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Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil
Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

"EU NÃO TENHO MAIS CABEÇA PRA ISSO"

Ainda com alguma dor, principalmente ao acordar, eu vim ao Rio, como disse no post anterior, para resolver problemas de ordem pessoal - e que problemas!!!


Como sempre, vim pra casa da Chris, minha amiga de fé, minha irmã camarada, em busca de cama pra dormir, no quarto de hóspedes, que fique claro, de excelente comida, NET digital, Internet de 10 gigas e telefone à disposição.


A Chris é um caso perdido de paciência ampla, geral e irrestrita para comigo. Haja o que houver, esteja como estiver, ela conta comigo para contar com ela. Parece complicado, mas não é: ela não precisa ficar oferecendo nada, porque sabe que eu vou pedir. E peço mesmo.


Não é uma história simples de explicar, mas a resumo dizendo que ela está namorando, eu também estou, são namorados distintos, mas que respeitam e admiram essa nossa cumplicidade ímpar e prima.


Faz tempo que eu não conseguia dormir direito. Muito tempo. E hoje a rotina não se interrompeu. Às seis e meia da manhã, lá estava eu, de pé, mancando, gemendo e partindo, sem fazer barulho, para a cozinha, em busca de antiinflamatório e analgésico. Pelo andar da carruagem, essa história não tem mesmo data pra acabar.


Tomei os remédios, liguei o rádio na CBN, deitei novamente e tentei repegar no sono. Consegui. Bati e fui como uma pedra, até quase uma da tarde. Ao levantar, novamente com a perna dolorida, fui, de novo, à cozinha e tomei mais dois analgésicos. Sentei-me à mesa da copa e degustei um mega copo de Coca Zero bem gelada. A Chris estava falando ao telefone, com alguém do financeiro da NET, tentando entender o porque de uma cobrança duplicada no seu extrato. Eu me mantive calado, mas ouvindo a conversa.


A Christina nasceu para fazer auditoria, investigação policial, ser detetive particular ou promotora pública. Vá gostar de detalhes e de entrelinhas assim lá no inferno. Ela tem sempre à frente, quando conversa ao telefone, uma folha de papel sinistra, uma caneta na mão, para anotar tim por tim de tudo que lhe é dito, incluindo a hora do pronunciamento e a relevância do contexto.


Não é à toa que bancos, armazéns, vídeo locadoras, administradoras de cartões de crédito, companhias aéreas, quitandas, funerárias, lojas de eletrodomésticos, amigos e amigas sempre sabem quando é ela quem liga. E mais, se tiver identificador de chamadas, eles já atendem dizendo "pois não, Dona Christina, em que posso servi-la?...", mas na verdade eles querem dizer: "o que foi desta vez?"


Enfim, eu ainda em silêncio, passava uma pastinha sobre uma das faces de uma torrada e nada do telefonema acabar. Ela ensinava a moça da NET a fazer corretamente o trabalho que estava fazendo mal feito, refazia contas encontrando os erros de cálculo da atendente e dava as instruções necessárias para que a moça pudesse resolver o problema dela.


E o pior é que ela está sempre com a razão.


O que me intriga na Chris é a saúde dela para ainda se importar com todos estes detalhes que enchem o saco de qualquer cristão. Mas ela tem tudo arquivado, em pastinhas plásticas transparentes, com divisórias classificadas por tema, assunto, data, mês, ano e agora, quem sabe, século e milênio.


Não é fácil dar qualquer resposta pra Chris. Se ela pergunta se fui ao médico para ver o problema da coluna, ela própria se antecipa e presume que vou dizer que sim. Não, exatamente, que ela acredite que eu tenha ido mesmo, mas é só para emendar as perguntas seguintes: em que hospital você foi? Quando? O nome do médico? O que ele disse? Não pediu radiografias? Não adianta. Ela checa tudo, data, hora e se eu disse algo que não confere, ela sabe. E conclui: "ué, mas você disse que foi ao hospital no dia tal e agora está dizendo que foi no dia anterior. como, se no dia anterior ainda não estava doendo?".


E eu digo que sim, que estava doendo e muito, mas ela rebate e diz que não, porque o dia anterior foi dia tal e nos falamos pr telefone e eu não disse nada.


Ai de mim, se eu errar qualquer informação previamente dada.


Ela sabe tudo sobre tudo, principalmente tudo que não tem, aparentemente, a menor importância, mas que tem a maior importância, quando chega pra mim uma cobrança judicial, uma citação, qualquer coisa que eu tenha deixado pra lá, há mais ou menos uma década.


A Christina, por exemplo, conhece todos os princípios ativos de todos os remédios do ocidente, o mapeamento biológico do ser humano, dos vegetais, dos minerais e até dos cadáveres enterrados entre os anos x e y. A Chris não é fácil mesmo.


Cansado de ficar calado ouvindo um monólogo sem fim, mas ainda não devidamente alimentado, por curiosidade, perguntei de qual das duas pastinhas ela gostava mais, para que eu a guardasse pra ela e comesse da outra.


Foi o bastante para ela interromper o papo com a moça da NET, virar-se pra mim e dizer: "espera aí, eu não tenho mais cabeça para prestar atenção aqui e na sua pergunta".


Ia soltar uma gargalhada, mas em respeito à moça da NET, ri baixinho e logo voltei ao silêncio.


Quando, depois de resolver tudo, ela desligou veio falar comigo, perguntando o que eu tinha dito.


Eu respondi que não sabia, porque não tinha mais cabeça pra lembrar. Ambos mudamos de assunto, ficou  dito pelo não dito e ninguém se aborreceu.


Essa é a Christina, doente de pedra, mas gente finíssima e dona de um menininho de 25 anos, novinho em folha, que ela chama de Bebê.

Um comentário:

  1. Olha, me encantei de cara com a Cris. Como é maravilhoso poder ter uma amiga assim , Sérgio. Me deu vontade de conhecê-la também e de "varar a madrugada" falando sobre nossos "bebês" de vinte, vinte e poucos anos; sou dessas "mãezonas" que acredita que eles são eternamente dependentes, assim como os maridos. E, além disso, gostaria de poder me informar melhor sobre como ela consegue ser tão habilidosa com os operadores de telemarketing, pois eu já desisti deles de vez. Amei seu blog...amei a Cris!! bjs da Liège (Liu)

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