Este perfil vale para o Ferro De Bog Blog e para O Caramelo Azul

Minha foto
Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil
Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

terça-feira, 13 de julho de 2010

INTIMIDADE É TUDO

Conheci o Maestro Paulo Moura, na Raven10, apresentado por Marcos Saboya, então meu sócio, mentor e 'proprietário'. Acompanhei sua carreira ao longo de boa parte da minha vida e jamais tinha visto, lido ou ouvido alguém chamá-lo de "Paulinho" Moura. Não que não fosse possível, mas improvável. A mim, me soa como chamar Egberto de "Egbertinho" Gismonti. Pois bem, só hoje já li isso umas 3 vezes. Intimidade é tudo.


Paulo Moura foi um cidadão low-profile, um músico low-profile, um exemplo do que é ser realmente low-profile. Escrever algo sobre ele é pretensão e desnecessidade, posto que o mestre descansou e sua ficha técnica está em todos os jornais e revistas. Sobre ele, portanto, falarei apenas de uma experiência que tive, na já citada Raven10.


Eu era sócio de um cara diferente de tudo e todos os caras que eu conheci na vida. Nosso primeiro encontro, lembro-me perfeitamente, foi na casa do Jardim Botânico, de propriedade de um outro cara incomum, hoje um dos meus melhores amigos, Ariosto. Lá funcionava uma agência de publicidade chamada Pixel. E pra lá eu rumei para integrar uma equipe contratada para redesenhar e planejar o relançamento de um importante e famoso jornal carioca.


Eu era o cara da criação, a Bia Medina, grande e querida Bia - por onde anda você? - a responsável pelo planejamento de mídia e o Marcos Saboya era o cara do atendimento, talvez o agregador de todos nós, não sei. Sei apenas que terminada uma de nossas reuniões, ele se dirigiu a mim e disse que adoraria me contratar para trabalhar com ele, não fosse eu, um profissional muito caro.


Nada. Esse é o Marcos. Sempre galanteador, sempre oportuno nos elogios entrincheirados por trás das estratégias.


Conversamos bastante e ficamos de nos ver num futuro próximo. E aconteceu. Numa tarde de 93 ou 4, não lembro exatamente, ele parou o carro na Rua Henrique Fleiuss, onde eu morava, subiu e passamos a tarde planejando o futuro.


Dali surgiu a Raven, uma agência heterodoxa e promissora que viria a decolar como um foguete, permanecendo em órbita, sob o nosso comando por um bom tempo.


Para o Marcos, por mais que ele evitasse dizer e até escondesse, eu era um cara mais interessante pelo que criava e fazia fora das quatro linhas da propaganda do que dentro dela. Ele curtia o fato de eu conhecer gente culta, inteligente, andar com artistas de altíssimo nível, trabalhar em rádio e coisa e tal. Mas sabia que eu tinha boas idéias, bons textos e que nossa sociedade tinha tudo para dar certo.


Pois fiquem sabendo que eu achava exatamente a mesma coisa a respeito dele. O Marcos sempre foi tão irônico quanto eu, mas era muito mais agressivo. Não no aspecto físico, mas no empreendedor. Ele mirava na lua e no dia seguinte entregavam o tal foguete na porta da agência. Então ele dizia: "Vamos, Serginho, vamos. Vamos arrebentar!"


E a gente foi. Foi entrando, pelas mãos dele, no mercado financeiro, criando peças gráficas, Annual Reports e coisa e tal, enquanto eu ia vendo que o grande barato era o mercado digital. Colocar os bancos de investimento, principalmente, na WEB, ia ser o nosso pulo do gato. E foi.


A agência passou a ter um perfil absolutamente severo, como exigiam os presidentes e diretores dos bancos. Em pouco tempo estávamos com a cara no mundo, fazendo Internet Bank, Asset Management, E-Broker e outros produtos até para bancos norte-americanos. Mas a gente não mudou nada.


Lá na Raven sempre entraram e saíram músicos, artistas, fotógrafos, pintores, cineastas, radialistas, intelectuais e malucos de todo tipo, sem a menor cerimônia. E, só para lembrar de alguns, vou citar três ícones, que me marcaram muito: Waly Salomão, Arthur Omar e Paulo Moura.


Waly foi um verdadeiro sonho de consumo. Figura doce, mágica, capaz de transformar qualquer palavra em poesia, mesmo calado. Passamos umas três ou quatro tardes juntos conversando sobre arte, literatura, música e poesia. Acho que o objetivo de toda essa conversa era a criação de um site-objeto, que sem querer, querendo, já antecipava o nascimento da WEB 2.0. Não lembro exatamente, mas me vêem flashs sobre algo muito interativo, capaz de realizar com uns dez anos de antecedência, o que o "portmanteau" PROSUMER viria a definir como produtor e consumidor do conteúdo digital, ao mesmo tempo.


