
Porque o ouvido detona o que se torna "nega", o que vira figurinha fácil no álbum dos "Titulares".
Não dá pra ouvir o "Bolero", de Ravel todos os dias. Há quem diga que ouvi-lo uma só vez já é ouvi-lo várias vezes. Eu não concordo. O "Bolero" descreve, muito além da linha melódica de uma linda canção , uma relação sexual inteira, que culmina num só orgasmo fulminante ou, se preferir o ouvinte, em dezenas de orgasmos múltiplos crescentes.
Mas não é por aí. A comparação não é essa e sim, tão somente, a minha visão emocional do "Bolero" do Maurício Ravel. Claro que sexo a gente sempre quer mais e mais e mais, embora todos os dias, ninguém agüente.
Mas, voltando à música, enquanto relaxa, ao contrário do "Bolero", digo, do sexo, quanto mais eu gosto de uma música ou de um artista, menos eu ouço.
É assim com um monte de gente e bastou eu fazer um programa de rádio, diariamente, sobre os Beatles, pra eu começar a achar que os Stones - e não os Beatles - é que eram o máximo. E ainda são. Long Life Rock'n'Roll!!!
Seguindo o raciocínio na veia, fui de encontro - e não ao encontro, please - dos dois primeiros LPs da Gal Costa. Reouvi-los é como experimentá-los pela primeira vez, desde que haja um gap de quase três décadas na parada.
Que discos "divinos e maravilhosos", que verdade, que fé, que ingenuidade, que batera, o Tuti Moreno, que coadjuvantes preciosos, Caetano e Gil.
Gal foi deixando de ser Gal, foi subindo o tom, foi perdendo o bonde, foi criando vícios e adotando péssimos produtores, até chegar aos dias de hoje.
Sinto pena da Gal, do que fizeram com ela, que nunca foi uma cantora emocionante como Elza Soares nem uma intérprete nobilíssima, como Bethania, mas Gal, uma pessoa que só queria se comunicar com um rapaz que fosse o tal.
E os LPs voltaram pra discoteca. Até 2040, pelo menos.
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