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Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil
Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

09.09.09

Faz 40 anos.


Em 1969, eu tinha 15, os Beatles, de vida comercial, 7, o multitrack (gravadores fonográficos com mais de 2 canais) uns 5 ou 6. A gente ainda nem tinha entendido direito o som de 'Pepper', lançado em 1967, ou seja, há pouco menos de 2 anos e 'Abbey Road', o último disco da banda, fechava o track list com uma diminuta canção que chamava “The End”.

A impressão que fica é a de que a geração nascida na década de 1950 aprendeu na marra a Teoria da Relatividade de Einstein.

As coisas simplesmente não aconteciam: voavam.

A década de 1960, a nós, brasileiros, nos deliciou com a genialidade de Pelé, com a magia poética dos dribles de Garrincha, com a construção de Brasília – os anos JK. Ao mundo, deu, pra resumir, à ida do homem à lua.

Mas deu o Vietnam também.

E não fosse o Vietnan, Cassius Clay teria permanecido (quem sabe?) Cassius Clay; Woodstock (com certeza) não teria a menor razão para existir; a Inglaterra (provavelmente) não aspiraria, tão profundamente, a brisa "flower power / peace and love” de San Francisco; e Londres (logicamente) não teria se tornado a capital mundial do “swinging”.

É (quase) certo, também, que o mundo não se envolvesse tanto com as poesias e melodias de Bob Dylan, Leonard Cohen e, claro, Lennon & McCartney & Harrison & Starr.

Por sua vez - ou será o correto escrever por suas vezes? - esses quatro caras não teriam tido acesso a uma tecnologia de ponta tão de ponta, quanto a que a EMI (gravadora e proprietária do selo Parlophone, cujo manager era George Martin, que contratou e produziu os Beatles) disponibilizou, tornando possível surfar naquele mar de criatividade.

Para que se entenda melhor o cenário histórico, no final dos anos 40, durante os 50 e até o meio dos 60, a EMI, além de gravar cantores líricos, concertos, grandes orquestras e discos de humoristas famosos como Peter Sellers, focou suas pesquisas e boa parte do seu expertise no desenvolvimento de tecnologias inovadoras nas áreas elétrica e eletrônica, visando à municiar, principalmente, à RAF – Royal Air Force - a aeronáutica britânica, com radares e outras engenhocas revolucionárias.

Quis Deus que tudo isso junto - da música clássica aos discos de humor e novas tecnologias - viesse a cair no colo do “Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta”, até hoje considerado o marco cultural e o divisor de águas da história da música gravada, não só pela qualidade e pela beleza das canções, mas pelos métodos heterodoxos e inimagináveis à época, empregados durante a produção.

Antes até, mas só um pouquinho...

Nota do Redator - Como eu disse, rolava tanta coisa em tão pouco espaço que, olhando pra trás, parece que tudo acontecia ao mesmo tempo.

... em “Yellow Submarine”, canção-título do desenho animado também lançado nesse bolo fermentado entre 1967 e 1969, incluída no álbum “Revolver”, cujo conceito era “revolver” e não o de arma de fogo, a sonoridade dos discos de rock, ganhou elementos novos, como clima, ambientação, planos diferentes de mixagem, um pouco de rádio-novela, humor, drama e até Rock’n’Roll. (Os efeitos especiais eram obtidos, ora com a alteração da ciclagem das máquinas de gravação - como em "Strawberry Fields Forever", ora com maqininhas geradoras de ruídos e sinais (Morse), ora com improvisações inacreditáveis.

Era como se eu, aos 12 anos, pequeno baterista de uma banda de ye ye ye, estivesse naquele imenso estúdio, de Abbey Road, cujo pé direito parecia servir à construção de foguetes, pronto para embarcar numa viagem para uma outra dimensão.

Sem drogas, sem álcool, sem chás, sem alucinações: apenas ouvindo a música dos Beatles, produzida por George Martin.

