Caminhou sozinha pela orla, subiu a ladeira, contemplou o museu, pensou no que a rodeava e refletiu-se nas águas da baía agitada.
O celular, mudo, em cima da penteadeira estrebuchava no vibra-call e nada. Apenas a carteirinha.
Do outro lado, de pé na calçada, entre lençóis e velas esticadas, eu me dispunha a a observar e a repensar tudo. Do mármore encardido do casamento morto, ao espancamento das idéias fúteis de um tempo que passou.
O Rock'n'Roll morreu ali. Na esquina do impróprio com o impreciso.
... e Lane Player acordou.
Lamentava o frio ar condicionado que lhe congelava os tornozelos finos e sensíveis. Nenhuma sombra. Nada de espaços livres. Deus estava ali, sob a forma de canção, a sussurrar-lhe os versos de uma oração alternativa. Olhos úmidos, marejados pelo ar marinho do cais e uma vontade louca de mudar o que é possível.
Os capitães e seus navios decolavam a cada minuto, rumo ao mar da solidão. E nada mais ali terra firme já era. Nada parecia o lastro da vida inteira, despejada no ralo das frustrações.
Mas, se o sonho não cabe na ponta do dedo e marcá-lo com um X pode parecer vão, principalmente quando a palma da mão esconde o verdadeiro rubi é melhor acordar.
Passa o tempo. Lane Player retorna.
Caminhante compulsiva e ardente, corpo longelíneo e magro, pensamentos fugidios e não lineares. O que mais interessa, a não ser a pequena carteira de identidade e uma gota de suor que desce pela fronte clara como a neve dos montes do Japão?
O caminho de volta tem pipoqueiro, algodoeiro doce, baleiro e camelô.
Lane Player não se atrapalha e desvia do tempo com a precisão de um albatroz.
Ao chegar em casa, sobre a penteadeira, o celular já não vibra mais.
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