
Estranho objeto de desejo.
Passagem, permanência, caminho, meta...
Espaço.
Fugidio.
O tempo sempre escapa e leva.
À morte.
O tempo é a mãe de todas as seduções, de todas as leviandades, de todas as malas embarcadas.
O tempo é a mãe!
O tempo é a mãe masculina da obscenidade embutida em todas as formas de existência.
É a causa de quase todas as mortes.
Haste e desgaste.
Erosão e cultura.
Desmineralização da matéria orgânica mental.
Dióxido do neurônio.
A senilidade é parceira do tempo.
Parceira da ausência.
A última coisa que quero fazer nessa vida é morrer e adiá-la o máximo possível requer sacanagem, bandidagem, enfim, acordo com o tempo.
Dorian Gray: o retrato.
O pacto.
O tempo já fez o seu pacto:
Com o Demônio.
Não existem pactos com Deus.
Nem dados nem copos.
O tempo é o próprio Demônio.
E o Demônio não existe.
Começo a perceber que não há solução para a vida, a não ser desafiar o fluxo do tempo matematicamente.
Teoricamente, fracioná-lo multiplica a probabilidade de manter-me vivo.
Assim, para devorar-me, ele precisará devorar-se a si mesmo.
Como assim, dividir o tempo?
Usando a relatividade, é claro, ou melhor, com a compartimentalização de cada instante futuro. Lateralizando o pensamento, tornando-o objeto físico e concreto; espalhando-o em latitudes no sentido inverso ao da rotação.
Vencerei o tempo se puder me mover para os lados e não para frente. Como fusos horários.
Se puder não tomar decisões e adiá-las, se evitar os confrontos e administrar os conflitos. Se contiver meu ímpeto de avançar sempre em direção ao desconhecido.
O tempo então vai desconfiar do que conheço e aguardará que eu me distraia.
Um dia, claro, me distrairei.
Bye Bye Life
(cena do filme All That Jazz)
(cena do filme All That Jazz)
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