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Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil
Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

segunda-feira, 17 de março de 2008

PARA FALAR A VERDADE

Nos últimos trinta ou quarenta anos muito se tem falado sobre a impossibilidade de se conhecer uma verdade absoluta.

Segundo os Quânticos, qualquer afirmação considerada verdadeira estaria diretamente ligada à realidade que, por sua vez, é absolutamente relativa.

Isto não deixa de ser interessante, se crermos que existe um universo de possibilidades alternativas circundando o que pensamos e acreditamos ser real.

Com uma certa ironia, ouso imaginar – já que no campo da imaginação a realidade é acessória – que os Quânticos, apesar de físicos competentes, não deveriam adotar uma posição tão rígida, seguindo os seus próprios conceitos e teorias.

Afinal de contas, dentro da premissa focada, a realidade absoluta pode estar contida em uma ou nas infinitas possibilidades da verdade de cada um, o que torna, a mim me parece, a realidade uma loteria a ser jogada.

Mas não importa. Não desejo questionar os Quânticos, por quem nutro admiração e simpatia, além de interesse empírico e eventual. O meu ponto de vista - posso usar ponto de vista, certamente - aborda a verdade apenas circunstancial, como conseqüência de um fato concreto, como por exemplo: meu filho nasceu.

Sim, é uma verdade absoluta o nascimento do meu filho. Não posso afirmar absolutamente que ele é um garoto bom ou mau, confiável ou não nem mesmo que a data de 15 de fevereiro esteja absolutamente correta, mas posso afirmar, sem medo de errar e de ferir os Quânticos, que meu filho nasceu. Bem, como espero estar, até aqui, sendo bem compreendido, vou prosseguir com o raciocínio.

Dentro de cada um de nós existem informações genéticas, segundo a biomedicina. Mas existem informações imputadas, que são inseridas a partir de um determinado momento de nossas vidas.

Não vou precisar qual é o momento exato, porque não sei e porque, mesmo que soubesse, estaria ferindo o conceito inicial deste texto.

Portanto, vamos trabalhar apenas com um dado momento, um ponto zero, a partir do qual passamos a pertencer a um determinado meio social, cultural, econômico etc. Psicologicamente é a partir deste momento zero, que começamos a ser moldados ou, segundo imagino e creio, deformados. São incontáveis inputs a bombardear o ser naturalmente perfeito que nasceu em nós e que, a cada segundo, nos moldam a tal da personalidade. Ironicamente, de novo, a etimologia da palavra personalidade nos remete à persona, ou seja, máscara, personagem. À medida que nos vamos tornando seres munidos de personalidade, vamos também nos despersonalizando e nos tornando farsantes em relação ao que deveríamos ser.

Interessante, mas desimportante, porque não há como mudar isso, pelo menos, por enquanto.

Passo por este sinuoso caminho para chegar ao meu ponto de vista, ou melhor, à minha percepção de realidade e, por conseguinte, ao meu conceito de verdade. Fui criado em uma família culta, de classe média – média -, sem excessos e sem carências, onde a franqueza era a base de tudo.

Não creio que nenhum de meus leitores seja capaz de negar que também foi criado assim, ou vejamos: algum de vocês teve pai, mãe, avós, professoras, nos primeiros anos da vida personalizada, que não dissesse: “Mentir é muito feio”, “não minta pra mim”, “é preferível assumir o erro, por mais grave que seja, a mentir sob qualquer circunstância”?

Nos tribunais de justiça, qual é o juramento que se faz?

“Juro dizer a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade”, sob pena de crime de perjúrio. É, ou não é?

Mas, a que verdade todos eles se referiam? À verdade... imaginária, interpretativa, relativa ou à verdade dos fatos que inegavelmente aconteceram, como o nascimento do meu filho? Complicado viver nesse planeta, não? Por um lado, nos exigem a verdade, por outro nos garantem que a verdade é relativa e que, absolutamente, não existe. Os loucos foram mais práticos e logo resolveram o problema: eles nunca perdem a razão. Já o resto, e nele eu me incluo, claro, que se imagina são, não sei como se vira diante de um cenário tão grotesco.

