
Não estou aqui, desta vez, para discutir números, valores, formatos nem culturas.
Caetano, como o Milton Nascimento, Beto Guedes e outros signos da chamada MPB, nunca foi um best-seller. Mas chegou a vender 1 milhão de cópias, se não me engano com "Fina Estampa" e a sua média de vendas gira em torno de 200 mil discos, no conjunto da obra.
O significado destes 10.000 discos é muito pior do que parece, porque transcende aos aspectos econômicos e bate na casa do desrespeito ao artista porque, ao mesmo tempo, continuam a ser lançadas coletâneas e mais coletâneas dos mesmos artistas e com tiragens infinitamente maiores.
A crise é moral. Ou imoral, se você preferir.
Acabaram-se as lojas de discos. Sim, acabaram-se. E daí?
A crise é moral. Ou imoral, se você preferir.
Acabaram-se as lojas de discos. Sim, acabaram-se. E daí?
Desde a primeira vez que pisei em solo americano, isso foi em 73, achar uma loja de discos era uma tarefa estafante. encontrei umas 3 ou 4 no Village, umas 5 ou 6 em Los Angeles, outras 4 ou 5 em San Fracisco, todas altamente segmentadas. As de Manhattan vendiam blues e jazz, as de LA, os piratas que ora surgiam e coisas alternativas; e as de Francisco, a psicodelia restante da California que não iam muito para o leste, como Albert Hammond e cupinchas.
As lojas de departamento, as mega-store já davam as cartas e eram as responsáveis pelo boom das paradas de sucesso. Aqui demorou, mas aconteceu o mesmo e hoje os discos estão nas Americanas da vida. Isso não quer dizer que o disco teria que acabar. Mas acabou mesmo.
Desde o início dos anos 90 falávamos, debatíamos, discutíamos sobre os caminhos que a indústria estava tomando, com a "ascensão" de diretores artísticos jabaseiros e de divulgadores desonestos aos cargos diretivos das 'majors'.
Tiraram quem gostava de música e puseram quem gostava só de dinheiro. dizer agora que o jabá matou o catálogo é chover no molhado, mas o fato que os "artistas da hora" foram sendo guindados ao sucesso, sem que o tal sucesso fosse necessariamente real.
"Ursinho Blau Blau" é o exemplo clássico. vieram os "RPM" e outras mentiras com o aval das "Presidências" que se encarregaram de defuntar os artistas sérios. Peter Gabriel, Brian Eno, Laurie Anderson, Peter Hammill, no Brasil, já nasceriam mortos.
Os Mutantes, Raul Seixas, Jorge Mautner, Tom Zé, pra citar uns poucos, só existiram porque lá em cima, nos cargos executivos havia gente com veio artístico, antenada, aberta e sensível à arte. E não só ao dinheiro. Quantos LPs venderam "Os Brazões"?
Ok, não vou ser mais prolixo do que o preciso. A mídia digital - entenda-se a pirataria - só ganhou a importância que tem, porque mexeu nos bolsos desses dirigentes, que transformaram 'tour-support' em jabá.
Eu viro meu canhão para o outro lado. não acho mais que o CD, o vinil, a mídia física em geral, vão desaparecer para sempre. Mas concordo que no momento inexistem. Meu instinto aponta para um reposicionamento destes produtos, não mais como commodities, mas como itens de coleção. Claro que não vão vender mais 30 milhões de cópias, mas também não existirão mais os fenômenos de massa do tipo Madonna, Michael Jackson, Beatles, Stones, La Mole etc.
Serão todos como Radioheads e Coldplays.
Isso só vai depender do velho e sagrado PREÇO.
Não consigo imaginar artistas cuidando de negócios, controlando royalties online ou num escritório. As gravadoras, reformuladas e guiadas por quem tem este dom e este prazer, farão isso, além de agendar shows, negociar contratos de imagem etc.
A pirataria só precisa ser desmoralizada. Com o rabo da cauda longa, para ser mais exato. Não há rentabilidade para a pirataria, quando o volume se dilui entre milhares de títulos.
A pirataria seria facilmente desmoralizada e vencida com preços razoáveis.
As mídias continuam sendo boas, não há como compará-las aos melhores MPs, por mais altos que sejam os bit-rates.
Quem compra CD pirata por um preço pouco menor que o de um CD original, pode apostar, já achava ótimo o som do cassette.
Recebi por E-mail, uma juke-box virtual, com incríveis mais de 1000 músicas que vão de 1950 a 1989. Ouvi 4 ou 5 delas e não agüentei ouvir o resto, embora os títulos sejam do arco da velhinha.
Repassei o E-mail pra Virgínia.
Desde então, ela não dorme, não faz mais nada a não ser escutar aquelas jóias totalmente oxidadas.
Então eu disse a ela: "Faz uma relação do que você quer e eu devo ter a maior parte".
E ela respondeu: "eu ouço a música e não o som".
Enfim, ela deve ter passado a vida ouvindo o wow e o flutter daquelas Basf C-60 cansadas.
Tequila Evaporada! Chuva Forte!
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