Mas nada disso é o que mais importa.
Ao longo da vida tenho colecionado amigos ímpares, amigas únicas e ainda assim não são poucos.
Alguns lúcidos, outros loucos, mas todos de verdade: cada um do seu jeito. Inclusive eu.
Sim, sou meu melhor amigo. Sempre fui. Desde os tempos de criança, quando não era, necessariamente, quem tirava par ou ímpar nas peladas, mas decidia se ia ou não fazer parte do time que me escolhesse.
Eu sempre escolhi meus parceiros, meus comparsas, meus cúmplices. Mas, seguindo as regras do jogo, o meu time sempre teve titulares e reservas.
Empenho, lealdade, determinação, coragem, garra e parcialidade, pra mim, sempre contaram muito. E eu jamais assumi a condição do técnico, do que escala. No meu time titular joga quem se revela, quem se dispõe a suar a camisa, perdendo ou ganhando, na ponta ou na lanterna.
Conheci você lá atrás. Faz um tempão. Eu, colorido, você monocromática. Na dança dos signos, libra passa batido, virgem pára, observa e detalha. Na aldeia dos ventos, libra sopra em todas as direções, virgem zela e examina, não deixa que as ocas voem pelos ares.
Ar e terra.
E quando os menestréis alçaram vôo, eu viajei. Você controlou da torre.
O tempo passou e a gente era assim mesmo: asa e pista. Até 1983, quando conhecemos o Valter, quando criamos o grupo, quando oramos juntos, quando estreitamos nossos laços e construímos, juntos, um arranha-céu. Com bases sólidas e a cabeça nas nuvens.
Em 1984, minha mãe enfartou. Eu quase morri. Você me internou. No seu colo, na sua casa, me deu Natal, ceia, carinho, sentido de família – no momento dilacerado. Mas, antes, numa noite qualquer, de um novembro maluco, no mesmo 84, fomos juntos visitar minha mãe no Prontocor da Lagoa e depois, comer um “Tempos Modernos”, no antigo Chaplin, da Visconde de Pirajá, em Ipanema.
Naquela noite a gente conversou e conversou e conversou até de manhã. E descobriu um monte de coisas ainda mais importantes: que nada, jamais, sob hipótese alguma, abalaria a nossa finíssima sintonia.
Afinal de contas, dentre muitas outras coisas, ambos tínhamos – e temos até hoje – uma mesma referência humana: Dona Air, minha mãe.
A titularidade veio naturalmente. Viajamos com a Chris, passeamos de Passat, de Dodginho, de táxi, a pé. Passeamos por aí, de mãos dadas, desde então, ao longo da vida. Você casada, eu casada, você descasada, eu descasado. E nada mudou.
Porque nada, claro, jamais irá mudar.
Hoje te desejo muitas felicidades e muitas Cássias de vida.
Beijoca, parceira.
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