Nossos filhos não são as gracinhas do papai nem da mamãe, mas responsabilidades que assumimos lá atrás, não importa se na suíte presidencial, na suíte residencial ou no banco de trás do carro.
Nossos filhos não são bichinhos de pelúcia, que damos de presente para as nossas namoradas, mas seres humanos com corpo, alma, sentimentos e sensações.
Por causa de tudo isso, eu não medro ao dizer que ser pai não é para qualquer mané. Não é para aventureiros nem para marinheiros de primeira viagem.
É coisa séria, pra quem tem 'gutz', pra quem está disposto a se submeter a direitos mínimos e deveres máximos.
Escrevo estas primeiras linhas como desabafo, como desafogo de um pai velho que tinha medo de morrer antes que seu filho completasse 1, 2, 3, 5, 6, 7, 10, 11, 12, 13, 15 anos.
Escrevo, porque, graças a Deus, chegamos vivos e unidos, juntos e inseparáveis, até aqui: eu e meu filho Victor, que no próximo dia 15, faz seus primeiros 15 anos de sobrevivência na selva.
Até aqui viemos com certa tranqüilidade. Passamos juntos pelo nascimento, pelos primeiros dias, quando aprendi a dar banho, limpar cocô e xixi, ninar, entender o significado de cada tom de choro, de cada sorriso, cada olhar.
Depois, de novo, crescemos juntos, nas pracinhas, andando a cavalo, jogando pinball nos Barrashoppings da vida, nos playlands tupiniquins.
Crescemos um pouco mais, quando eu o apresentei ao Philip Glass, ao Bill Laswell, Brian Eno, Eric Satie, John Cage, Steve Reich e, dentre muitos outros e outras, à Laurie Anderson.
E, quando ele, em troca, me injetou na veia o Gorillas... "I'm happy...", eu vi que estávamos a salvo das Xuxas, dos Axés e dos Pagodes.
Enfim, destas músicas satânicas e de suas mensagens subliminares.
Depois, vieram os shows do Offspring, dos Stones, na praia, do Blind Guardian.
Muita, muita, mas muita conversa depois, foi a vez de conversar sério sobre o que é e o que não é farofa, macumba pra turista, fake, mentira e, claro, verdade.
Não o obriguei a gostar de Dylan, mas jamais passou por nós uma oportunidade sem que eu perguntasse: sabe de quem é esta música? De Bob Dylan. Do Mestre Robert Zimmerman.
Odeio games violentos, games de lutas, os counter strikes da vida. Mas vou morrer defendendo o direito dele de jogá-los: porque é um cara doce, amigo, amoroso e bacana.
O Victor é mais que um ótimo filho. E, pra mim, mais importante do que ser um ótimo filho, só mesmo ser o melhor amigo.
Juntos já choramos de tristeza, ele já me aconselhou, já me ouviu em silêncio, já me deu chão pra caminhar.
Eu, aos poucos, vou tendo cada vez menos pra dar.
São os amigos, a namorada, a escola, o paintball e o PC a disputá-lo comigo.
Eu vou perdendo mais e mais a cada dia. Mas é como diz o comercial do Itaú, lembram-se? Aquele cara que você ensinou a sacar, hoje não te dá chances no tênis.
E eu olho tudo isso, sem saudade, sem melancolia, com amor, apreço e tranqüilidade.
Certo de ter feito a coisa certa, quando me demiti da Direção de Criação da Mental Mark, para vê-lo nascer, aprender a andar, falar, correr e voar.
Valeu à pena. Muitas vezes foi difícil e ainda é, principalmente quando - como diz o Djavan - "você não tem e tem que ter pra dar".
Long Life Victor Mattos de Campos Magalhães e Vasconcellos!!!
Eu te agradeço por me ter dado o privilégio único de ser o seu pai.
Te amo.
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