Enquanto o tempo passa e eu a ele me submeto como mero espectador, sem mais nada poder fazer a não ser esperar e esperar e esperar, foco na telinha do monitor e procuro ignorar meus fantasmas fazendo a única coisa que realmente me acalma: lidar de todas as formas possíveis, com a música.
Eu sou música na essência, na forma – sou uma clave de sol fisicamente, com minha barriga acentuada e as minhas curvas obtusas – e no espírito. Eu respiro música 24 horas por dia.
Tenho andado à parte das pessoas, inclusive das que me querem bem e até melhor do que as que me querem bem.
Nada falo, arrisco pouquíssimos movimentos, evito diálogos, conversas, não me concentro em absolutamente nada que não seja música.
Posso dizer que estou vivendo este tempo estranho, respirando por obrigação e ouvindo música por sobrevivência.
Não faltam amigos.
Não faltam abraços, carinhos, afagos, afeto, tapinhas nas costas, palavras de efeito, frases feitas, bordões consagrados nem convites para “passar um tempo lá em casa”.
Agradeço a todos, mas não posso aceitar nada disso.
O papo é comigo, o momento é meu, não há como dividi-lo.
A não ser com a música.
Tenho ouvido de tudo. Depende do meu "humor", já que não quero usar a palavra "espírito".
Estou apaixonado pela simplicidade de Maria Gadu, pela personalidade da Céu, pela quantidade enorme de remissões a Tom Zé, Mutantes, Walter Franco, Rumo, Itamar Assumpção, além de todo o mangue-beat, naturalmente, do Cidadão Instigado; noutros momentos, ouço Alan Hull, Bassie Mae’s Dream, C,S,N&Y, Jack Bruce, muito Miles Davis, João Donato, Keith Jarrett e Leonard Cohen.
Odeio clichês, mas “Hallelelujah” é, no momento um clichê e tanto pra mim.
Por tudo e por qualquer outro motivo que não se enquadre no tudo, Leonard Cohen, em Hallelujah, me reengenhera.
Eu quase volto a crer em qualquer coisa: finita ou infinita.
Estou, de prontidão, dormindo aos trancos, barrancos e pesadelos, ao sabor de um monte de gotas de um Rivotril que roubei, instalado na casa da Christina, esperando pelo inevitável.
Estou aqui, mesmo sabendo que ela deve estar de saco cheio de ouvir o “Cidadão Instigado”, aos berros – só ouço música aos berros.
Mas ela sabe que isso faz parte do meu exorcismo.
Eu e Chris somos mais do que 'apenas bons amigos'.
Somos insuportavelmente amigos, naquele nível de aceitação que beira o homicídio ou o suicídio de um e de outro.
Mas a gente permanece fiel, porque já comeu caviar e pastel de vento juntos.
Eu estou aqui, porque ir para Petrópolis ou para o Rio 2, nessa altura do campeonato é loucura; ir para a casa da Virgínia é metricamente inviável.
Não, não vou deixar todo mundo me vendo como um louco varrido, escrevendo como um vampiro da atenção alheia: meu pai está muito mal, internado num hospital, na Tijuca. Muitíssimo bem acompanhado e assistido, por sua atual mulher, que não sai do lado dele, 24 horas por dia.
Eu já não tenho este perfil.
Não suporto vê-lo sofrer, não agüento o péssimo atendimento prestado pelos profissionais do hospital e por isso, meu refúgio tem sido a música.
Meu iPod atingiu a incrível marca de 16.300 canções selecionadas e mais de 100 vídeos, filmes, clips e documentários. Esta tem sido a maneira – além de fazer o meu trabalho, é claro – de eu sobreviver a esta loucura.
Este texto não é para explicar nada, mas para dizer que estou aqui, mas que não estou nem aí.
Agradeço a paciência e o respaldo que a Chris vem me dando, mesmo estando em situação parecida.
Mas, ela, ao contrário de mim, tem o planeta sob controle, e fala com Deus sem provedor.
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