Já Arthur Omar foi um choque. O cara parecia um trator entrando pela agência, meio mal-encarado, com seus livros enormes debaixo do braço e sua mala de fotógrafo 24 horas. Arthur era um cara bem menos acessível. Enquanto falava, andava o tempo todo, olhando pela janela, para o abstrato ou, às vezes, para o Marcos. Ele pouco desviava o olhar para mim. Ainda assim, com certa habilidade, consegui me inserir no papo e acabei aprendendo muito sobre fotografia p&b, mas fundamentalmente sobre realidade humana, sobre o mundo-cão e sobre a crueza de sua obra fotográfica. Hoje, além de colecionador dos seus trabalhos, sou fã de sua ótica estética, dura, mesmo quando há doçura e ternura nos rostos fotografados.


E, finalmente, mas nem um pouco menos importante, Paulo Moura.


Certa tarde, estava eu em minha pequena sala de trabalho, quando o Marcos chegou trazendo pelo braço o grande mestre. Olhou pra mim, como sempre, entre o sarcástico e o desafiador e me expôs a uma situação, no mínimo incômoda, não fosse eu, claro, o Serginho das candongas. E imagino que ele soubesse disso.


Disse ele: "Conhece esse cara aqui? Quem é ele? De qual formação da Banda Black-Rio ele fez parte?"


Eu olhei para o grande Paulo Moura, sorri e fui por partes, com mandava o figurino no momento.


"Em primeiro lugar, deixe-me abraçá-lo pela segunda vez, já que a primeira foi em meio a um breve intervalo, por volta de 1969 ou 70, em um estúdio da gravadora Equipe e o senhor gravava um LP do Hepteto Paulo Moura".


Os olhos dele brilharam e ele arremeteu: "Mas você era uma criança..."


"Sim, eu era uma criança, que já ouvia música 24 horas por dia e era muito amigo do Marcio Montarroyos e do Claudio Caribé. Foi o Marcio quem me levou, eu tinha 14 anos de idade".


Mas não deixei o Marcos e nem ele tomarem a palavra, já que ainda havia respostas para dar. Segui em frente e dei-lhe um afetuoso abraço. Paulo Moura estava interessado em conversar comigo, saber se eu era músico também, mas nada disso vem ao caso. Falamos sobre a entrada do Robertinho Silva (este sempre foi chamado de Robertinho por todo mundo) no Hepteto e finalmente olhei para o Marcos e disse: "este aqui jamais tocou com a Black Rio. Neste período ele trabalhou como clarinetista no teatro Municipal e depois viajou o mundo com sua música".


Pronto. Eu nada mais tinha a dizer, e passei o resto daquela tarde ouvindo histórias incríveis sobre festivais na Nigéria, no Japão, na França, sobre a própria Black-Rio (da qual ele realmente não participou) e seu fundador Oberdan Magalhães. E foi assim até o cair da tarde quando finda a reunião de "negócios" com o Marcos, sua mulher apareceu e o chamou para ir embora.


Depois disso, ou talvez antes disso, lembro de um concerto espetacular que reuniu, além dele, Artur Moreira Lima, Elomar e Heraldo do Monte. Simplesmente fantástico o encontro, mas não me recordo do local.


A Raven era exatamente isso, pelo menos no meu tempo, a imagem da imagem e o som do som, fora do museu.


A Raven era realmente 10'.


Mas intimidade, mesmo, eu nunca tive não.


Um comentário:

  1. Paulo Moura, 77.
    Um Artista com A maiúsculo.
    Craque da música.
    Intérprete, arranjador, compositor, Paulo Moura passeava com absoluta intimidade pelo choro, pelo jazz e pela música erudita.
    Vi/ouvi Paulo Moura dezenas de vezes, na Sala Cecilia Meirelles, no Teatro Villa Lobos (Segundas Instrumentais), na Sala Funarte / Sidney Miller, no Club 21, no Planetário, no Circo Voador, no João Caetano, no Arco da Velha, no Mistura Fina...sempre a mesma simplicidade, a mesma simpatia, a mesma paixão por seus instrumentos, sempre performances arrebatadoras.
    Paulo Moura era impecável, virtuose sem excessos.
    Mantenho em minha coleção os vinis Hepteto (1968), Quarteto (1969), Fibra (1971), Confusão Urbana, Suburbana e Rural (1976).
    O meu Pilantocracia (1971) andou sumido...espero q ele se canse de andar por aí e volte para casa...

    Paulo Veiga

    ResponderExcluir

Passaram por aqui, desde 14/12/08.