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Petrópolis, Rio de Janeiro, Brazil
Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

domingo, 13 de janeiro de 2008

POR FAVOR, ME LIGA? PRECISO FALAR COM VOCÊ.

"Eu precisava muito falar com você. Liguei para a sua casa, deixei vários recados na secretária eletrônica; deixei outros tantos no celular; enviei torpedos e scraps no Orkut. E-mails? Perdi a conta. Seu MSN parece manter-se bloqueado, por causa daquela briga que tivemos há 4 ou 5 dias".

A comunicação - ou a ausência dela - depois da internet e do celular tornou-se, ao contrário do que insistem em dizer por aí, muito mais pessoal e intransferível do que sempre.

Quando compramos uma Coca-Cola sem gas ou uma caneta Bic que não escreve, seja pelo SAC, seja pela internet, se realmente quisermos, chegaremos lá e diremos exatamente a quem de direito o que nos aflige. No tempo da carta e do telegrama, a desculpa mais fácil era a mais popular também: não vi, não chegou, não recebi. E nas ante-salas dos executivos mais importantes das empresas mais intransponíveis, lá sempre estavam as figuras da Secretária e do Assessor.

"Ele não está, no momento".

Não dá pra se fingir de morto. Se eu mando um scrap e você aparece online é claro que leu. E aí então, passamos para a fase dois do processo: li, mas não quis responder.

Nas velhas e dinossáuricas gravadoras isso acontecia a toda hora. O artista anônimo chegava com seu materialzinho debaixo do braço, metido num envelope, raramente com um cartão de apresentação e era barrado na porta: "Deseja falar com quem? Pode deixar comigo, eu entrego a ele."

Pura sacanagem. Puro abuso de poder, geralmente exercido por quem, exatamente, não tem poder algum. "Isto são ordis".

E as fitinhas cassettes se empilhavam no canto da sala de produção, sem nunca chegarem aos ouvidos do produtor.

O sucesso da Rádio Fluminense foi exatamente esse, ou seja, fazer isso ao contrário. A gente recebia, fosse o que fosse, ouvia à exaustão e se tivesse um mínimo de chances de tocar, tocava. Assim os Paralamas assinaram com a EMI: tocando Vital E Sua Moto, em fita cassette encartuchada, na Maldita.

Ninguém é obrigado a atender todo mundo.

Certa vez eu precisava pedir uma opinião profissional ao Nizan Guanaes, então executivo e criativo da DM9. Liguei do Rio pra São Paulo e atendeu uma paulistana daquelas de "is" por todos os fonemas. "No momeiiiiiiiiiinto ele não se encontra".
Deixei uns 15 recados e ele nunca me retornou.

Passaram-se os anos e nos cruzamos num show aqui no Rio. Ele abriu os braços e gritou para a minha - então - mulher: "você é uma mulher de muita sorte. Estar com uma das maiores inteligências do Brasil é um privilégio!".

E se ele não tiver Orkut ou se alguém, que tenha, o conhecer, pode contar exatamente o que leu aqui.

Ele irá confirmar.

Olhei pra ele e disse que ele era um bom canalha. Que eu o procurara - não para pedir emprego - mas como amigo que fomos durante anos, de dia-a-dia, na Artplan, e que ele nunca respondera.

"Vou demitir aquela mulher, quando voltar amanhã cedo".

Vai nada.

Cascata pura. É 'ordis' e 'ordis são ordis'.

Aliás, era.

Hoje, a gente pega o E-mail do cara, escreve pra ele, diz o que tem que dizer, cerca por outros meios e não tem desculpa. A pessoa pode não responder, não dar o ar da graça ou simplesmente ignorar.

Mas que leu, leu.

O mundo, redondo como ainda está, costuma rolar diante do próprio eixo.

Um eixo empenado, é verdade, mas ainda um eixo.

E nessas voltas que o mundo dá, muita coisa se mexe, se desarruma.

E mesmo que quem esteja em cima raramente venha pra baixo, já vi, muitas vezes, quem tava embaixo, chegar ao topo num piscar de olhos.

E aí... "Se precisar / faça um sinal / talvez eu pare...

Quer um conselho? Não deixe sem resposta quem está atrás de você.

Pode ser uma surpresa agradável e o seu dar de ombros pode mudar o seu próprio destino. Tenho um grande amigo, Antonio Carlos Harres - o Bola. Juntos, já fizemos do bom e do melhor: de palestras de astrologia à reveillon na Lagoa; de gravação dos EltonJohns, em Nogueira à Revolução Solar do meu mapa. Ele é um cara super ocupado, que vive emprestando seu tempo pessoal ao estudo da vida de cada cliente. E nunca deixou de retornar uma única ligação. É verdade ou não é, meu Capitão?

Um comentário:

  1. Xii..Sérgio que crônica bacana! Que situações típicas e atuais vc descreveu. Isso ainda acontece muito. Nesse processo de tentar publicar o meu livro "Albatroz", bati em muitas portas de editora e a maioria absoluta nem respondeu ao e-mail. Inclusive a transadinha e contraculturalista Editora Conrad, lá de São Paulo. O dono leu? Claro que leu! Mas ignorou, assim como o cara da Ediouro etc.etc. Mas o livro sai independente...Eles não podem deter a primavera como disse el Che!!
    Trocando figurinhas com a Fernanda Young, descobrimos que essa turma que não responde e-mail, que prefere o silêncio covarde, é a tribo do NADA!!! Mil vezes a turma do NÃO! do que a tribo do nada, vc não acha? O Não é infinitamente mais digno.

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