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Sou um homem comum, carioca, nascido em 12 de outubro de 1954, portanto, com 59 anos, 4 casamentos e até agora, nenhum funeral. Antes de tudo, sou Flamengo. Em seguida, radialista - Cidade, Fluminense, Panorama, Imprensa e (webradios) Radiovitrola e Radionavaranda. Criei, produzi e apresentei os programas Revolution, na Flu; Os Vizinhos Que Se Danem, na Panorama; Radionor Tum Tum, na Radiovitrola; e Pelo Telefone, com Carlos Savalla, na Radionavaranda. Publicitário: redator (criativo,como chamam por aí), consultor de marketing e de planejamento. Fiz parte da equipe de criação e produção do Rock in Rio I, na Artplan, Baterista, letrista, compositor, produtor, roteirista de espetáculos, diretor artístico e de shows, produtor musical e artístico. Finalmente, sou canhoto e, segundo o meu filho, um ótimo pai. Só isso me bastaria.

domingo, 23 de janeiro de 2011

"HOW TO SING THE BLUES"

Digamos assim: metade deste texto é meu e a outra metade não. Lá se vão uns vinte anos, por baixo, e deparou-se-me este interessante punhado de palavras a descrever, com as sutilezas de um punk e com o humor de um xiita, "Como cantar Blues".

"How to sing the Blues" é um original de língua inglesa carregado com o sotaque do Sul. No meu mais recente programa - Radionor (Tum Tum Tum) decidi fincar minhas patas nas raízes do Blues e parti em busca deste velho texto. Não diriia que o traduzi, mas posso dizer, sem susto, que o adaptei, não para a língua portuguesa do Brasil, mas para a percepção do que significa ser um "Bluesman".

Quem sabe, depois desta bem-humorada leitura, músicos, cantores e artistas em geral, que, volta e meia, se auto-denominam "Bluesmen", se ligam e param com essa palhaçada?

Há que se entender, antes da leitura, no entanto, que o Blues não é um ritmo, um estilo nem um gênero musical. O Blues é simplesmente a raiz, a origem da música norte-americana. Trazido pelos escravos africanos vindos da África setentrional, mais especificamente, do Mali, desembarcado no Delta do Rio Yazoo (e não do Mississippi, como dizem), o Blues era a mais sofrida expressão de dor e sentimento de um povo escravizado e impedido, até mesmo, de usar seus dialetos como forma de comunicação.

Baseado no tempo que levavam os escravos para dar uma volta completa na roda do engenho, ou seja, 12 compassos da escala pentatônica, o Blues nasceu dividido em 3 tempos, de 4 compassos cada um, sendo os primeiros 4 compassos dedicados à pergunta ou à lamentação, os 4 seguintes à reflexão e à resignação; e os 4 últimos, à resposta.

Os gemidos do Blues eram a manifestação da dor física e emocional de cada negro africano. Era, também, como o assovio, depois substituído pela gaita, uma forma de comunicação encontrada por eles e usada como código de identificação. Saber "quem vem lá", à distância, era mais que uma curiosidade. Era uma necessidade de sobrevivência. Assim nasceu o Blues. E, porque o Blues nasceu assim, cantar Blues ou ser um "Bluesman" não é para quem quer, mas pode ser para qualquer um: que saiba, que sinta, que chore, nas notas da guitarra ou da gaita; do violão ou da voz.

Ser um "Bluesman" não é um privilégio ou uma herança exclusiva dos negros. Eric Clapton, quando não desanda a fazer e gravar bobagens; Johnny Winter, George Thorogood, Keith Richards, Carlos Michelsen e Steve Ray* são (*ou foram) alguns bons exemplos de que é possível a um branco azedo, ou não, ser um "Bluesman" de verdade.

O Blues não é música. É manifestação.

Leiam:

A maioria dos Blues começa com "acordei esta manhã."

"Eu tenho uma boa mulher" é uma péssima maneira de se começar um Blues, a menos que você diga alguma coisa extremamente desagrável sobre ela, na linha seguinte: tipo, eu tinha uma boa mulher, mas ela me trocou pelo maior canalha da cidade.

Os Blues são sempre bem simples. Depois de escrever a primeira linha, repita-a, até encontrar algo que rime.

Mais ou menos assim:

"Tive uma boa mulher que me trocou por um canalha, tive uma boa mulher que me trocou por um canalha, vou beber até amanhecer e então vou passar-lhe a navalha...

Os Blues não permitem escolhas ilimitadas.

Os carros do Blues são os Chevettes desbotados, os Santanas cansados, os Mavericks caídos e as Kombis maltrapilhas. Outros transportes aceitos pelo Blues são os ônibus (Greyhound) ou os trens.

