Este perfil vale para o Ferro De Bog Blog e para O Caramelo Azul

Minha foto
Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil
Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

sábado, 8 de agosto de 2009

LEXOTAN

Encheram o meu quintal, onde o espaço e eu éramos um só e livres, - pelo menos até os limites do muro alto - com árvores de madeira rústica, estética duvidosa e folhas esverdeadas.

Diminuíram os seus e os meus metros quadrados mais lúdicos, deram palco ao cantar irritante,
atonal e estridente de pássaros vira-latas.

Esfaquearam o cimento do chão, onde a bola quicava simetricamente, e nele plantaram capim, espalharam uma terra suja, marrom e empoeirada, habitada por sórdidas minhocas e formigas desproporcionais.

Sempre, depois disso, quando tropeço, meus joelhos ralam, não sangram, mas ardem e dessoram por dias a fio sem cicatrizar.

Trocaram a velha bica torta e enferrujada, de borboleta emperrada e trapo de pano vencido que vedava a junta, por uma ducha Corona, cafona.

E o pior, mentiram pra mim: disseram-me que fizeram isso para me dar um banho de alegria num mundo de água quente.

Bastardos: tiraram da água fresca corrente, o sabor da minha infância metálica. Ou o sabor metálico da minha infância.

O velho tanque, no canto direito, antes cinza, de cimento liso e rachado é agora um monte de entulho prestes a ser transportado em caminhão velho, fretado por alguém que, com certeza, me odeia.

Não ouço mais o canto da lavadeira, aquela preta velha que me chamava de Sélgio.

A paranóica modernidade ecológica invadiu a doce lembrança dos meus cinco anos e fez evadir-se a minha felicidade de plástico.

Só me falam agora em efeito estufa, camada de ozônio, H1N1, Business Plan, default e undo.

Cadê meu trator laranja, de guidon duro e freio contra-pedal?

Eu quero o meu trator laranja, o meu jipe 51, de capô baixinho e reservatório de gasolina preso na lateral. Roubaram meu capacete, minha espada de Ivanhoé, meus óculos de Mike Nelson, meus LPs da Rita Pavone.

Onde estão meus amigos franzinos e minhas cicatrizes bizarras, na testa, nos cotovelos,
nas costas e perto da bunda? O que fizeram com a velha cartola e com a minha bengala de Bat Masterson?

Eu quero saber. Eu preciso saber.

AVC, CTI, ARMS, TOC, CPI, CNN, TNT, HTTP, MPLA: odeio siglas e doenças.

Soube hoje que meu pai, que é Flamengo, doente, paga mil e seiscentos reais por mês para poder ficar doente com respeito e dignidade.

E, no entanto, a Unimed gasta o dinheiro dele com o time do Fluminense.

O Senado Federal... da mãe Joana. A Petrobrás... da mãe Joana. O Judiciário... da mãe Joana.

Estranho, muito estranho, esse tal país do futebol, aliás... da mãe Joana.

O casal Nardoni permanece preso!?!?!?!?!?! Já vai sair, podem apostar.

Minha vizinha gostosa, coitada, engordou, a bunda murchou, o peito caiu, o cabelo desbotou.

Envelheceu.

Depois de velha, criou juizo e meteu insulfilm na janela do quarto de dormir.

Mas, agora é tarde: morreu de lipoaspiração.

As TVs que eram móveis viraram quadros, penduradas nas paredes.

As paredes viraram divisórias de papelão.

Antenas viraram parábolas, parábolas viraram hipérboles, brócolis virou remédio e as doenças não têm mais cura.

O que era ferro virou de plástico, o que era de plástico virou de papel, mas agora tudo isso é anti-ecológico: ferro, plástico, papel.

Manteiga faz mal. Não, margarina faz mal. Não, não, é a manteiga mesmo, a margarina dá câncer, mas não faz tão mal assim.

Cigarro é permito. Fumar é proibido.

Tamiflu tem de montão. A gente não pode é tomar, porque o vírus pode ficar mais forte, se a gente tomar Tamiflu.

Tâmufu, mas deixa pra lá.

Ah, Jorge Mautner...

"De acordo com a lei estabelecida, de vingar sempre a morte, com a vida, cada neto de outro inseto, fica mais forte tomando inseticida".

Onde foi que eu errei?

Não me bate, não me bate. Eu não fiz nada. Eu juro que não fiz nada.

Música sertaneja estudantil, música sertaneja universitária, música sertaneja doutorada, música sertaneja pós-graduada, música sertaneja... Axé, Axé, Axé!!!

Confesso que também já fui doidinho por aquele pianinho, com Caixa Leslie e amplificador.

Descansa em paz, Zé. Já que eu não consigo descansar.

Os bits mataram os harmônicos e os sub-harmônicos do lá-maior.

Enfim, tô de saco cheio. "Cadê meu disco voador?"

E você aí, que só fala bobagem?
E você aí, que só pensa bobagem?
E você aí, que só faz besteira?
E você aí, que "se acha" o tal?

Pra dirigir, preciso de carro blindado, vidros pretos, curso de direção defensiva, IPVA, DUT e ainda exigem que eu sopre o bafômetro.

Caraca! Eu nem bebo álcool.

Pra dormir, preciso de paz. Não tenho.

Preciso de sono, não tenho.

Então preciso de Lexotan.

Ainda bem que pra morrer, só preciso esperar.

Boa noite.

Até amanhã.

Daevid Allen - The Death Of Rock

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Passaram por aqui, desde 14/12/08.