Especulando aqui e ali, o que considero saudável às minhas conexões neurais e ao alargamento do debate sobre a língua que falamos - ou que tentamos falar com alguma correção -, passei a brincar com os significados de "satisfação".
Em princípio, me pareceu que a palavra designa a obtenção do quanto me basta, seja lá o que for. Exatamente como o significado de "bastante" Estranho, não? Pois é. É estranho mesmo, mas o vocábulo está - ou deve estar - ligado à quantidade. Quantidade de que? De qualquer coisa.
Não por acaso, o brocado latino "quantum satis" significa, senão a mesma coisa, algo bem próximo. E assim, sem algemas e sem gessos fui adiante. "Não, obrigado. É o bastante. Estou satisfeito".
"Satisfação" me pareceu, de repente, algo bastante diverso de uma explosão de alegria ou uma enorme honra, ao cumprimentar alguém. "Satisfação, Sergio Vasconcellos". "Satisfação" é o tipo da palavra que acho que ninguém usa quando acaba de beber um copo com água, depois de ter estado sedento por um bom tempo. "É uma satisfação ter podido beber este copo com água, depois de tamanha sede".
Cheguei a achar que eu não ando bem da cabeça, mas como ainda não estava "satisfeito" o "bastante" para mudar o pensamento, prossegui em busca de um entendimento mais lateral. E não é que aí a coisa se complicou ainda mais?
Vejam só: "Você sabe que horas são? Isto são horas de você chegar em casa?" "Não lhe devo "satisfações", me deixe em paz." Acho que você já ouviu esta frase, não é verdade? Pois é. Neste caso, ou a gente abandona a idéia do mínimo necessário para considerar o bastante ou abre mão de se estar satisfeito, sob a ótica da alegria.
A saída foi partir para um outro significado e o pior, ao meu ver: o da submissão.
A impressão que tive é a de que se você me deve qualquer tipo de "satisfação" é porque você está ou se sente, por algum motivo inadmissível, submissa a mim. Mas eu não creio que submissão seja uma palavra adequada a nenhuma circunstância, nem mesmo dentro de um sistema hierárquico.
Você até pode ser, eventualmente, subordinado a alguém, de alguma forma, em uma estrutura hierárquica - o que já é horrível. Mas não submisso. Submisso, jamais.
Conversávamos em relação ao fato de que ela ia sair hoje a noite com amigos. Eu até, por curiosidade, em se tratando de Niterói, cidade onde praticamente morei nos últimos anos, perguntei onde iam. Mas percebi que ela imediatamente se sentiu como se tivesse que me dar algum tipo de satisfação.
"Vou sair com um casal de amigos, vamos a um bar com música ao vivo, no Gragoatá, depois vou levá-los em casa e aproveitar que é mais perto e dormir na casa da minha mãe. Mas fique tranqüilo, eu sei o que devo e o que não devo fazer...".
"Mas você não tem que me dar satisfação alguma sobre onde vai, com quem vai, o que vai fazer...".
Mas ela insistiu e disse que sim, que achava que o correto era me dar uma satisfação.
Engraçado, porque a "satisfação" que ela me deu não se enquadrava em nenhuma das definições anteriores, a não ser a tal da submissão. Não era o "bastante" para que eu ficasse feliz ou infeliz pelo fato de ela estar saindo com os amigos; também não era o "necessário" para que eu a considerasse uma pessoa melhor ou pior. Pareceu um tipo de "satisfação" mais traumática, quem sabe ainda herança de um ex-casamento?
Satisfação? Não precisa me dar. Não quero não, "obrigado".
"Obrigado?"
Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, isso é palavra para um próximo post.
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