O Amaury me ligou exatamente quando eu tinha certeza de que ele não ia me ligar. Não por desprezo, ao contrário, por respeito. O Amaury é um amigo profundo, daqueles que, eu, apesar de ter muitos, tenho poucos. O Amaury é o cara – eu conversava sobre ele com a Christina, que é uma amiga profunda, daquelas que, eu, apesar de ter muitas, tenho poucas – mais próximos de Deus que eu conheço, porque ele não fala, não contesta, não impõe nem expõe, exatamente como eu acho que Deus faz. E por isso, só por isso – e não por descaso – eu achei que o Amaury não fosse me ligar mesmo. Mas ele contrariou tudo, me deixou espantado, boquiaberto... e ligou. Fácil de explicar. O Amaury é daqueles amigos que ligam uma vez, duas, três, no máximo. Daquele tipo que enxerga longe, percebe, sabe quando o amigo precisa dele e quando o amigo dele precisa dele, mas precisa, acima de tudo, ficar quieto, sozinho, isolado, até dos amigos mais profundos como o Amaury. Eu achei que ele não ligaria, porque entrei no Orkut e ele tava lá, online, com aquele semblante magro, depois de um semblante tão gordo. O Amaury, hoje, é um amigo magro. Melhor pra ele. Mas, como eu ia dizendo, ele estava lá, quieto, parado, na foto do avatar. Então pensei: o Amaury não vai mais ligar, porque já ligou e eu to sempre “não posso”, “agora não dá”, “te ligo daqui a 5 minutos” e ele não é daqueles que ficam: “mas o que é você tem?”, “ta precisando de alguma coisa?”, “posso te ajudar?”... Esse sou eu. O Amaury, não.
Virei de lado, destorci a tampa, bebi um gole da Coca-Zero quente, pelo gargalo, ajeitei o pigarro e pensei: preciso ligar pro Amaury? Mas, como? Eu não preciso ligar para o Amaury e nem ele precisa que eu ligue. Então ta, quando der vontade...trim...trim... era ele.
O Amaury ta sempre equilibrado, sempre tem algum dinheiro no bolso, sempre perfumado, bem vestido, sorriso largo, simpático, gentil, familiar. O Amaury é o tipo do cara familiar. É tão meu amigo quanto era amigo da minha mãe. É amigão do meu pai, da Virgínia, da Christina, do César, até do Ed, que eu nem sabia se ia lembrar, ele lembrou e deu detalhes.
Conversamos um pouco, não muito. Marcamos para amanhã um outro telefone, esse então pra marcar a hora de ele passar aqui, pra gente ir juntos, visitar um outro amigo que está numa UTI.
O Amaury é Flamengo. Não poderia ser outra coisa. Um cara como ele, não conseguiria se adaptar ao Botafogo, ao Fluminense, muito menos ao Vasco. O Amaury é como a Christina: Flamengo profundo. Aliás, vale aqui uma ilustração: quem é flamenguista não é Flamengo. Porque ista é sufixo de vagabundo, desinente de coisa ruim: punguista, vigarista, petista, lulista.
E por falar em Lula, vocês já viram a entrevista do Vereza que foi censurada, no Programa do José Soares? Se não viram, vou colocá-la no meu Orkut, para que vejam. Aí dá pra entender porque o programa é o que é.
No mais, tá tudo bem. O Amaury tá feliz pra caramba e eu to feliz pra caramba, porque o Amaury tá feliz pra caramba.
Quem é o Amaury? Você não conhece o Amaury?Isso é um problema: um problema seu.
Chuva Forte!
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