É claro que o som que a gente ouvia - e é assim até hoje - era sempre o resultado do pior equipamento que tinha à disposição. Mas, quem tinha em casa um vitrolão estéreo recebia de brinde o privilégio de aproveitar o máximo daquelas loucuras geniais.
Ledo engano. Na verdade, a gente não ouviu nem a metade do que os caras fizeram.

40 anos depois, “The Beatles Remastered in Stereo” prova isso e emociona a cada detalhe - pelo cuidado, pelo preciosismo, pela percepção aguçada de cada Beatle, em cada compasso de cada faixa - como se, naqueles dias sessenta, eles soubessem que o som que faziam estava 40 anos à frente do tempo.

São duas caixas, com opções de remasterização em estéreo e em mono (gravações originais em um único canal), à venda, desde hoje, 9 de setembro de 2009, dia em que escrevo esta crônica. O preço, bastante salgado, é, mais ainda, se considerarmos que horas antes do lançamento, o material todo já estava disponível para download em sites de trocas de arquivos, aqui na Internet.

Seria leviano dizer que não baixei. Baixei, sim. Tudo.
Não pelo prazer de ser um pirata - não sou - e sim pela ansiedade incontrolável de ouvir o som dos Beatles, como fora feito de verdade.

Passei tudo para o iPod e desde então não paro de ouvir um só instante. Agora mesmo estou me deliciando com “I Am The Walrus” e afirmo: quem mais saiu ganhando com estas remasterizações foi o injustiçado Ringo Starr, que dá um show do que é “tocar” e não “bater” bateria.

Ouve-se tudo que se ouvia antes, com uma qualidade absurda e mais uma tonelada de detalhes, como as linhas de baixo de Paul, além de criativas, que ficavam encobertas pela necessidade de se gravar muita coisa num só canal.
No entanto, eu não vim aqui para fazer a crítica da caixa e sim para dizer, com toda sinceridade, que mesmo que você não tenha vivido os anos 60, uma audição cuidadosa é mais do que aconselhável: torna-se obrigatória para quem deseja assimilar o máximo da cultura da música do Século XX.

Está tudo aí.

Depois do que os Beatles fizeram tudo soa como som reciclado.

Não há nada de novo na música pop e no rock em geral, embora o som que fazem, hoje, por exemplo, o Eels ou o Nine Inch Nails seja tão bom e, às vezes, até melhor do que o que eles fizeram. A diferença está no conjunto da obra, aliás, espalhado por toda a obra, tanto no que se refere ao ineditismo quanto à sensibilidade artística.

Antes deles, o rock soava à la Elvis Presley.
Mesmo Hendrix, o reinventor da guitarra admitia abertamente que sem os Beatles, 'no way".
Por isso tudo, por mim e pelo Hendrix, se eu fosse vocês, não perderia tempo.

Sinceramente, não creio num estouro de vendas tão rápido quanto foi a carreira meteórica dos Beatles, até porque não acredito que estas caixas representem uma onda póstuma, como foram as que recolocaram John Lennon e Michael Jackson no topo das paradas de sucessos.

The Beatles Remastered in Stereo não é uma peça para consumo da massa. Não é uma commodity, mas uma jóia preciosa para colecionadores, principalmente, os cinquentões e sessentões, garotos, que como eu, ainda amam os Beatles e os Rolling Stones.

Lembro exatamente de quando pela primeira vez comprei, na extinta Gramophone, na Rua Barata Ribeiro, em Copabacana - RJ, uma caixa em camurça, com 18 LPs, contendo “O Anel dos Nibelungos”, de Wagner. Paguei por ela os olhos da cara, mas sabia que não estava levando pra casa uma coleção de discos para ouvir e dançar, mas uma peça única da história da música universal.
Pelo mesmo motivo, está decidido. Será o presente de aniversário que vou me dar no próximo dia 12.
ERRATA: Onde se lê, ... 40 anos depois, “The Beatles Remastered in Stereo” prova isso...”, leia-se: “400 anos à frente”.

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