz um comentário como: "O brasileiro não sabe votar". E sabe?
Pelé, com sua elegância majestosa, sempre tocou a bola para quem está mais bem colocado. Fez com Coutinho a dupla que Michael Jackson não teve dignidade para fazer com Quincy Jones. Talvez porque, ali, ele fosse o Coutinho.
Acho que isso tudo se resume em uma única palavra: dignidade.
É preciso dignidade para se chegar aos 70 anos, sendo unanimidade mundial e sem jamais ter se deslumbrado com a fama, a riqueza e com a tal da celebridade.
Tequila Evaporada. Chuva Forte.


Richard Cheese - Beat It

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