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Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil
Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

domingo, 31 de janeiro de 2010

"ELES NÃO SABEM DE NADA E O PIOR, NUNCA VÃO SABER. PORQUE ARMAM AS CILADAS E CAEM NELAS, SEM QUERER"



Sei lá se eu estou ficando velho, se já estou velho há mais de dez anos ou se ainda não cheguei à velhice.

Na boa, não ligo a mínima.

Não sei se porque a história da minha vida já não cabe num volume só; se porque mesmo que eu não tenha sido - e não sou - um portento em coisa alguma, já tenho o bastante em boas coisas pra contar para o meu filho. Sei lá.

Só sei que não faço parte do coro dos que dizem que viver é sempre um espetáculo deslumbrante. Não acho. A vida, como qualquer espetáculo, tem seus momentos mágicos, seus picos emocionantes, mas quase sempre têm uns 15 minutos que se fossem rapados fora, não fariam a menor falta.

Eu tive a oportnidade de dirigir alguns espetáculos em algumas das casas de shows mais bacanas do Brasil e sempre depois que terminava, a gente comentava que isto, isso e aquilo poderiam ter ficado de fora. Na vida também acontece.

Eu, apesar de muita gente que conheço, baseada no meu modo cínico ou num baseado mesmo, não crer, sou um cara feliz. Tenho sido um cara bastante mais feliz que infeliz, com a devida vênia aos dramas e às tragédias, principalmente às do amor, que são inevitáveis.

Como não acredito em OMO total, papa santo, pastor burro e político com caráter, acho que um percentual que beire os 85% de felicidade tá mais do que ótimo. E, isso eu afirmo plenamente: tenho um pouco mais de felicidade que o Lula tem de aprovação popular. Mas não é fácil.

Ultimamente tenho percebido mudanças radicais em mim. Não só físicas, mas e principalmente mentais. Tenho notado que estou mais gasto, mais usado, mais cínico e, principalmente, muito mais irônico e sarcástico - debochado, não, nunca fui - do que sempre.

Principalmente quando o tema passa pela casa da privacidade.

Acho que hoje entendo mais e muito melhor Greta Garbo e Brigitte Bardot do que quando lia nas revistas que ambas se recolheram da vida pública, sem deixar rastro a ser seguido. Mesmo sem ter sido astro de Hollywood e de só ter dado autógrafos como sósia de outra pessoa, me dou ao luxo de dizer que minha privacidade faz parte do meu patrimônio.

Mas é preciso entender, antes de qualquer interpretação, o que eu pessoalmente entendo como privacidade.

Algo que está diretamente ligado a escolhas e vontades. Nada mais do que isso.

Não preciso me isolar para ter privacidade ou para mantê-la. Não é necessário esconder o que faço, por onde ando, o que penso e coisa e tal. Posso estar em qualquer lugar, falar com todo mundo, mas vetar ou eleger as palavras, as pessoas, os climas, as situações. Não sinto a menor vontade de ser elegante ou educado - embora não me comporte deselegantemente ou deseducadamente em lugar algum, a não ser que tentem negociar comigo, o inegociável. Aí o bicho pega.

Saber o que é negociável e o que é inegociável em mim é exatamente o combustível do meu sarcasmo. Dizem que o cinismo é o sarcasmo, sem elegância e sem finess. Não me preocupo em manter aparências, mas estatisticamente, tenho certeza, estou mais para sarcástico do que para cínico. E, como eu dizia, é o que me instiga a instigar os outros.

Se é uma forma de sadismo? Não sei. Talvez. Os grandes, em todas as áreas, sempre foram tremendamente sarcásticos, mas, percebo hoje, nem sempre por charme e sim por estratégia. Além do mais, apenas me espelho neles, mas não me confundo com eles o que tira de mim qualquer traço de loucura. Trata-se de um jogo. Viver é jogar dados com Deus.

Definir as linhas indefinindo as entrelinhas é o pulo do gato para o exercício do fascínio. E dançam os que me julgam um jogador profissional. Não jogo a dinheiro. Blefo sem jogar. O que é ainda mais excitante.

Vi pessoas convictas perderem a máscara da convicção, sentadas à mesa de um bar. Não sou "o cara" e não me refiro a mulheres desmaiando de tesão. Falo de homens com barba na cara, de impostores que ardilosamente se imbuem de qualidades inexistentes ou se armam de mentiras insustentáveis para iluminar a pista por onde passam. Nada pessoal, nada que eu possa dizer que me feriu ou que me atingiu.

Alguns desses, de certa forma, colegas meus, se desmantelaram sozinhos, diante da incerteza produzida pela insegurança de lidar com alguém que "nunca se sabe se está falando sério ou não". Mas que sempre fala, pelo menos, a sua verdade.

Sócrates, não o doutor da foto, foi um grande educador. E nada mais. Não foi matemático, lingüista, geógrafo, astrólogo, nada. Foi apenas um dos mais brilhantes pensadores gregos, e mesmo assim, segundo relatos de outros pensadores. Um cara extrememante culto, que morreu sem deixar uma só linha escrita para a posteridade. Quem, como eu, foi obrigado a ler "Os Diálogos", de Platão, deve ainda guardar na memória que o da caverna retratou Sócrates como um líder que odiava seguidores. Dizem por aí que Sócrates foi o pai da Ironia. Devolvendo as afirmações que vinham contra ele, com habilidade e firmeza, os interlocutores se revelavam vazios, sem que fosse necessário o uso de uma só palavra do seu riquíssimo vocabulário.