Minha avó, mineira, meio sádica, vivia, ao contrário do que me ensinara quando criança, a me dizer, depois de adulto: “franqueza, em excesso, meu filho, é falta de educação”.

Ouço do tal do Max Geringher, comentarista e conselheiro corporativo da Rádio CBN, ex-Presidente da Pepsi, do Brasil, dentre outros cargos de C.E.O. que ocupou, que quem quer se manter no emprego deve se adaptar e engolir sapos todos os dias.

E eu pergunto: é mesmo? Será que um empresário quer me pagar um alto salário para que eu minta, me omita, me cale, engula sapos, me finja de morto, em vez de lutar pela verdade DOS FATOS, vestindo a camisa da empresa?

A gente vai crescendo e vai fazendo escolhas.

São opções estranhas as que se nos aparecem em todos os momentos. Ora eu devo dizer a verdade ora devo mentir. O difícil, aliás, o impossível, pra mim, é saber exatamente quando.

Acabo de interromper um relacionamento de quase três anos. Um relacionamento de verdade, pelo menos, pra mim. Antes de começá-lo fui direto ao assunto e disse o que tinha e o que não tinha, quem eu era e quem não era, o que podia fazer e o que não podia fazer.

Fui franco, talvez, em excesso, reconheço hoje. Na verdade, a mim não me importa se a verdade é absoluta ou relativa. Se os Quânticos aprovam ou não a minha conduta diante da vida.

Importa-me apenas abrir o jogo sempre, dizer tudo, na lata, a meu favor ou contra mim. Não estou aqui para garantir emprego e sim para ser feliz e viver em paz com minha consciência.

Criado em colégio marista fui acostumado à farsa e à mentira, desde os onze anos de idade, mas soube me defender delas com uma certa dose de coragem. Fui, certa ocasião, trancado, com mais três ou quatro alunos, numa sala e tentado – coagido - a passar algumas semanas no seminário marista, na Avenida Paulo de Frontin, sob a alegação de que a quantidade de jovens com inclinação para o “business” estava em queda livre.

Todos os demais ficaram atônitos, eu não. Dei um minuto para que o cara destravasse a porta, porque eu ia embora dali e ainda por cima disse que denunciaria o cárcere privado aos meus pais e aos jornais. Ao contrário: meus pais foram chamados ao colégio, onde ouviram que eu não era digno de estar na “Rua Conde Bonfim, 1067”.

Décadas mais tarde exerci um cargo de confiança em uma casa legislativa. Ali recebi inúmeras propostas de suborno, de corrupção e declinei de todas. Enfim, chegou o dia do dá ou desce e eu bati à máquina minha demissão. Em seguida, liguei para uma amiga da Rede Globo e ofereci o documento para o furo de reportagem.

Ela ficou com medo, pediu um tempinho, a Globo não mandou ninguém e eu me mandei pra Niterói, onde troquei o terno pelo jeans e comecei, junto com o Luis Antonio Melo, o Samuel Weiner Filho e o Amaury Santos, a moldar a Rádio Fluminense FM - A Maldita. Na verdade, o maldito sou eu. E com muito prazer. Passado um certo tempo ali, diante de uma verdade, a meu ver, relativa, que interpretei como injustiça profissional para com um terceiro, pedi demissão e larguei a rádio.

O Luis Antonio Melo freqüenta este blog e sabe que não estou mentindo. Era, como eu disse, uma verdade relativa, aquela, a única relativa, diante de todas estas outras. Mas não tinha mesmo jeito. Eu já estava viciado e era dependente químico da verdade, acima de tudo.

Fui contratado por uma Universidade carioca para criar uma nova emissora de rádio, desta vez, um canal de caráter educativo, que serviria como laboratório para a faculdade de comunicação.

