Sinceramente, mesmo sabendo que o que não sei não é novidade alguma, continuo sem entender direito que lógica norteou a escolha do vigésimo quinto dia, do décimo segundo mês de um ano que não existia, para celebrar o nascimento do Menino Jesus.

Já, quem é Deus(?) é uma outra história e, talvez, uma outra fogueira.
Vou, portanto, ficar com a interessante definição de Raul Seixas: "Deus é aquilo que me falta para eu compreender o que eu não compreendo".
Tá de bom tamanho, até porque compreendo nada, absolutamente nada de nada, e isso me deixa à vontade para dizer que Deus é tudo.
Voltando a esse calendário maluco (é o Gregoriano, não?) que divide a idade do planeta em AC e DC (não confundir com a banda australiana nem com as possibilidades elétricas), continuo intrigado com isso: como pode ter nascido Jesus, em 25 de dezembro do ano 0, se o ano 0 só passou a existir a partir do seu nascimento?
Ao perguntar a um irmão marista se 25 de dezembro era sinônimo de 1º janeiro, fui expulso de uma aula de religião, no Colégio São José da Tijuca, e permaneço sem resposta.
Muito bem. Na real, em 2009, minha família, no plano ascendente, praticamente acabou. Co-lateralmente falando, tenho um primo-irmão, o Nico, que adoro e admiro, mas que quase não encontro; mais um ou outro parente afastado ou distante, pelo tempo e pelo espaço e mais nada.
Agora somos eu e o Victor.
Absolutamente normal. Nada de errado com isso, que faz parte da ordem natural das coisas, mas que, também, não me impede de lembrar que, desde que me entendo por gente, o Natal sempre foi a grande festa do ano na casa de meus pais. Mesmo muito depois que me casei pela primeira, pela segunda e pela terceira vezes continuou sendo.
Na noite do 24, a porta do ap. 602, do Edifício Guatupy, na Av. Engenheiro Richard, 269 era literalmente retirada para consumar a idéia de "Open House". Por lá a galera circulava livremente, desde a tarde da véspera até a manhã do dia de Natal, quando minha mãe, invariavelmente, voltava pra cozinha e preparava o café da manhã para aquela gente toda: amigos de infância, namoradas, noivas de amigos, amigos de amigos, familiares e parentes.
O ponto alto e solene da festa era uma curta cerimônia, que se repetiu por mais 120 anos: à meia-noite, minha mãe orava e deitava o "Menino Jesus" na caminha de jacarandá, com lençol e travesseiro de cetim, zero quilômetro, feitos à mão. Era uma tradição da família Magalhães.
Com sua morte, em março do ano 2000 - a dela e não a do Menino Jesus, óbvio - eu avisei ao meu pai que não continuaria com a tradição, porque sem ela não fazia sentido. Além do mais, confesso, não sou muito muito chegado a rituais. Até fui, por um tempo, mas não mais e até escrevi uma canção que dizia assim:
"Meu tempos agora são outros
Mais loucos, certamente
Tempos de quem planta sementes
Muito mais interessantes
Meus tempos, agora,
Não como antes, de fato,
São tempos de artesanato,
De fazer comida, de lavar o prato.
São tempos de silêncio contrito
Sem rituais, sem stress,
Sem ter que chegar, antes que comece
São tempos de "nunca mais"
Não mais os tempos distantes
Meus tempos já não são de quem jaz
E, apesar deste vento cortante,
Meus novos tempos me trazem a paz.
São tempos de coser, de refogar,
Tempos de assar e de refazer
Tempos de orar, de crescer
Tempos de recomeçar
Sem rituais, sem stress,
Sem ter que chegar, antes que comece..."
Enfim, vida que segue e a gente vai remando a favor da corrente, na boa.
Desejo a todos um Feliz Natal - sem rituais, sem stress, e sem ter que chegar, antes que comece.
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