
Você me elogia as diferenças, mas me quer igual a todos os seus, como se seus - e não deles - fossem eles, digo, os seus.
Mas, sinceramente, quer saber? Acho que você tem razão.
A maioria é una, se mistura, se confunde e por isso até se assemelha. O povo é muito parecido. A tal ponto que, nas relações afetivas, a fila está sempre andando, entrando um e saindo outro, com extrema facilidade. E velocidade.
Se você se alugar ao tempo, por pequena que seja a fração, se descobrirá repetindo as mesmas fórmulas e os mesmos moldes, recopiando estilos e características. O ser humano é assim.
O nome disso é estereótipo e você, com certeza, já deve ter ouvido falar. As pessoas se apaixonam pelos próprios estereótipos imaginários e não pelo ser que vive no outro. Acho que os psicanalistas chamam isso de projeção. Como não entendo nada de psicologia, chamo mesmo de falta de criatividade.
A maioria das mulheres tem namorados parecidos. E, claro, vice-versa.
Zé Ramalho, o fantástico artista universal, cantou esta similaridade - ou esta vulgaridade - em "Vida de Gado" e não esqueceu de completar o refrão com a verdade de fé que fecha a estrofe:
"Povo Feliz".
Dentro de você, saiba você, ou não, nada aprecia e deseja mais o igual do que o seu EGO.
Ele está aí para isso mesmo.
Para evitar ao máximo o que é diferente, o que é desconhecido, o que surpreende, o que não faz "sentido".
Mas, espera um pouco: o que é fazer sentido?
O que faz sentido com que?
Fazer sentido exige correlação. Logo, é preciso que haja um referencial, para que algo ou alguém faça sentido.
É verdade. Eu não faço o menor sentido. Não faço sentido mesmo. E quando conversamos sobre teses e dissertações eu pulo e aponto: "Você vai apreender isso como referência do que é ou do que já foi?"
Você não precisa olhar para o igual e vislumbrar o diferente. Não precisa reformular nada. Pode seguir margeando a vida como o turista que se embevece diante de praças, monumentos e museus.
Mas eu preciso.
Eu critico. Interpolo comentários e visão autoral em tudo que se me esbarra. Eu não tenho o menor respeito pelos clássicos, não me presto à babação nem à pasmacéia.
Eu aplaudo, vibro, me emociono, choro, mas dali em diante transformo em meu tudo que ainda não é. Mas será.
Dispenso elogios. Anseio por críticas. Sempre. Tapinhas nas costas, sorrisos largos e afagos em hora imprópria, me irritam profundamente.
Quero o sangue e as vísceras de cada palavra que escrevo. De cada paixão que vivo, de cada corpo que me come. Quero o "hard-core" e não a baba.
Entendo, por isso tudo, que o seu desejo de me formatar seja frustrado pela minha indomabilidade, mas sou assim. E, ironicamente, é esse o cara que você elogia.
Faz parte.
Talvez haja um ruído alérgico entre nossas antenas. Quem sabe, a química que nos une seja incompatível aos nossos comportamentos sociais?
Segundo sua amiga, eu sou sangüíneo.
E você, o que é?
Tequila "frozen" evaporada! Chuva Forte!
Se Todos Fossem Iguais A Você - Tom, Vinícius E Toquinho
Como é bom te ler... Estou me deliciando com tudo aqui! Um beijo e vá me ler também!!! rsrsrs
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