Fiz o projeto, a grade de programação, recebi por ele, mas no final eu descobri toda a mentira, aliás, a verdade: “Sergio, agora deixa de lado essa coisa de rádio universitária e vamos colocar em prática um plano para derrubar a Rádio Fluminense, a Maldita”.

Saí fora e não fiz mais nada.

Quando um amigo meu, um dos melhores, se meteu numa enrascada, eu disse: “estou contigo, mas desde que você seja honesto e diga a verdade do que está acontecendo para a sua família”.

Ele não disse e eu me afastei, porque não queria compactuar com uma mentira, que aliás, além das pernas curtas, ainda contribuiu para levar a vida dele embora. Ganhei dinheiro, gastei dinheiro, investi dinheiro e o dinheiro que perdi, perdi porque assumi responsabilidades que não eram somente minhas. Comprei um apartamento pela Encol e a Encol faliu. Engraçado como as pessoas mais próximas a você aparecem nessas horas pra dizer: “Eu sabia”, “Você é maluco”, “Não deveria ter feito isso”, “Eu avisei”. As mesmas pessoas que deram força e acharam sensacional a minha audácia. Diante de um mau negócio, não busquei culpados nem maus conselheiros. Encarei a realidade e assumi as conseqüências.

Ainda no mundo radiofônico, lembro de uma passagem interessantíssima: fui convidado para fazer um programa na finada Rádio Panorama FM. O “dono” da emissora me disse que escolhesse o nome.

Eu escolhi: “Os vizinhos que se danem, ou podem chamar a polícia”. O nome foi vetado, criticado, ridicularizado, distorcido, mas eu banquei. O programa foi ao ar por quase 2 anos, semanalmente. Mas eu passei o pãozinho francês que o diabo amassou. Um dia, finalmente, recebi o ultimato: ou muda o nome e o formato ou o programa sai do ar. Educadamente, eu disse que poderia prometer qualquer coisa, mentir, fazer mais um programa e escancarar pelo ar o motivo da minha saída, posto que o programa era sucesso de audiência, nas noites e madrugadas, das sextas para os sábados. Em vez disso, escolhi a verdade. “Olha, vamos fazer o seguinte? Eu não vou mudar o nome do programa, você o tira do ar, mas me deixa fazer o da semana que vem, para que eu possa me despedir dos ouvintes, com dignidade, ok?”. E tudo funcionou maravilhosamente.

Abri mão de uma sociedade altamente lucrativa, na área da propaganda, porque fiz uma pergunta ao meu sócio e não obtive uma resposta tão transparente e consistente quanto eu esperava.

Fui desaconselhado por todo mundo a fazer a tal pergunta, mas como? Se não a fizesse, não teria a mínima chance de, pelo menos, tentar saber a verdade. Tudo bem que a pergunta era meio heavy-metal, mas fiz.

E a resposta soou meio 'muzak to my ears'.

Saí, deixando intacto o carinho pelo cara, sem qualquer ressentimento e, ao contrário, com muita gratidão. Como eu costumo dizer, a verdade não fere ninguém. Pode desagradar, mas não fere.

Paciência.

Não sou melhor nem pior do que ninguém. Minha avó mineira morreu aos 94 anos, lúcida e dizendo as mesmas coisas. E, como se pode constatar, o fingimento, a farsa e a mentira, com certeza, podem levar à longevidade. Quem?

Eu?

Não, não, absolutamente, não.

Não quero mudar o mundo.

Não quero ser a sua palmatória e nem quero acusar ninguém disso ou daquilo. Quero apenas reservar-me ao direito de ser como aprendi a ser e como gostei de ter aprendido a ser: verdadeiro. Se não minto?

Claro que minto.

Se nunca omiti um fato verdadeiro?

Claro que sim.