Ser um andarilho, maltrapilho, um sem teto, um nômade, em sua própria cidade é importante para ser um Bluesman de verdade. Ele só aparece bem vestido no caixão.

Adolescentes não podem cantar o Blues. Só adultos podem cantar o Blues. É preciso ser velho o bastante para ir resignadamente para a cadeira elétrica, depois de ter passado a navalha no canalha e na ex-boa mulher. Mas, no Brasil, não há cadeiras elétricas nem cidades capazes de honrar um Blueman. É preciso ir para Memphis.

Você pode cantar Blues na cidade de Nova York, mas não no Brooklyn nem no Queens. Afinal de contas,  tempos difíceis em Vermont ou North Dakota são apenas uma fase de depressão. Chicago, St. Louis, Ann Arbor e Kansas City ainda são os melhores lugares para se ficar mal de verdade.

Agora uma lista: as seguintes cores não pertencem ao Blues: violeta, bege, malva ou flamingo.

Você não pode compor um Blues em um escritório ou em um shopping center, até porque, a iluminação estará errada. Os lugares certos para se compor os Blues são: a rodovia, a cadeia e a cama vazia.

Esqueça o terno. Ninguém vai acreditar que é um Bluesman se você usar um, a não ser que seja um Afro-Americano, já em idade avançada.

Saiba agora se você tem o direito de cantar Blues.

Se o seu primeiro nome for um estado como a Geórgia, se você é cego ou se atirou em um homem, em Memphis, você pode cantar Blues. Mas, lembre-se: você jamais poderá estar feliz e satisfeito por cantar Blues.

Agora, se você já foi cego, mas agora pode ver, se é surdo, tem um fundo de investimento qualquer ou contribui para a previdência, esqueça: você jamais poderá cantar Blues.

Por isso, Elvis Presley, Pat Boone, Frank Sinatra nem Roberto Carlos jamais puderam cantar Blues. 


Surpreendentemente, Willie Nelson pode.

Se você pede água e o seu amor lhe dá gasolina é Blues. Aliás, as bebidas do Blues são: o vinho, o whiskey irlandês e a água barrenta.  Qualquer bebida misturada, vinho branco, champagne... nada disso é Blues.

Se a morte acontece num motel barato, num barraco, com um tiro de espingarda, a morte é Blues. Apunhalado pelas costas, por um amante ciumento, também é uma forma Blues de morrer. Assim como são formas Blues de morrer, a cadeira elétrica, o abuso de substância ilícitas, ou o não atendimento na emergência de um hospital público.

Se você morre durante uma operação plástica, uma lipoaspiração, ou a aplicação de Botox, nada de Blues.

Alguns nomes Blues para as Mulheres: Sadie, Big Mama, Bessie, Bertha, Josephine, Lucille, Stella.

Alguns nomes Blues para homens Joe, Willie, Little Willie, Big Willie, Willie B. Lightning, Blackburn, Shotgun ou BB

Pessoas com nomes como Sierra, Sequoia, ou Skye jamais serão Bluesman, não importa em quantos homens tenham atirado.  Comediantes e Malabaristas devem esquecer o Blues.

Se você cumpre todas as exigências e deseja se tornar um Bluesman, por favor siga atentamente o nosso Starter Kit ou kit para iniciantes. Escolha o seu nome montando: na frente, o nome de uma enfermidade ou deficiência física, como cego, manco, asmático, maneta ou o nome de uma fruta: pode ser limão, lima, kiwi... adicione o sobrenome de um presidente da república... lá, eles adoram Jefferson, Johnson, Fillmore...

A única maneirqa de se comunicar à distância através do Blues é pelo telefone convencional. Blackberrys e iPhones não são aceitos sob nenhuma condição.

Bluesmen comem churrasco, grãos, pão de milho, feijão. Seus instrumentos são a guitarra, o Trombone de vara, o saxofone, a gaita, o contrabaixo de cordas, o piano e a bateria.

Nada de oboé, trompa, e viola, se você não quer morrer numa emboscada.

Você é um Bluesman (seja você homem ou mulher) se você tem lombalgia ou dor nas costas. Mas, se você tem qualquer tipo de distúrbio mental ou algo que se defina por "síndrome", esqueça e procure um médico.

O jogo do bicho, as corridas de cavalos, o poker, o Black Jack são jogos do bom Blues. War, Imagem & Ação, Detetive e Master, não.

Empregos Blues incluem trabalhar na ferrovia e ser demitido; na lavoura e ser demitido; na fábrica e ser demitido; ou... ser músico e estar sempre demitido.

O Blues só tem um bicho de estimação: o cão vira-lata.


Booker White - Aberdeen Mississippi Blues

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