"Só sei que nada sei" é, antes de uma frase de efeito espetacular, uma finíssima ironia. Principalmente, se a gente considerar que Sócrates via o conhecimento, apenas, como expansão da ignorância.

Jogo de palavras?

Uma vez me disseram que o diabo é o diabo, não porque é vermelho, tem rabo e chifres, mas porque é velho. E eu acredito nisso. Não no diabo, mas no raciocínio. Faz sentido.

Jogo de palavras?

Eu lembro que certo dia conversava pelo MSN com uma mulher que ainda não conhecia pessoalmente e o papo enveredou pela música, pelo meio artístico, composição etc. Em determinado momento, ao receber alguns mp3 de canções que eu havia composto com o meu parceiro, Carlos Michelsen, percebi uma certa ironia nas palavras desta pessoa, de quem, aliás, me tornei grande amigo, chegando a trabalhar junto com ela, na equipe de produção de um musical, que escrevi junto com o Amaury Santos.

Como não deixo passar nada que me torce o rabo, perguntei o que houve e ela respondeu: "mas estas músicas não são suas".

Vou abreviar: um "amigo" comum pegava as minhas músicas e as repassava pra ela, dizendo que eram de sua autoria, quem sabe, querendo comê-la.

Achei a história interessantíssima e não me opus ao pensamento dela. Mas propus um jogo. Um jogo inteligente, gostoso e que me faria o trabalho por mim. Propus que fôssemos para o telefone e que ela listasse quantas palavras ou expressões quisesse, naquele momento, para que, juntos, compuséssemos algo em "parceria".

Claro que ela deve ter achado que eu era esperto e queria dar um golpe qualquer. Afinal de contas, compor uma canção, mesmo na lata, não é uma tarefa tão difícil assim. Mas ela topou.

E eu, de novo, não disse mais nada. Não fui além. Por enquanto.

Ela sugeriu palavras bem bacanas, uns locais interessantes, claro, por ser uma jornalista culta, viajada, inteligente e, por acaso, ex-mulher de um publicitário famoso, com que quem eu tive a honra e o prazer de trabalhar.

Juntamos palavras como ENTRE-LINHAS, SUBÚRBIOS DE PARIS, CILADA, CONTEÚDO E "I AGREE".

Quem quiser ouvir o resultado é fácil. Basta clicar na 13ª música do player ao lado, aqui mesmo, na página do Blog, sobre a canção "Subúrbios de Paris".

Peguei o violão, coloquei o telefone no viva-voz e pouco depois a canção estava quase pronta, ou melhor, pronta. Só faltou o toque harmônico e vocal do Carlinhos.

E aí começa a parte mais interessante.

Continuamos o papo até quase de manhã, desligamos o telefone, eu não perguntei de onde ela tirara a informação de que eu não era o autor das minhas próprias músicas. É óbvio que desde sempre ficara claro que eu tinha um parceiro, o Carlinhos.

No entanto, ela me garantiu que não fora ele. E, cá pra nós, eu jamais teria acreditado se ela tivesse dito que sim.

Sem ela saber quando e sem o Carlinhos - a chave do segredo - saber o que estava acontecendo, "resolvemos" o arranjo e gravamos a "demo", no estúdio da PSICOTRONICA AUDIVIOSUAL.

Como sempre fiz, depois do bounce, deixei uma cópia de monitor com ele para que fizesse o que quisesse com ela.

Dito e feito. Ele levou e mostrou a música para quem eu imaginava que fosse e não foram necessários mais que dois ou três dias para que ela me ligasse, às gargalhadas: o cara mostrou a música pra ela e disse que foi ele quem a fez.

George Berdard Shaw escreveu que a juventude é uma fase da vida inigualável, pena que tenha sido dada aos jovens.

E eu, por minha vez, acho que não teria agido desta maneira, se tivesse menos dez ou quinze anos.

O fato é que o pensamento sarcástico só logra êxito quando atua diretamente aliado à inteligência. E, naquele momento, dizer, pelo telefone, para uma pessoa que eu jamais havia olhado nos olhos, que era o cara e não eu o mentiroso e ainda ter que provar seria trabalhoso e desgastante demais.

Por outro lado e acima de tudo, "ver" com meus próprios ouvidos que sou capaz de compor uma canção, pelo telefone, às 4 da manhã, baseado em palavras soltas, não autorais e em pouco mais de trinta minutos é uma delícia impagável.

Portanto, ser ou estar velho, diante da inexorabilidade do tempo, mas em circunstâncias tão especialmente maravilhosas, é irrelevante. Sou e vou morrer sendo um cara comum, normal e digo isso desde lá de cima, na apresentação do Blog. A diferença talvez esteja na forma de usar a minha privacidade. Eu escrevo o que quero, digo o que penso, mostro pra todo mundo e, no entanto, no fundo mesmo, ninguém me lê.

É que, ironicamente, deixo sempre o livro da minha vida aberto, mas na página que eu escolhi.

Deixem-me, pois, em paz, brincar um pouco de Pitigrili:

“Basta ser humano que já merece atenuantes!” 

Mas que irrita, irrita. Eu sei.

2 comentários:

  1. Serginho, que historia fantastica!!!!
    Vc conseguiu desmascarar o cara com a maior presenca de espirito, elegancia... Vc foi rapido no gatilho, sem derramamento de sangue rsrsrsrs Maravilhoso o seu post!!!

    PS: desculpa a falta de acentos, pois estou usando o meu notebook com teclado americano.

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  2. O meu comentario se refere ao "Jogo de palavras?".
    bjssss

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