
Mas minha vontade é abandonar tudo, dar às costas, deixar pra lá, ignorar, desistir, não pensar, não lembrar, não querer e, simplesmente, esquecer: "quem iria entender?", como pergunto na letra de GIM.
Mas, como está escrito, o sentimento ignora tudo, bypassa a razão, a posição da lua no Mapa e só quer "resultados". Sou como os fundos de investimentos: um administrador dos recursos de terceiros. Só que, aqui, nesse caso, o terceiro sou eu.
Aliás, sou o único que não decide nada. Quando o sentimento toma corpo na alma da gente, e não importa se é de paixão, amor, ódio ou preguiça, cria a tal da inércia, que impede a gente de decidir o que vai fazer agora, nos próximos 45 dias.
O desejo é sedutor.
A vontade é cruel.
O desejo é sublime.
A vontade é física.
O sentimento é autista.
O momento é cult;
não é pop.
Não é uma esquina;
é uma encruzilhada.
O nome disso não é destino;
é roubada.
O desejo de abraçar, adotar e oferecer um colo, mesmo deixando de lado "os fins lucrativos", vai de encontro à vontade de dizer: "quer mesmo se destruir?, tudo bem, faça!"
Mas, o que se passa no 'lá dentro' de uma pessoa que pensa, quando pensa que o que se passa não é lá dentro, mas aqui, em mim, no 'comigo'?
Não sei se a força do desejo é capaz de anular o ímpeto da vontade, mas sei que, lamentavelmente, não é suficiente para remover os antolhos do sentimento impregnado de uma certeza caótica.
E é engraçado, porque o que parece de mais frio existir no sentimento é exatamente o calor que o enebria, que o seduz, que o embriaga e que o deixa cego de equilíbrio.
Desequilibrado, tropeço.
Tropeçando, caio.
Caído...sinto o DESEJO de não me deixar abater e levantar, mas a VONTADE de ficar asssim, largado, como uma trouxa de roupa suja, até perder o sentido do sentimento ou até que o SENTIMENTO perca o sentido, me entorpece.
Ouço Morphine.
Super Sex.
Ouçam Morphine.
Super Sex
Sou autobiográfico, sempre fui. Não deixaria de ser agora para me escudar num personagem quixotesco que demonstra ser incapaz de lidar consigo.
O desejo me faz escrever,
a vontade quer que eu delete,
mas o sentimento me expõe mais do que ambos, por não ter nada com isso.
Não passa pela paixão,
não desemboca na relação,
não fere ética alguma,
não nomeia pessoas nem personagens.
O que escrevo sou eu,
quem escreve sou eu,
apenas eu, diante de Deus e do Diabo,
sem medo de nenhum dos dois,
porque o sentimento é indiferente agora.
Que a minha decisão seja fruto da minha escolha e não da escolha do meu sentimento. É o que mais desejo neste momento que, de tão frágil, dá vontade de sair quebrando tudo e dizendo:
danem-se os réus e as rainhas;
os vira-latas e as salamandras,
que perfumam o ar com o odor da indiferença.
Alea jacta est.
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