Eu não sou perfeito, não tenho qualquer paranóia com isso. Apenas, se perguntado, respondo. Se questionado, explico. Se condenado, não recorro. Assumo. Se há mesmo um livre-arbítrio, eu creio que ele resida nisso, ou seja, na nossa capacidade de assumir as nossas responsabilidades pelo que fazemos, não fazemos, dizemos e, principalmente, pelo que não dizemos. Pelo que confessamos e pelo que omitimos.

Como diz a canção: “Perdão foi feito pra gente pedir”. Como não sou de evitar a verdade, mais uma vez lá vou eu ser confessional e lá vai minha avó mineira se virar na cova: no momento estou frustrado e um pouco mais desapontado do que antes.

Não pelas pessoas com as quais me envolvi, humanas e falíveis, mas frustrado com o papel delas diante das escolhas que fazem.

Se eu quisesse ser irmão marista ou se, pelo menos, quisesse ver como era aquela coisa de seminário, eu teria feito uma outra escolha, provavelmente eu não seria eu, mas uma outra pessoa incorporada em mim, com fantasias e alucinações que, certamente, me levariam para o brejo, mais cedo ou mais tarde.

Eu não nasci para não questionar, para me abster de pensar, de opinar, de errar, de me expor. Eu nasci para o risco, para o ilimite, para o perigo.

Acredito que crescer dói e põe em risco toda a nossa psêuda segurança emocional.

Minha frustração vem exatamente da percepção de que sou incompatível com qualquer tipo de relacionamento que me impeça de avançar, de intuir, de aprender mais e mais, mesmo quando se me deparam dogmas e instituições cristalizados, indispostos ao debate. Há um céu turvo e cinzento sobre os padrões morais que cercam a fé, em contra-ponto à ética religiosa.

Se eu quisesse atacar alguém, pessoalmente, o faria, sem medo de processo ou de qualquer outra conseqüência. Não estou, portanto, a falar de pessoas, mas da minha frustração.

Nada, a não ser em caráter particular.

Falo sobre envolvimentos e associações em todas as dimensões. Lembro-me do falso temor a Deus daqueles urubus de batina, que passeavam o dia todo, pelos corredores do Colégio São José, rezando terços e mais terços, durante o dia, enquanto, a noite, comiam duas ou três mães de alunos, no interior das Kombis, na subida cachoeira.

Quem estudou lá, na minha época, sabe exatamente de quem estou falando. E eu até os pouparia, porque são apenas humanos fantasiados de agentes divinos, se não fossem tão prepotentes e presunçosos; tão arrogantes e moralmente violentos.

Enfim, se não tivessem dito aos meus pais, que eu não era digno de estar na Rua Conde de Bonfim, 1067. Bando de hipócritas e de vagabundos!

Acho de uma crueldade assustadora, espalhar submissão e culpa, em contra-ponto à improvável e inconcebível ‘mão de ferro’ de Deus. Somos ridiculamente limitados e nada nos difere dos ‘vendilhões do templo’, a quem Jesus chamou, aos brados, de “sepulcros caiados”. Acho de um oportunismo cruel, contra a ignorância da maior parte de nós, o uso de doutrinas subjetivamente ligadas a uma salvação opressora e doentia, para fazer valer a prática da extorsão e da chantagem emocional. E aí, bem, aí o papo volta ao começo e a gente se pergunta: o que é verdade e o que é mentira, no reino que os homens construíram em nome de Deus? Será mesmo possível Deus ser venerado e a verdade ser condenada à fogueira? Sem dúvida e com um certo charme, concluo que nasci para Giordano Bruno e não para Galileu Galilei.

Um comentário:

  1. Para falar a verdade, entrei mas ainda não te li...só entrei. Para te ler preciso de um copo de café, um cigarrinho e paz na casa.

    Para falar a verdade, isso foi tudo que li "Para Falar A Verdade". Mas vou te ler, porque você é brilhante e gosto de tudo que escreve, e nem é porque gosto de você.
    Verdade verdadeira.

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